Governo turco prende membros da revista LeMan por charge interpretada como ofensiva ao Islã e gera protestos em Istambul
Governo turco acusa publicação de desrespeitar o profeta Maomé; editor nega ofensa e diz que personagem é palestino morto em Gaza
247 - Quatro membros da equipe da revista satírica turca LeMan foram presos preventivamente após a publicação de uma charge que, segundo o governo, retrataria o profeta Maomé. A informação foi confirmada nesta quarta-feira (2) pelo ministro da Justiça da Turquia, Yilmaz Tunc. A reportagem é da France 24.
A acusação provocou forte reação pública, culminando em confrontos nas ruas de Istambul. Na noite de segunda-feira (30), centenas de pessoas se enfrentaram nos arredores de um bar frequentado por jornalistas da revista, localizado no bairro de Istiklal. O local foi atacado por grupos irritados com a publicação. A confusão envolveu cerca de 300 pessoas e se transformou em uma batalha campal entre apoiadores da revista e manifestantes contrários ao desenho.
Segundo o ministro Yilmaz Tunc, "um mandado de prisão foi emitido para dois suspeitos que estão fora do país", além dos quatro detidos. A Promotoria de Istambul conduz a investigação, que classifica o desenho como uma “representação desrespeitosa” ao profeta do islamismo.
Em seu depoimento à polícia, publicado pelo site T24, o cartunista Dogan Pehlevan negou qualquer intenção de ofender: “Queria falar de paz com esse desenho” e condenou a atuação de “provocadores”. Ele também declarou: “Desenho na Turquia há muitos anos. A primeira regra que você aprende é não abordar questões religiosas nem zombar da religião. Sempre respeitei esse princípio. Rejeito as acusações feitas contra mim”.
A imagem em questão mostra dois personagens se encontrando no céu acima de uma cidade bombardeada. Um deles é chamado de Muhammad, e o outro, Musa. “Só queria destacar o absurdo da guerra, mostrar que as pessoas podem conviver. Mas é preciso morrer para perceber isso? Essa é minha única mensagem”, explicou o chargista.
A charge motivou manifestações no centro de Istambul. Apesar da proibição oficial, cerca de 300 pessoas se reuniram nos arredores da Mesquita Taksim, entoando palavras de ordem como “não se esqueçam do Charlie Hebdo” — referência ao atentado contra a revista francesa, em 2015, que também publicou caricaturas do profeta Maomé.
O presidente Recep Tayyip Erdogan comentou o episódio na terça-feira (1º), classificando a charge como “uma provocação vil” e um “crime de ódio”, acrescentando que seus autores deverão prestar contas por “desrespeitarem o profeta”.
Em entrevista à agência AFP, o editor-chefe da LeMan, Tuncay Akgun, refutou a alegação de que a figura representada seja Maomé. “O desenho não tem nada a ver com o Profeta Maomé. Nunca correríamos esse risco”, afirmou. Segundo Akgun, o personagem chamado Muhammad é um civil muçulmano morto nos ataques a Gaza. “Ele se chama Mohammed, assim como mais de 200 milhões de pessoas no mundo islâmico”, completou.
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