Pepe Escobar levanta questão para os BRICS: ‘nós continuaremos polidos ou enfrentaremos o Império de frente?’
Analista geopolítico falou ao juiz Andrew Napolitano sobre os bastidores da cúpula do BRICS no Rio e o papel central do Irã
247 – O jornalista e analista geopolítico Pepe Escobar participou de uma entrevista no canal Judging Freedom, conduzido pelo juiz Andrew Napolitano, nesta terça-feira (1º/7), e traçou um panorama crítico da atual ordem internacional, destacando a guerra por procuração na Ucrânia, a escalada contra o Irã, o papel dos BRICS e os bastidores da geopolítica em torno da cúpula do bloco, que ocorre no Rio de Janeiro.
Segundo Escobar, o Ocidente teme os BRICS por representarem uma alternativa concreta à hegemonia unipolar de Washington. “Essa guerra é contra todos nós. A pergunta que deve ser feita é: os BRICS vão seguir como um grupo educado de nações emergentes ou vão tomar uma posição frontal contra o império?”, questionou.
Dados distorcidos e guerra de atrito
A entrevista começou com o tema da guerra na Ucrânia. Escobar refutou informações divulgadas por veículos ocidentais sobre supostas perdas russas. “O número real de mortos em combate está entre 100 mil e no máximo 130 mil. Isso é garantido por diversas fontes, incluindo comandantes em Donbass, que são meus amigos pessoais”, afirmou. Já o total de feridos, segundo ele, gira entre 700 mil e 800 mil — números mantidos sob sigilo pelo Ministério da Defesa da Rússia, mas estimados por oficiais de campo.
Para Escobar, o Ocidente insiste em repetir narrativas irreais. “As manchetes britânicas dizem que a Rússia perdeu um milhão de homens e não sabe lutar. Isso só revela o desconhecimento sobre a psique russa e a guerra de atrito que está sendo travada não só contra a Ucrânia, mas contra a máquina militar da OTAN.”
Donetsk e o papel do Reino Unido
O analista também confirmou a denúncia de Douglas McGregor, ex-coronel dos EUA, de que mísseis Storm Shadow, de fabricação britânica, atingiram civis em Donetsk. “A cidade não era atacada há meses. Meus contatos, que hoje estão na administração local, confirmaram que prédios civis foram atingidos por esses mísseis”, relatou.
Ele ressaltou que, em Moscou, é consenso que o Reino Unido age como “co-beligerante” no conflito. Já sobre o Azerbaijão, que tem relações próximas com Israel e a Turquia, Escobar alertou que o país está “jogando um jogo duplo” com Rússia e Irã.
EUA, Israel e o Irã
Ao ser questionado sobre os ganhos dos Estados Unidos ao apoiar os ataques israelenses em Gaza e contra o Irã, Escobar foi enfático: “Os Estados Unidos não ganham nada. Isso é um projeto do eixo sionista que vai de Washington a Tel Aviv, planejado desde os anos 1990 e retomado após o 11 de Setembro pelos neocons”.
Ele revelou ter se encontrado com um funcionário da embaixada iraniana em Brasília, que confirmou que o Irã está “pronto para responder” a qualquer nova escalada. “Será algo muito mais duro do que vimos até agora. Meus contatos em Teerã são unânimes: eles estão prontos.”
Ao abordar as ameaças nucleares, Escobar ironizou declarações de que o Irã estava a poucos dias de obter uma bomba atômica. “Isso é repetido há décadas. O Irã tem capacidade, mas não decidiu fabricar armas nucleares. Isso exigiria a revogação de uma fatwa religiosa. Eles preferem confiar nos mísseis balísticos, que já demonstraram ser eficazes”, disse.
Cúpula dos BRICS no Rio
Pepe Escobar também comentou as expectativas em torno da cúpula dos BRICS, que ocorre nos próximos dias no Rio de Janeiro. “Comparado à presidência russa no ano passado, o Brasil está sendo brando, para dizer o mínimo. Mas há uma chance rara, estilo terras raras, de se produzir algo realmente significativo.”
Apesar da ausência dos presidentes Vladimir Putin e Xi Jinping, Escobar afirmou que os ministros das Relações Exteriores de Rússia, China e Irã estarão presentes e terão papel importante nas articulações. “O que esperamos é que esses líderes digam aos demais membros: acordem, essa guerra é contra todos nós”, disse.
Para ele, o Irã é hoje o centro geoeconômico da integração euroasiática. “É onde se cruzam os corredores de conectividade: as rotas da seda chinesas de leste a oeste e o eixo norte-sul russo. Destruir o Irã significa destruir toda a arquitetura de integração da Eurásia”, alertou.
Resistência e nova ordem global
Na parte final da conversa, Escobar destacou o papel do Irã como vanguarda da resistência anti-imperialista. “Em poucos dias, o Irã acumulou um capital de soft power imenso. Governos de várias partes do mundo dizem, em privado, que torcem por sua vitória, embora não possam declarar isso publicamente.”
Segundo ele, esse sentimento se espalha por países da América Latina, África, Ásia Central e do Sul — muitos dos quais estarão na mesa de negociação no Rio. “A questão não-declarada do BRICS é: depois da guerra contra o Irã, o que faremos? Continuaremos polidos ou enfrentaremos o império de frente?”, provocou.
A entrevista completa pode ser assistida no canal Judging Freedom, no YouTube, sob o título “Why the West Fears BRICS and Putin Doesn’t Fear Trump”. Assista:
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