"É inevitável que o BRICS assuma mais responsabilidades, especialmente em segurança", diz mídia chinesa
Em editorial, coluna da CGTN defende que o bloco se consolide como principal canal de solidariedade do Sul Global e amplie sua atuação em governança global
Por Guilherme Paladino, de Pequim, para o 247 - A poucos dias da 17ª Reunião de Cúpula do BRICS, que será realizada no Rio de Janeiro entre os dias 6 e 7 de julho, a mídia estatal chinesa destacou o papel crescente do grupo como força motriz da cooperação entre economias emergentes e defendeu que o chamado “maior BRICS” passe a exercer novas funções globais.
Em editorial publicado nesta semana, a coluna First Voice, da CGTN, argumentou que “é inevitável que o mecanismo do BRICS, inicialmente uma plataforma de governança global, assuma mais responsabilidades, especialmente na área de segurança”. O texto afirma que, com a expansão do bloco e a inclusão de países como Indonésia — que se tornou o 11º membro no início de 2025 —, o BRICS tem ampliado não apenas sua relevância econômica, mas também seu potencial de mediação diplomática e estabilidade regional.
Segundo o artigo, a entrada da Indonésia, considerada “o maior peso econômico da Associação das Nações do Sudeste Asiático”, trouxe nova dimensão ao apelo internacional do grupo. Com a expansão, os países do BRICS agora abrigam cerca de 3,3 bilhões de pessoas, mais de 40% da população mundial, e respondem por aproximadamente 37,3% do Produto Interno Bruto global, medido pela paridade do poder de compra. Em comparação, as economias do G7 somam cerca de 28,4% desse mesmo indicador.
A CGTN recorda que a sigla BRIC foi proposta em 2001 pelo economista Jim O’Neill, do Goldman Sachs, ao apontar que Brasil, Rússia, Índia e China teriam papel decisivo na transformação econômica global. O editorial menciona a declaração da primeira cúpula de líderes, realizada em Ecaterimburgo, na Rússia, em 2009: “O diálogo e a cooperação dos países BRIC são conducentes não apenas para atender aos interesses comuns das economias de mercado emergentes e dos países em desenvolvimento, mas também para construir um mundo harmonioso de paz duradoura e prosperidade comum.” Para a publicação, “em muitos aspectos, o mecanismo do BRICS vem cumprindo essa missão desde então.”
O editorial também destaca que o presidente chinês, Xi Jinping, defendeu em 2024 a ideia de um “maior BRICS”, propondo que o bloco se torne “um canal primário para fortalecer a solidariedade e a cooperação entre as nações do Sul Global e uma vanguarda na promoção da reforma da governança global.” Para isso, Xi apontou cinco áreas prioritárias de trabalho: segurança, inovação, desenvolvimento verde, governança global e intercâmbio entre povos.
“O mundo hoje clama por um ‘maior BRICS’, e ao renovar sua missão, o mecanismo continuará a prosperar”, escreveu a coluna.
A CGTN argumenta que o bloco vem assumindo cada vez mais protagonismo em questões cruciais, como as mudanças climáticas e o desenvolvimento de inteligência artificial, além de tentar “canalizar mais apoio a essas economias” e oferecer alternativas ao sistema financeiro dominado pelo dólar. Nesse sentido, lembra que o Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), fundado em 2015 e sediado em Xangai, aprovou empréstimos de cerca de US$ 40 bilhões para 120 projetos — de transporte de gás natural liquefeito na China à modernização ferroviária na África do Sul.

O editorial observa que, em meio a “enormes incertezas e uma queda drástica na confiança dos mercados globais”, geradas por tarifas comerciais de grandes economias desenvolvidas, “é ainda mais urgente que os países do BRICS avancem e reforcem seu compromisso com o multilateralismo.” A coluna sustenta que mecanismos como o NDB podem oferecer “suplementos úteis e confiáveis ao precário sistema baseado no dólar”, sobretudo ao financiar projetos em moedas locais.
Na dimensão geopolítica, o texto enfatiza que a guerra na Ucrânia e os conflitos no Oriente Médio reforçam o potencial do BRICS como mediador: “Na crise da Ucrânia, China, Brasil e outros países com ideias afins do Sul Global formaram em 2024 o grupo ‘Amigos pela Paz’ para trabalhar pelo fim da guerra.” O documento lembra que o consenso de seis pontos apresentado por Pequim e Brasília no ano passado obteve apoio de dezenas de países do Sul Global.
A publicação também cita a "persistência da guerra entre Israel e Hamas" e a “frágil trégua entre Israel e Irã” como exemplos de desafios onde o BRICS pode ter atuação mais proativa: “Com importantes atores regionais como Egito, Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita no bloco, o mecanismo do BRICS deve e pode ajudar a trazer mais estabilidade para as questões de segurança do Oriente Médio.”
Para o editorial, “o BRICS é, sem dúvida, a plataforma mais importante para solidariedade e cooperação entre mercados emergentes e países em desenvolvimento no mundo de hoje.” Por isso, a CGTN defende que organizações multilaterais como o BRICS “precisam evoluir e reposicionar-se diante da geopolítica global em constante mudança.”
Com a cúpula do Rio prestes a começar, o governo brasileiro deve receber as delegações dos 11 membros do grupo — formado por Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Irã, Arábia Saudita e Indonésia — em um momento que, segundo o texto chinês, exige mais do que nunca a “renovação da missão” do BRICS.
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