Celso Amorim defende 'relação mínima' com Israel, veto a embaixador e suspensão de acordo de livre comércio
"Israel está praticando um genocídio", disparou o assessor de Lula. Amorim defende que o Brasil se una contra Netanyahu na Corte Internacional de Justiça
247 - O ex-chanceler e atual assessor especial da Presidência da República para assuntos internacionais, Celso Amorim, afirmou em entrevista à Folha de S. Paulo que o Brasil não deve aceitar a nomeação de um novo embaixador de Israel. Segundo ele, diante do genocídio palestino praticado por Israel na Faixa de Gaza, a relação entre os dois países deve ser mantida "em níveis mínimos".
Amorim é um dos principais conselheiros do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para temas de política externa e defendeu, durante a entrevista, que o Brasil se torne parte da ação movida pela África do Sul contra Israel na Corte Internacional de Justiça (CIJ), que acusa o governo de Benjamin Netanyahu de genocídio. "A posição correta hoje, na minha opinião, é a gente entrar como parte na ação da África do Sul por genocídio; manter as relações [com Israel] em níveis mínimos e ser muito severo no acordo de livre comércio, talvez até suspendê-lo", afirmou.
Críticas diretas ao governo Netanyahu - Ao distinguir o governo de Israel do povo judeu e do Estado israelense, Amorim foi taxativo: "e preciso distinguir o povo judeu, que deu imensas contribuições à humanidade; o Estado de Israel, que tem direito de existir e de se defender contra terrorismo ou o que for; e o governo Netanyahu, que está praticando um genocídio".
A postura crítica do Brasil, segundo ele, não é isolada. "O Chile já rompeu relações diplomáticas com Israel. A Irlanda e a Eslovênia tiveram muitas restrições — muitos países europeus também — porque Israel está praticando um genocídio", disse.
Sobre a nomeação de um novo embaixador israelense para o Brasil, Amorim confirmou que "o novo [embaixador] não recebeu o agrément, nem vai receber. Nem tem porque receber".
Gaza, sanções e riscos globais - Amorim condenou tanto o ataque do Hamas a Isral como a reação desproporcional de Israel. “É muito ruim matar 2 mil pessoas, é péssimo, é horrível e condenável. Mas matar 60 mil, 70 mil... mulheres e crianças na fila humanitária, é impensável.”
Questionado sobre possíveis retaliações dos Estados Unidos caso o Brasil amplie sua atuação contra Israel, inclusive aderindo à ação na CIJ, Amorim minimizou os riscos: "se prender um narcotraficante americano aqui, você pode dizer que isso pode fazer mal às relações com os Estados Unidos. Mas eu estou agindo dentro da lei. Nesse caso, da lei internacional".
Ele também classificou como "totalmente absurda" a possibilidade de sanções norte-americanas contra ministros do Supremo Tribunal Federal, como Alexandre de Moraes.
BRICS e resistência ao unilateralismo de Trump - Celso Amorim também fez um balanço sobre os rumos do BRICS, cuja cúpula será sediada no Rio de Janeiro. Ele ressaltou que, mesmo com ausências importantes — como a do presidente da China, Xi Jinping — o grupo permanece relevante e adaptado a uma nova configuração geopolítica. "Acho que os objetivos básicos continuam os mesmos. Agora, o mundo está mudando, e você tem que se adaptar um pouco à realidade para que o grupo continue a ser relevante", explicou.
O ex-chanceler destacou ainda que o BRICS tem defendido o sistema multilateral — hoje, segundo ele, ameaçado pelas ações unilaterais do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. “É surpreendente que a maior potência do mundo, que criou o sistema multilateral, tenha se afastado e o abandonado”, afirmou. Amorim criticou o que chamou de "maior ameaça à ordem mundial atual": medidas tomadas sem o respaldo de organismos multilaterais, como a ONU e a OMC, que estariam sendo esvaziados pela política externa norte-americana.
Relação com China e desafios internos do BRICS - Apesar de lamentar a ausência de Xi Jinping na cúpula do BRICS, Amorim relativizou o impacto diplomático da decisão. “Nós tivemos duas reuniões [do presidente Lula com ele] em seis meses. Não podemos aqui dizer que estamos ofendidos. Agora, que ele faz falta, faz”, afirmou.
Sobre o possível esvaziamento do encontro, Amorim lembrou que a ausência de líderes como o egípcio Abdel Fattah el-Sisi e do russo Vladimir Putin tem razões compreensíveis: o primeiro por estar envolvido diretamente em uma zona de guerra e o segundo por ser alvo de um mandado do Tribunal Penal Internacional.
Defesa da paz e do multilateralismo - Ao final da entrevista, Amorim alertou que a substituição do multilateralismo por ações unilaterais agrava os riscos de uma guerra global. “Se você começar a aplicar regras unilaterais, eu acho que você está, digamos, aprofundando os riscos de uma guerra mundial.”
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