Governo Lula trocará “União e reconstrução” por slogan focado em justiça social

247 - Sob pressão crescente diante da crise política com o Congresso e do desgaste nas relações com partidos do Centrão, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) prepara uma mudança estratégica em sua comunicação oficial. Segundo informações do jornal O Globo, o Palácio do Planalto decidiu abandonar o slogan “União e Reconstrução”, adotado no início do mandato, e passará a investir em uma mensagem com foco em “justiça social” e combate às desigualdades.

A troca de slogan, que já vinha sendo debatida nos bastidores há semanas, ganhou força diante do agravamento do cenário político. Com o governo acuado após a derrota no Congresso sobre a taxação do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) e o consequente desgaste com partidos do Centrão, aliados de Lula veem a necessidade de reposicionar o discurso presidencial para tentar conter a perda de popularidade e retomar o apoio das bases sociais mais fiéis.

A decisão ocorre num momento em que o Centrão, bloco fundamental para a governabilidade, dá sinais de distanciamento. A formação da federação entre PP e União Brasil, que juntos passam a ter a maior bancada da Câmara e do Senado, reforçou o isolamento do governo e abriu caminho para articulações de centro-direita mirando as eleições de 2026.

Além disso, o mal-estar entre Executivo e Legislativo se aprofundou com a judicialização da derrota do governo na votação sobre o IOF, o que gerou pressão interna no PP pela saída do ministro do Esporte, André Fufuca, um dos quadros do partido na Esplanada. “Vamos discutir isso (saída do Progressistas do governo) em agosto, depois das convenções partidárias”, afirmou o presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI).

O União Brasil também segue o mesmo movimento. Embora a legenda tenha três ministros no governo — Celso Sabino (Turismo), Waldez Góes (Integração Regional) e Frederico Siqueira Filho (Comunicações) —, dirigentes admitem o possível desembarque formal, mas sem punir filiados que queiram permanecer próximos ao Planalto.

Neste contexto, a troca do slogan é vista pelo Planalto como mais do que uma mudança estética: trata-se de um ajuste estratégico de discurso, que busca resgatar o tom combativo da campanha de 2022 e reforçar a agenda popular do governo. Entre os temas que devem ganhar protagonismo estão a taxação dos mais ricos, a defesa da isenção do Imposto de Renda para a classe média assalariada e a ampliação de políticas sociais.

“O objetivo agora é reposicionar o governo em torno de pautas populares, com foco na melhoria da renda e na redução da desigualdade”, avalia um auxiliar próximo ao presidente. A leitura interna é de que o slogan “União e Reconstrução”, adotado após os ataques golpistas de 8 de janeiro de 2023, cumpriu seu papel inicial, mas hoje já está esvaziado diante do clima político hostil e da queda na aprovação do governo.

De acordo com a pesquisa Quaest divulgada em junho, a desaprovação ao governo Lula chegou a 57%, um dos piores índices desde o início do terceiro mandato do petista.

Nas últimas semanas, Lula intensificou o discurso em defesa de mudanças no sistema tributário e voltou a criticar a resistência de setores mais ricos à proposta de taxação. Em agenda no Tocantins, o presidente afirmou: “Não gostam dele por causa do projeto que aumenta o IR para os mais ricos”. Já durante o lançamento do Plano Safra, Lula voltou ao tema e reforçou: “Quando a gente coloca que as pessoas que ganham mais de meio milhão paguem um pouco mais, gera uma rebelião”. A avaliação é de que a polarização em torno de pautas como justiça social, taxação dos mais ricos e combate à desigualdade é inevitável e pode ser politicamente vantajosa, especialmente em um cenário eleitoral. O novo slogan, cuja formulação final ainda não foi oficialmente apresentada, já vem sendo testado por Lula e seus ministros e deve nortear tanto a comunicação institucional quanto a estratégia para a provável candidatura do presidente à reeleição em 2026.