Bombas dos EUA pela paz, como em Hiroshima e Nagasaki
Na Cúpula da OTAN em Haia, Trump afirmou que, com as bombas lançadas sobre o Irã, os Estados Unidos conseguiram pôr fim à guerra
Por Manlio Dinucci (*) - Na Cúpula da OTAN em Haia, o presidente Trump declarou que, com as bombas lançadas sobre o Irã, os Estados Unidos conseguiram pôr fim à guerra, assim como fizeram em 1945 ao lançar as bombas nucleares sobre Hiroshima e Nagasaki. Rompendo com suas posições anteriores, Trump assinou com os 31 aliados uma declaração que denuncia “as profundas ameaças e desafios à segurança, especialmente a ameaça de longo prazo representada pela Rússia à segurança euro-atlântica”.No dia 20 de junho, o presidente Trump havia declarado que levaria duas semanas para decidir se atacaria ou não o Irã. No entanto, os radares já mostravam o deslocamento de bombardeiros em direção ao Oriente Médio. Por isso, no programa Grandangolo, transmitido na noite de 20 de junho, anunciamos o iminente ataque dos EUA ao Irã. Ele ocorreu cerca de 24 horas depois.
No discurso à Nação, em 21 de junho, Trump declarou: “Esta noite posso dizer ao mundo que os ataques foram um sucesso militar espetacular. Os principais sites de enriquecimento nuclear do Irã foram completamente e totalmente destruídos. O Irã, o brutamontes do Oriente Médio, deve agora fazer a paz. Se não o fizer, os próximos ataques serão muito maiores e muito mais fáceis.”
Trump ignora a história de como o “brutamontes do Oriente Médio” iniciou seu programa nuclear. Em 1952, o primeiro-ministro iraniano Mossadegh, eleito democraticamente, nacionalizou a companhia britânica que monopolizava o petróleo iraniano. Em 1953, Mossadegh foi preso e julgado após um golpe de Estado organizado pela CIA dos Estados Unidos e pelo MI6 britânico. EUA e Reino Unido colocaram no poder o xá Reza Pahlavi, garantidor de seus interesses, que instaurou no Irã um regime repressivo severo e iniciou a ocidentalização forçada do país.
Foi nesse período que o presidente Eisenhower inseriu o Irã em seu programa “Átomos para a Paz”. Pahlavi destinou bilhões de dólares para comprar um primeiro complexo nuclear dos Estados Unidos, que acolheram jovens cientistas iranianos em cursos especiais de formação nuclear no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT). Em 1974, o Irã assinou um acordo de 4 bilhões de dólares com a França, com o qual o xá recebeu cinco reatores nucleares. O acordo não continha nenhuma cláusula de salvaguarda contra o uso dos reatores como base para a fabricação de armas nucleares, apesar de o Irã ter assinado, em 1968, o Tratado de Não Proliferação Nuclear.
Em 1979, o xá Reza Pahlavi foi deposto por uma revolta popular que, por meio de um referendo, instaurou a República Islâmica sob a liderança do aiatolá Khomeini. No poder, ele nacionalizou novamente o petróleo iraniano, retirando-o do controle das companhias britânicas e norte-americanas. Um ano depois, incentivado e militarmente apoiado pelos EUA, o Iraque de Saddam Hussein atacou o Irã, dando início a uma sangrenta guerra que durou até 1988.
Esses eventos — e outros — são ignorados ou falsificados pela historiografia ocidental (ver “A Outra Face da História”: link), e demonstram que aquilo que o discurso dominante define como “o programa nuclear dos aiatolás” foi fornecido ao Irã do xá pelos Estados Unidos e pela França, os mesmos que permitiram que Israel se dotasse de um arsenal nuclear — o único do Oriente Médio —, sem nenhum tipo de controle, uma vez que Israel, ao contrário do Irã, não aderiu ao Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares.No discurso à Nação, Trump declarou: “Quero agradecer e parabenizar o primeiro-ministro Bibi Netanyahu. Trabalhamos em equipe como talvez nenhuma equipe tenha trabalhado antes, e avançamos muito para eliminar essa terrível ameaça contra Israel. Quero agradecer aos militares israelenses pelo excelente trabalho realizado. Quero, acima de tudo, parabenizar os grandes patriotas americanos que pilotaram essas magníficas máquinas, e todas as Forças Armadas dos Estados Unidos. Não há exército no mundo que pudesse ter feito o que fizemos esta noite. Quero agradecer em particular a Deus. Quero dizer que te amamos, Deus, e que amamos nossos grandes militares. Protege-os. Que Deus abençoe o Oriente Médio. Que Deus abençoe Israel e que Deus abençoe a América.”
Na Cúpula da OTAN em Haia, o presidente Trump voltou a afirmar que, com as bombas lançadas sobre o Irã, os Estados Unidos conseguiram pôr fim à guerra, assim como fizeram em 1945 com as bombas nucleares sobre Hiroshima e Nagasaki. Rompendo suas posições anteriores, Trump elogiou a OTAN por seu empenho e assinou com os 31 aliados uma declaração em que se afirma que os membros da Aliança estão “unidos diante das profundas ameaças e desafios à segurança, em particular a ameaça de longo prazo representada pela Rússia à segurança euro-atlântica”.
Por isso, os aliados se comprometem a investir anualmente 5% de seu PIB nas necessidades básicas de defesa até 2035. Trump, no entanto, deixou claro que a meta dos 5% cabe aos aliados, não aos Estados Unidos, que continuarão a destinar 3,5% de seu PIB para gastos militares.
Em 2025, o gasto militar anual da Itália equivale a uma média de cerca de 97 milhões de euros por dia. Em breve, com base no compromisso assumido na OTAN, esse valor terá de subir para uma média de 124 milhões de euros por dia, o que representa 3,5% do PIB. A meta dos 5% exigida pelos Estados Unidos e aprovada pelos aliados representa, para a Itália, um gasto militar médio superior a 300 milhões de euros por dia.
Jornalista e escritor, autor de A Arte da Guerra; resumo da revista de imprensa internacional Grandangolo de sexta-feira, 27 de junho de 2025, no canal de TV Byoblu https://www.byoblu.com/2025/06/27/bombe-usa-per-la-pace-come-a-hiroshima-e-nagasaki/
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