Trump e Netanyahu miram mudança de regime no Irã, avalia Anitablian
Analista afirma que EUA e Israel não querem apenas deter o programa nuclear iraniano, mas derrubar o governo de Teerã e fragmentar o país
247 - Em entrevista à TV 247, o analista geopolítico Rogério Anitablian afirmou que as movimentações de Estados Unidos e Israel no atual conflito com o Irã vão além do programa nuclear. Para ele, o objetivo desses países é provocar uma ruptura interna no Irã que leve à queda do regime atual, com possível fragmentação territorial.
“Me parece que o objetivo deles é a deposição do governo iraniano e a criação de uma nova dinâmica dentro do Irã”, afirmou Anitablian, que citou as minorias étnicas lurs, curdos, árabes, azeris e baluches como potenciais focos de insurgência. Segundo ele, esses grupos podem ser instrumentalizados por potências externas para minar o poder central de Teerã.
Donald Trump declarou que decidirá em até duas semanas se o país intervirá diretamente no conflito. Ao mesmo tempo, cobrou a rendição incondicional do Irã. Para Anitablian, trata-se de uma estratégia para manter margem de manobra: “Ele avalia o custo político, econômico e militar de uma intervenção. E considera também o impacto de possíveis perdas em centros populacionais israelenses ou bases americanas na região”.
O analista apontou ainda que uma entrada norte-americana no conflito pode ocorrer antes mesmo do prazo mencionado por Trump. “Não me surpreenderia se acontecesse, por exemplo, um ataque de bandeira falsa contra uma base dos Estados Unidos que fosse atribuído aos iranianos”, afirmou, mencionando precedentes históricos e o acúmulo de forças militares americanas na região.
Segundo Anitablian, Israel também dá sinais claros de que pretende eliminar a liderança política iraniana. O ministro da Defesa israelense, Israel Katz, afirmou que o aiatolá Ali Khamenei “não deve mais existir”, responsabilizando-o por ataques, incluindo um a um hospital no sul de Israel. Trump, por sua vez, sugeriu publicamente que sabe onde Khamenei está escondido e insinuou que poderia eliminá-lo a qualquer momento.
Esse tipo de discurso, segundo o analista, é normalizado pelo controle da opinião pública através dos grandes meios de comunicação ocidentais. “A linha entre o que é terrorismo e o que é legítimo é muito tênue. E quem vence a guerra, e controla a informação, escreve a história”, disse. Ele lembrou que assassinatos seletivos promovidos por Israel contra comandantes iranianos não foram questionados pela mídia, que os retrata como ações legítimas.
Sobre o desempenho do sistema antimísseis israelense, o chamado Domo de Ferro, Anitablian destacou que há censura militar em Israel, o que dificulta a verificação de sua real eficácia. “Alguns analistas dizem que cerca de 90% dos mísseis foram interceptados; outros falam em 60%. O que sabemos é que os drones, por virem de longe e em baixa velocidade, são praticamente todos abatidos”, disse. Ele avaliou que, se Israel buscar negociar com o Irã, pode ser sinal de que o sistema não está funcionando como o esperado.
Quanto ao papel dos países do BRICS, o analista não vê uma aliança automática com o Irã. Segundo ele, Rússia, China e Índia mantêm relações tanto com Teerã quanto com Tel Aviv. Putin já declarou que Moscou não tem pacto militar com o Irã e se propôs a atuar como mediador. A China, embora importe grande volume de petróleo iraniano, também tem fortes laços econômicos e tecnológicos com Israel. A Índia, por sua vez, colabora com os dois lados, inclusive no setor militar.
Anitablian também observou que o Paquistão, apesar de especulações, negou qualquer intenção de se envolver no conflito. Seu arsenal nuclear, segundo o próprio governo paquistanês, serve exclusivamente para defesa territorial — principalmente em relação à Índia — e não seria utilizado no atual cenário.
Sobre a Turquia, o analista apontou que o país tem interesses históricos na região noroeste do Irã, especialmente em áreas com população de origem turcomena, como Tabriz. Por esse motivo, Ancara tenderia a enfraquecer o atual governo iraniano. “Os turcos têm vontade de exercer influência política que extrapole suas fronteiras, passando pelo Cáucaso, pelo Azerbaijão e pelas províncias turcófonas do Irã”, explicou.
No encerramento, Anitablian destacou que o Irã anunciou novas ameaças em retaliação a ataques anteriores, inclusive sugerindo represálias à imprensa israelense. Por sua vez, Israel reiterou seu objetivo de eliminar Khamenei, responsabilizando o líder supremo iraniano pelos atentados mais recentes. Segundo o analista, os desdobramentos das próximas horas indicarão se haverá escalada militar ou se os canais diplomáticos ainda encontrarão espaço. Assista:
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