Taxação de Trump deixa 95 toneladas de mel encalhadas em porto no Ceará
Os compradores pediram a suspensão do envio mesmo antes de a nova alíquota entrar em vigor
247 - As tensões comerciais entre Brasil e Estados Unidos já provocam prejuízos concretos para exportadores brasileiros. A Casa Apis (Central de Cooperativas Apícolas do Semi-Árido Brasileiro) informou que cerca de 95 toneladas de mel orgânico produzido no Piauí estão retidas no porto do Pecém, no Ceará. O motivo: clientes norte-americanos cancelaram a importação temendo os efeitos da tarifa de 50% anunciada pelo presidente dos EUA, Donald Trump, sobre produtos brasileiros. As informações são do UOL.
Segundo o presidente da Casa Apis, Sitônio Dantas, os compradores pediram a suspensão do envio mesmo antes de a nova alíquota entrar em vigor, prevista para 1º de agosto. "Infelizmente, recebemos o comunicado dos nossos clientes mandando suspender o embarque. Nós estamos com cinco contêineres, cerca de 95 toneladas de mel, no porto do Pecém, já feito todo o despacho aduaneiro só aguardando os navios fazerem as operações de embarque", relatou Dantas.
O mel percorreu mais de 500 quilômetros em caminhões, saindo do município de Picos, no Piauí, até São Gonçalo do Amarante, no Ceará, onde fica o terminal portuário. De lá, seguiria para os Estados Unidos, principal mercado consumidor do produto. Agora, a cooperativa tenta negociar alternativas para não perder a carga já pronta. “Fomos pegos de surpresa. A nossa representante nos EUA, que é uma brasileira, está tentando negociar com esses clientes devido à ligação de amizade que nós temos com eles para ver se, pelo menos esses cinco que estão no Pecém, possam ser embarcados", afirmou.
A situação da Casa Apis é apenas um retrato de um impacto mais amplo que começa a se delinear no comércio exterior brasileiro. De acordo com um estudo do Centro de Estudos do Agronegócio da Fundação Getulio Vargas (FGV Agro), a taxação de 50% poderá provocar uma retração de até 75% nas exportações de alimentos para os Estados Unidos. Os itens mais afetados serão carne bovina, café e suco de laranja — produtos que já enfrentam tarifas consideráveis, como 10,94% no caso do suco e 19,79% para o açúcar.
O golpe direto recai sobre o agronegócio, que em 2024 respondeu por cerca de US$ 12,1 bilhões das exportações brasileiras para o mercado norte-americano. O efeito pode impactar também o crescimento econômico. A FGV estima uma retração de até 0,41% no PIB brasileiro, enquanto nos EUA o impacto seria mais brando, com redução de 0,08% no PIB e até US$ 18,4 bilhões a menos em consumo.
A medida de Trump foi anunciada dois dias antes do cancelamento das exportações de mel, e é vista por analistas como uma retaliação política. O presidente norte-americano insinuou que a sobretaxa seria uma resposta à atuação de instituições brasileiras no julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro e sua derrota nas eleições de 2022.O governo brasileiro reagiu. O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, classificou a tarifa como “indecente” e afirmou que já está em contato com entidades de setores afetados para traçar alternativas. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que, antes de adotar qualquer medida de retaliação, pretende acionar a Organização Mundial do Comércio (OMC). No entanto, não descartou recorrer à chamada Lei de Reciprocidade Econômica: os produtos norte-americanos exportados para o Brasil também passariam a ser taxados em 50%.
O pano de fundo da disputa agrava incertezas comerciais entre dois parceiros historicamente relevantes. Os principais produtos brasileiros exportados aos EUA são petróleo bruto, ferro e aço. Já os EUA vendem ao Brasil máquinas, motores e combustíveis — segmentos que podem ser afetados por uma eventual escalada de tarifas, com consequências nos dois lados da balança comercial.
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