Presidenta do NDB, Dilma Rousseff defende nova ordem global de financiamento sustentável
Dilma reforça cooperação Sul-Sul, critica a escassez de recursos para o clima e apresenta projetos estratégicos do banco dos BRICS
247 – A presidenta do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), Dilma Rousseff, defendeu uma nova arquitetura financeira internacional voltada para o desenvolvimento sustentável e criticou a escassez de recursos destinados à agenda climática. A fala ocorreu no seminário “A transição energética e a sustentabilidade do futuro”, realizado no último dia 9 de julho, no Rio de Janeiro, promovido pelo BNDES, com apoio do Brasil 247 e do site chinês Guancha.
Em sua apresentação, Dilma destacou o papel central que os bancos públicos e multilaterais podem cumprir no financiamento da transição ecológica e do desenvolvimento inclusivo. “O mundo passa por um momento crítico”, afirmou. “A emergência climática, a crescente desigualdade, a descarbonização e as transformações tecnológicas exigem um novo modelo de desenvolvimento que coloque a sustentabilidade ambiental no centro da estratégia econômica.”
O legado da Rio+20 e o papel da inovação
Dilma relembrou o debate iniciado na Rio+20, realizada em 2012 no Rio de Janeiro, como marco da integração entre sustentabilidade ambiental, justiça social e crescimento econômico. “Na Rio+20, abrimos caminho para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, com os quatro verbos: preservar, conservar, incluir e desenvolver”, destacou.
A presidenta do NDB apontou a China como exemplo bem-sucedido de transformação baseada em tecnologia limpa. “A trajetória chinesa não foi acidental. Foi impulsionada por planejamento estratégico, políticas públicas consistentes, financiamento robusto e articulação entre Estado, setor privado e academia.” Ela citou avanços como veículos elétricos, redes de ultra alta tensão, baterias de grande escala e energia solar como tecnologias disruptivas que estão mudando o mundo.
Energia solar, baterias e segurança do grid
Dilma destacou a importância das grandes baterias como solução para o caráter intermitente da energia solar. “A bateria passa a ser uma questão fundamental. Com ela, transformamos a energia do Sol em carga básica, ou seja, constante e segura para o sistema elétrico. Isso resolve um dos maiores desafios da descarbonização.”
Ela elogiou os avanços da China nesse campo e defendeu que o Brasil invista em tecnologias semelhantes. “É fundamental dominar tecnologias que transformam o uso da energia do Sol em fonte contínua de suprimento para a humanidade.”
NDB: inovação, moeda local e soberania
Dilma também detalhou os avanços do Novo Banco de Desenvolvimento, criado pelos países do BRICS, com foco em infraestrutura, sustentabilidade e inovação. “Somos o primeiro banco multilateral fundado exclusivamente por países emergentes e em desenvolvimento. Financiamos em moedas locais, respeitamos a soberania e não impomos condicionalidades. Não exigimos, por exemplo, privatizações.”
Cerca de 25% da carteira atual do banco já está denominada em moedas locais, com meta de alcançar 30% em 2025. “O uso de moedas locais reduz o custo do financiamento, mitiga riscos cambiais e permite projetos de longo prazo em setores estratégicos”, explicou.
Ela anunciou que 40% dos financiamentos do NDB são voltados exclusivamente para projetos sustentáveis e que 100% têm compromisso com a descarbonização. “Todos os projetos devem ser inclusivos, socialmente justos e territorialmente equilibrados.”
Projetos no Brasil: energia e saúde de ponta
Entre os projetos financiados pelo banco no Brasil, Dilma destacou:
- A linha de ultra alta tensão Graça-Aranha–Silvânia, que escoará energia solar e eólica do Nordeste, com 800kV de potência e menor perda de energia no transporte;
- O apoio ao estado do Rio Grande do Sul, com cerca de US$ 1 bilhão em recursos;
- E a construção do Instituto de Medicina Inteligente, hospital público totalmente digital, com inteligência artificial, big data, robótica e automação, integrado ao SUS e concebido com base em infraestrutura verde.
Segundo Dilma, esse hospital será “um polo de pesquisa, inovação e atendimento de alta complexidade, com baixo custo e alta produtividade”, com forte participação da China na transferência de tecnologia.
Cooperação Sul-Sul e expansão global
A presidenta do NDB reforçou a importância da cooperação entre países em desenvolvimento. “Sem cooperação internacional, é quase impossível reduzir o gap tecnológico. Países do Sul Global precisam de plataformas próprias de investimento e financiamento.”
Ela também mencionou o apoio do banco a projetos na Índia, China, África do Sul, Rússia, Bangladesh, Egito e Uzbequistão, entre outros. “Desde nossa criação, aprovamos mais de 120 projetos, somando cerca de US$ 40 bilhões em investimentos.”
Encerrando sua fala, Dilma fez uma defesa contundente da soberania dos países emergentes e do respeito às decisões nacionais. “Nós não impomos projetos. Recebemos as demandas dos países e financiamos com base em suas prioridades. O caminho das pedras é definido pelos governos e pelos seus povos.”
Com um discurso estruturado, técnico e político, Dilma Rousseff posicionou o NDB como peça estratégica na construção de uma nova ordem financeira internacional, com foco em transição energética, justiça social e soberania nacional. A presidenta do banco dos BRICS reafirmou a confiança na capacidade dos países do Sul Global de liderarem, juntos, um novo modelo de desenvolvimento sustentável. Assista:
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