Elias Jabbour: "Já estamos vivendo uma guerra mundial, em várias dimensões"
Em entrevista ao Boa Noite 247, professor afirma que o conflito global se manifesta em guerras híbridas, sanções econômicas e ofensivas militares
247 - Durante entrevista ao programa Boa Noite 247, o professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) Elias Jabbour afirmou que o mundo já se encontra em guerra — ainda que essa guerra não siga os moldes convencionais. “Existe um conflito mundial já. Na minha opinião, nós estamos prestes ao conflito mundial, mas ele já existe”, declarou o pesquisador, apontando diferentes camadas do que chamou de “caos sistêmico”.
Jabbour defendeu que a guerra em curso se manifesta por múltiplas vias. Ele mencionou as chamadas guerras híbridas, que incluem campanhas permanentes de desinformação, ataques cibernéticos, sanções econômicas e guerras por procuração, como no caso da Ucrânia e da Síria. “Vivemos sob ataque generalizado de informações. Uma guerra semiótica. A notícia de que ‘o governo Lula está perdido’, por exemplo, é parte de uma guerra psicológica”, exemplificou.
Na visão do professor, esse tipo de conflito é o que define as guerras de quinta e sexta gerações, e tem impacto direto sobre países periféricos como o Brasil. “No Brasil, essa guerra começa com as jornadas de junho de 2013. A partir dali, passamos a sofrer um tipo de ataque permanente que desestabilizou as estruturas do Estado e abriu caminho para a destruição das nossas capacidades de reação”, afirmou.
Além das guerras informacionais, Jabbour apontou o uso do dólar como uma arma geopolítica. “O dólar é usado como uma arma de destruição em massa. Você tira um país do sistema financeiro internacional. É o que fizeram com Irã, Venezuela, Coreia do Norte, Cuba e outros. Hoje, 60% dos países pobres do mundo sofrem sanções impostas pelos Estados Unidos”, disse.
O especialista também falou sobre as guerras por procuração (proxy wars), quando grandes potências se valem de conflitos regionais para atingir seus objetivos estratégicos. Ele citou a guerra na Ucrânia e o caso da Síria como exemplos de disputas manipuladas por potências ocidentais. “A guerra da Ucrânia é uma guerra por procuração. A derrubada de Bashar al-Assad na Síria também foi. O envolvimento dos EUA e de Israel é evidente.”
Questionado sobre os riscos de escalada para uma guerra convencional de maiores proporções, Jabbour foi categórico. “A conjuntura é gravíssima. O próprio Celso Amorim já disse que nunca viu nada parecido em mais de 40 anos de diplomacia. E eu concordo. Mas vou além: esse conflito já está em andamento. A forma como ele se apresenta é que mudou.”
Segundo o professor, a combinação de guerras híbridas, uso estratégico da moeda, sanções e conflitos armados localizados é suficiente para caracterizar um estado de guerra mundial — ainda que não declarado oficialmente. “Há uma conflagração real. E o Brasil, infelizmente, não está preparado para lidar com uma crise dessa magnitude. Desde o golpe de 2016, o país desmantelou sua capacidade de reagir a choques internacionais.”
Jabbour encerrou o tema com uma advertência sobre os riscos de omissão. “Quem não entende que já vivemos um cenário de guerra, não está enxergando a realidade. A geopolítica mundial está em ruptura. E o Brasil precisa recuperar uma visão estratégica de nação para enfrentar o que está por vir.” Assista:
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