Tarifaço de Trump: UE cogita acordo com tarifa universal de 10%, mas busca isenção para automóveis, aviões e metais
Bloco considera proposta assimétrica, mas aceita acordo provisório para manter exportações e evitar confronto direto
247 - A União Europeia está disposta a aceitar um arranjo comercial com os Estados Unidos que inclua uma tarifa universal de 10% sobre grande parte de suas exportações, desde que Washington ofereça concessões significativas em setores estratégicos como produtos farmacêuticos, semicondutores, bebidas alcoólicas e aeronaves comerciais. A informação foi revelada por fontes ouvidas pela Bloomberg sob condição de anonimato.
A pressão é grande: o prazo para um acordo com o governo do presidente Donald Trump se encerra em 9 de julho. Se até lá não houver entendimento, entrará em vigor uma tarifa de 50% sobre praticamente todas as exportações do bloco europeu aos EUA — medida que o republicano diz ser necessária para impulsionar a indústria nacional, compensar cortes de impostos e impedir abusos por parte de parceiros comerciais.
União Europeia busca isenções e cotas
Além do pleito por tarifas reduzidas em setores de alto valor agregado, a UE também tenta barganhar isenções e cotas que suavizem os pesados tributos atualmente em vigor nos EUA: 25% sobre automóveis e autopeças, e 50% sobre aço e alumínio. Segundo as fontes ouvidas pela Bloomberg, a Comissão Europeia, responsável pelas negociações comerciais do bloco, considera a proposta em estudo como ligeiramente favorável aos EUA, mas ainda aceitável.
O comissário europeu de Comércio, Maros Sefcovic, lidera nesta semana uma delegação a Washington com o objetivo de destravar o processo. A expectativa é por um acordo provisório que prorrogue as tratativas para além do prazo inicial. Os europeus também querem que eventuais tarifas futuras dos EUA — além das já existentes — sejam discutidas desde já.
Exportações bilionárias em risco
Dados da Comissão Europeia e do ING Groep NV apontam que, em 2024, a UE exportou €52,8 bilhões em carros e peças automotivas para os Estados Unidos, seu principal destino comercial. Já os embarques de aço e alumínio somaram €24 bilhões, com Alemanha, Itália e França na liderança.
Ainda segundo estimativas da UE, os impostos norte-americanos atualmente incidem sobre €380 bilhões — cerca de 70% de todas as exportações do bloco ao mercado americano.
Um porta-voz da Comissão Europeia foi procurado, mas não respondeu aos pedidos de comentário.
Possíveis cenários e ameaças de retaliação
Quatro possíveis desfechos estão na mesa, conforme autoridades europeias relataram a seus países-membros: 1) um acordo com assimetrias toleráveis; 2) uma proposta desequilibrada dos EUA, impossível de ser aceita; 3) a prorrogação do prazo para seguir negociando; ou 4) a retirada de Trump das conversas e a imposição unilateral de tarifas de 50%.
Neste último caso, a UE promete reagir de forma enérgica. Já estão aprovadas tarifas retaliatórias sobre €21 bilhões em produtos dos EUA, voltadas a estados politicamente sensíveis, como Louisiana — reduto do presidente da Câmara, Mike Johnson. Os alvos incluem soja, frango, motocicletas e outros bens agrícolas.
Além disso, a UE preparou uma lista adicional de tarifas sobre €95 bilhões em produtos americanos, caso Trump insista nas chamadas tarifas recíprocas e nos tributos automotivos. Essa nova leva atingiria bens industriais como aviões da Boeing, automóveis e bourbon. O bloco também consulta seus membros sobre medidas estratégicas não tarifárias, incluindo controle de exportações e restrições em contratos públicos.
Aposta em cooperação estratégica
Paralelamente às negociações tarifárias, a UE tenta incluir no pacote áreas de cooperação econômica estratégica, como gás natural liquefeito e tecnologias de inteligência artificial. Bruxelas espera que esses elementos ampliem o escopo do acordo e evitem um confronto comercial frontal com os EUA — embora os sinais vindos da Casa Branca, sob o segundo mandato de Trump, não sejam tranquilizadores.
A Comissão Europeia ainda não definiu por quanto tempo uma eventual solução provisória seria válida. O cálculo final dependerá do grau de desequilíbrio que o bloco está disposto a aceitar.
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