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Ausência de Xi tem motivos justos e não significa desvalorização da cúpula do BRICS, diz jornalista chinesa

Para Isabela Shi, presença do premiê Li Qiang no Rio trará dinâmica diferente à reunião e reforça compromissos estratégicos com Brasil e países do bloco

Xi Jinping, Lula e Isabela Shi Xiaomiao (Foto: Ricardo Stuckert / PR | Guilherme Paladino / Brasil 247)
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Por Guilherme Paladino, de Pequim, para o 247 - A poucos dias da 17ª Cúpula de Chefes de Estado do BRICS, que será realizada no Rio de Janeiro em 6 e 7 de julho, a ausência do presidente da China, Xi Jinping, ainda repercute na mídia brasileira. Para Isabela Shi Xiaomiao, repórter da CGTN Português entrevistada pela reportagem do Brasil 247 em Pequim, o gesto não significa qualquer desvalorização da importância do encontro, tampouco enfraquece a relação bilateral entre China e Brasil.

“Acompanhamos a repercussão no Brasil e também na mídia internacional, mas, na verdade, aqui na China, pelo menos a opinião pública e os analistas não veem nenhuma desvalorização da importância da cúpula do BRICS no Brasil com a ausência do presidente Xi Jinping”, afirmou.

Segundo ela, há justificativas consistentes que explicam a decisão: “Tem alguns motivos para explicar essa ausência, os quais consideramos justos: Xi e Lula já mantiveram contatos intensos nos últimos tempos; em 7 meses, eles já se encontraram duas vezes. Então, muitas pautas eles já discutiram suficientemente.”

Isabela destacou que, embora a presença do chefe de Estado chinês carregue um simbolismo particular, a vinda do primeiro-ministro Li Qiang deve trazer novos contornos à participação do país na cúpula: “eu até vejo que a participação de Li Qiang vai dar outra dinâmica da presença chinesa; a gente sabe que Xi, como presidente, sempre cuida de assuntos mais estratégicos, e Li Qiang é a pessoa que faz implementações, trata de assuntos econômicos, então acredito que sua participação dará outra dinâmica para a cúpula do BRICS no Rio.”

Brasil em destaque na China

Na entrevista, a jornalista também comentou a crescente atenção que o Brasil tem recebido na opinião pública chinesa, impulsionada por intensificação de laços diplomáticos e investimentos privados e estatais. “Na verdade, o presidente Lula, dentro de seu terceiro mandato, já visitou a China duas vezes, então as pessoas daqui já veem o Lula como um bom amigo, muito amigável com a China”, relatou.

“Além disso, no noticiário a gente também acompanha que a China está aumentando investimentos no Brasil: as empresas tanto estaduais quanto privadas têm mais interesse em investir no Brasil".

A jornalista Isabela Shi Xiaomiao, da China Global Television Network (CGTN)
A jornalista Isabela Shi Xiaomiao, da China Global Television Network (CGTN)(Photo: Guilherme Paladino/Brasil 247)Guilherme Paladino/Brasil 247

Isabela citou alguns exemplos recentes de negócios que simbolizam esse momento de aproximação: “A ponte Salvador-Itaparica [que conta com participação da China Railway 20th Bureau Group (CRCC) e China Communications Construction Company (CCCC)] já tem mais financiamentos; a gente também acompanhou que uma franquia importante de cafeterias aqui na China [Luckin Coffee] anunciou a importação de mais grãos de café do Brasil; outras marcas como Meituan e Mixue têm interesse em investir no Brasil... então as interações se tornam cada dia mais intensas e isso faz as pessoas comuns perceberem mais o Brasil como um importante parceiro da China.”

Expectativa chinesa para a Cúpula

Sobre as expectativas em torno da cúpula, a jornalista apontou que o encontro será mais do que um fórum econômico e deverá dar voz ao Sul Global em temas sensíveis da agenda internacional. “A gente já observa que hoje o BRICS representa a extensão da força do Sul Global”, afirmou.

Ela mencionou que as tensões no Oriente Médio são uma das questões que devem pautar o diálogo entre os líderes: “Nos últimos meses, a gente tem acompanhado de perto os conflitos no Oriente Médio, e recentemente o bloco publicou um comunicado conjunto sobre a escalada de situação de insegurança na região, então a expectativa agora na mídia chinesa é ver como os países do BRICS podem chegar a um consenso e expressar a voz do Sul Global sobre a segurança e a paz mundial.”

Para Isabela, a expansão do bloco amplia ainda mais seu potencial diplomático: “Porque você viu que o Novo BRICS, com 11 países, inclui o Irã, mas também Arábia Saudita e Emirados Árabes - esses dois últimos considerados aliados dos EUA. Então, sendo esse bloco que inclui China, Rússia e essas novas forças, a gente tem alta expectativa de escutar opiniões desse grupo sobre o atual cenário internacional.”

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O presidente da Rússia, Vladimir Putin, e o primeiro-ministro da China, Li Qiang, em Moscou, 21/8/24(Photo: Sputnik)Sputnik

Ela ponderou que a natureza do BRICS envolve não apenas segurança, mas também temas estruturantes da economia global: “Várias questões têm que ser abordadas, não somente segurança, paz, conflitos regionais, como também esse grupo foi criado para buscar uma voz dos países em desenvolvimento. Então, de um lado, eles defendem a ordem internacional, mas também querem participar do poder de fazer regras.”

A repórter sublinhou que as prioridades definidas pela presidência brasileira em 2025 estão alinhadas com os interesses chineses: “Então, você viu que o Brasil colocou como principais pautas governança da IA, combate às mudanças climáticas, diversificação de meios de pagamentos, entre outras, então temos essas expectativas para ver os seguintes passos do bloco. As prioridades que o Brasil colocou como pautas são também interesse da China.”

Liderança chinesa confirmada

O governo chinês confirmou oficialmente na quarta-feira (2) que Li Qiang chefiará a delegação.

“O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores anunciou: O primeiro-ministro Li Qiang visitará o Brasil entre 5 e 8 de julho para participar da 17ª Cúpula de Chefes de Estado do BRICS, no Rio de Janeiro", disse um comunicado publicado em um dos canais de comunicação do governo pelo WeChat, aplicativo de mensagens da China.

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