HOME > Mundo

Pentágono pressiona Japão e Austrália a se comprometerem em caso de guerra contra a China por Taiwan

EUA lidera esforço para ampliar dissuasão contra Pequim, mas aliados se mostram surpresos com pedido dos EUA para discutir cenários de conflito militar

(Foto: REUTERS/Ann Wang)
Aquiles Lins avatar
Conteúdo postado por:

247 - Em uma iniciativa que tem causado desconforto entre aliados, o Pentágono vem pressionando Japão e Austrália a deixarem claro qual seria sua participação caso os Estados Unidos entrem em guerra com a China por Taiwan. Segundo reportagem publicada pelo Financial Times, o subsecretário de Defesa norte-americano, Elbridge Colby, tem se reunido com autoridades dos dois países nos últimos meses para reforçar a necessidade de um planejamento mais concreto diante do aumento das tensões no Indo-Pacífico.

De acordo com cinco fontes com conhecimento direto das conversas, Colby tem insistido para que Japão e Austrália avancem em “planejamento operacional concreto e exercícios com aplicação direta a um cenário de contingência em Taiwan”. A ofensiva surpreendeu as autoridades de Tóquio e Canberra, já que os próprios EUA não oferecem garantias formais de proteção a Taiwan, mantendo a tradicional política de "ambiguidade estratégica".

Um funcionário do Departamento de Defesa dos EUA, que comentou o conteúdo das reuniões sob condição de anonimato, afirmou que o “tema central” das conversas era fortalecer a dissuasão militar de forma equilibrada entre os parceiros. “Não buscamos a guerra. Tampouco buscamos dominar a China. O que estamos fazendo é garantir que os Estados Unidos e seus aliados tenham força militar suficiente para respaldar a diplomacia e garantir a paz”, disse o representante. Ele também ressaltou que a prevenção da guerra exige esforço conjunto: “Isso exige força — mas é um fato simples que nossos aliados também devem fazer sua parte”.

Apesar do discurso de colaboração, a abordagem americana tem gerado resistência. O Ministério da Defesa do Japão respondeu que “é difícil tratar uma emergência em Taiwan como uma hipótese”, e reiterou que qualquer resposta seria “inovadora de forma individual e específica, conforme a Constituição e o direito internacional”. A embaixada australiana em Washington não comentou o caso.

Especialistas apontam que a exigência de um posicionamento mais claro dos aliados representa uma mudança significativa na postura dos EUA. “É muito difícil conseguir que aliados forneçam detalhes sobre o que fariam em um conflito envolvendo Taiwan quando nem conhecem o contexto do cenário nem a própria resposta dos EUA”, observou Zack Cooper, pesquisador do American Enterprise Institute. “O presidente Trump não se comprometeu a defender Taiwan, então é irreal que os EUA exijam compromissos explícitos de outros países.”

Além do plano relacionado a Taiwan, Colby também tem cobrado publicamente um aumento nos gastos militares de Japão e Austrália. O subsecretário chegou a provocar uma reação negativa do premiê japonês Shigeru Ishiba ao insistir, pouco antes das eleições legislativas no país, em mais investimentos em Defesa. Fontes diplomáticas relataram um “erguer de sobrancelhas coletivo” entre representantes japoneses e australianos diante da pressão dos EUA.

O contexto é ainda mais delicado após a informação de que Colby estaria revendo os termos do acordo de segurança Aukus — parceria que permitirá à Austrália adquirir submarinos nucleares. Em paralelo, o subsecretário tem pedido que as forças europeias redirecionem o foco do Indo-Pacífico para o Atlântico, em outra frente de reorientação estratégica americana.

Em meio ao aumento da ameaça chinesa e à pressão política interna, os EUA esperam que Japão e Austrália se movam rapidamente. “Acreditamos que não deve — e nem pode — levar 20 anos”, afirmou o funcionário do Departamento de Defesa. “Não apenas porque isso é do nosso interesse, mas porque também é do interesse dos aliados no Indo-Pacífico.”

Apesar da resistência inicial, Washington vê sinais positivos. Segundo o mesmo funcionário, o Pentágono recebeu indicativos de que Japão e Austrália caminham para elevar seus orçamentos militares, o que é considerado “crítico” para a estabilidade regional. Ainda assim, o clima entre os aliados permanece tenso.

“Estamos investindo enormes quantidades de tempo e energia para trabalhar com os aliados e encontrar formas de enfrentar nossos desafios compartilhados de maneira que beneficie a todos nós”, concluiu o representante americano.

❗ Se você tem algum posicionamento a acrescentar nesta matéria ou alguma correção a fazer, entre em contato com [email protected].

✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no Telegram do 247 e no canal do 247 no WhatsApp.

Rumo ao tri: Brasil 247 concorre ao Prêmio iBest 2025 e jornalistas da equipe também disputam categorias

Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

Cortes 247

Carregando anúncios...
Carregando anúncios...