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“Dois países nucleares atacam um que não é”, diz Nasser sobre a hipocrisia de EUA e Israel

“Trump brinca de guerra”, destaca o professor Reginaldo Nasser em entrevista à TV 247

(Foto: Reuters | Divulgação )
Dayane Santos avatar
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247 - Durante entrevista ao programa Brasil Agora, o professor de Relações Internacionais da PUC São Paulo, Reginaldo Nasser, afirmou que a situação no Oriente Médio está se deteriorando rapidamente após o ataque dos Estados Unidos a instalações nucleares iranianas e a retaliação, ainda que simbólica, contra uma base americana no Catar.

“É preciso entender que, no Oriente Médio, a notícia de um minuto atrás já é velha. A velocidade dos acontecimentos e a complexidade dos atores tornam impossível fazer previsões. A gente só consegue interpretar os fatos à medida que eles se desenrolam”, diz Nasser.

Segundo ele, a resposta do Irã ao atacar uma base americana no Catar pode ter sido cuidadosamente calculada, já que a base já estava esvaziada. “O Catar tem relações diplomáticas tanto com os EUA quanto com o Irã, além de contatos com o Hamas e com Israel. Pode ter havido um aviso prévio, o que transforma o ataque em um gesto simbólico para sinalizar força sem escalar diretamente o conflito”. De fato, como disse Nasser na entrevista, poucas horas depois, os EUA e o Cattar confirmaram que houve um aviso prévio do ataque.

Apesar disso, o professor chama atenção para o caráter arriscado da ação: “Mesmo sendo simbólico, atacar uma base americana é romper uma barreira. Isso foge ao padrão histórico do Irã, que sempre agiu com cautela, mesmo após provocações intensas.”

Reginaldo também critica o papel desempenhado pelos Estados Unidos e Israel. “Dois países com armas nucleares atacam um que não tem, e o Irã é que vira o agressor. Isso fere o bom senso e qualquer lógica de geopolítica.”

Sobre o ex-presidente Donald Trump, Nasser afirma que sua política externa é baseada em oportunismo e ausência de estratégia. “Trump age conforme o custo político. Se não tem custo, ele avança. Se começa a ter custo, ele recua. É imprevisível. É como se fosse uma molecagem, brincando de bombas.”

No campo doméstico americano, o professor observa uma crescente divisão. “A maioria da população nos EUA é contra um envolvimento direto em nova guerra. Entre os republicanos, há apoio, mas também uma ala muito barulhenta contra — como Steve Bannon e Tucker Carlson. Eles criticam duramente Israel, não por ideologia, mas porque consideram que os EUA estão gastando demais e se submetendo aos interesses de outro país.”

Nasser rejeita a ideia de que Israel dita os rumos da política externa americana. “Prefiro a visão do Chomsky: não é Israel que controla os EUA, mas os EUA que usam Israel como instrumento estratégico no Oriente Médio. Isso é mais grave, porque é estrutural. Israel cumpre o papel de polícia da hegemonia ocidental na região.”

Sobre a capacidade de resistência do Irã, o professor ressalta: “Militarmente, está numa situação delicada. Perdeu líderes, sofreu infiltrações internas, sua defesa foi comprometida. Está isolado geopoliticamente. Nenhum país da região o apoia abertamente. Mesmo assim, politicamente, está mais unido. A pressão externa fortaleceu o regime internamente.”

Ele também menciona o papel ambíguo de Rússia e China. “Ambas têm dado apenas declarações vagas, sem compromissos concretos. Putin, por exemplo, chegou a lembrar a importância da comunidade judaica na Rússia, o que parece um recado de que não vai entrar em confronto com Israel.”

Na avaliação de Nasser, a ofensiva liderada por EUA e Israel tenta repetir a fórmula da "mudança de regime", já tentada em outros países. “O discurso de Trump e Netanyahu, apelando ao povo iraniano para derrubar o governo, é velho. Já foi usado na Líbia, no Iraque, na Síria. Mas hoje, mesmo opositores do regime iraniano condenam os bombardeios, porque ninguém quer ver seu país ser destruído.”

Nasser destaca que nunca se viu tanta contestação ao apoio americano a Israel dentro dos próprios EUA. “Há uma fissura crescente no apoio bipartidário a Israel. A extrema-direita trumpista, paradoxalmente, é hoje uma das vozes mais críticas — não por solidariedade aos palestinos, mas por interesse nacional americano.”

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