EUA: Trump enfrenta resistência no Senado e corre contra o tempo para aprovar pacote trilionário
Cortes em programas sociais e fim de incentivos à energia limpa ampliam divisões entre republicanos e alimentam ofensiva democrata
247 - O Partido Republicano, sob liderança do presidente Donald Trump, corre para superar as divisões internas que ameaçam travar a aprovação de um pacote de cortes de impostos e gastos do governo.
Avaliada em US$ 3,3 trilhões, a proposta encontra forte resistência dentro da própria bancada republicana no Senado, sobretudo em relação à profundidade dos cortes no Medicaid e ao fim acelerado dos incentivos fiscais para energias limpas, herdados do governo Biden. A reportagem é da agência Bloomberg.
Enquanto isso, os democratas — hoje excluídos das principais instâncias de poder em Washington — veem na crise interna republicana uma oportunidade para desgastar o projeto. Durante a chamada "votação por maratona", usarão emendas para tentar barrar cortes em programas sociais e, ao mesmo tempo, obrigar senadores republicanos a se posicionar publicamente sobre temas impopulares.
Divisões internas e risco de derrota
A expectativa do governo é de que o projeto chegue à mesa do presidente ainda nesta semana. "Tenho confiança de que o projeto avançará nas próximas horas e estará pronto para a assinatura do presidente no dia 4 de julho", disse o secretário do Tesouro, Scott Bessent, à Bloomberg Television na manhã de segunda-feira.
Mas o líder da maioria no Senado, John Thune, adotou tom mais cauteloso: "Nunca estamos confiantes até o momento da votação", declarou ao ser questionado sobre os apoios necessários para aprovar a medida.
A Casa Branca segue em contato direto com os parlamentares. Segundo a secretária de imprensa Karoline Leavitt, Trump se reuniu com Thune e com o presidente da Câmara, Mike Johnson, na manhã de segunda — embora fontes ligadas à agenda dos líderes indiquem que os encontros não se concretizaram.
Cortes em programas sociais no centro da disputa
O pacote prevê amplos cortes em políticas sociais como o Medicaid (seguro de saúde para pessoas de baixa renda e com deficiência), o programa de alimentação suplementar e os subsídios para financiamento estudantil. Para os democratas, a proposta representa uma violação das promessas de Trump na área da saúde e pode custar caro nas eleições legislativas de 2026.
"Isso apenas mostra que a maioria republicana está em risco porque esse projeto horroroso é extremamente impopular", afirmou o líder democrata no Senado, Chuck Schumer, ao comentar a aposentadoria anunciada do senador Thom Tillis, da Carolina do Norte — um dos dissidentes do partido.
Tillis, que declarou voto contrário ao projeto, criticou duramente os cortes no Medicaid: "O que eu vou dizer a 663 mil pessoas daqui a dois ou três anos, quando o presidente Trump romper sua promessa e as empurrar para fora do Medicaid porque os recursos não estarão mais disponíveis?", questionou em discurso no plenário. Sua decisão de não concorrer à reeleição em 2026 lhe dá mais liberdade para romper com Trump, que havia ameaçado apoiá-lo em uma eventual prévia republicana.
Ajustes de última hora e pressão sobre indecisos
Para aprovar o projeto, Thune precisa convencer ao menos cinco dos oito senadores republicanos que ainda não declararam apoio. Entre eles estão nomes influentes do campo conservador, como Rand Paul (Kentucky), Ron Johnson (Wisconsin), Cynthia Lummis (Wyoming), Rick Scott (Flórida) e Mike Lee (Utah). Paul já anunciou voto contrário, criticando o aumento do teto da dívida em US$ 5 trilhões.
Um dos focos das negociações é a tentativa de agradar essa ala com uma emenda que revoga a ampliação do Medicaid promovida pela gestão Obama. Mas nem mesmo Thune garante que a proposta será aprovada.
Do lado moderado, senadoras como Susan Collins (Maine) e Lisa Murkowski (Alasca) têm demonstrado reservas quanto aos cortes em programas sociais e ao fim dos créditos fiscais para energia solar e eólica. Collins tenta incluir uma emenda que dobraria o fundo para hospitais rurais para US$ 50 bilhões, financiada com um aumento da alíquota do imposto de renda para quem ganha mais de US$ 25 milhões ao ano. Sua proposta pode ser decisiva na fase final das negociações.
Mercado financeiro e impacto fiscal
No mercado, o aumento previsto no déficit público tem pressionado os títulos do Tesouro norte-americano. Apesar da leve alta registrada na segunda-feira, os papéis de longo prazo continuam a apresentar desempenho inferior ao restante do mercado. Em maio, os rendimentos dos títulos de 30 anos chegaram a superar 5% pela primeira vez no ano, refletindo a cautela dos investidores diante da necessidade de maior emissão de dívida e da elevação do prêmio de risco.
Risco político e urgência estratégica
Com um placar apertado — os republicanos têm 53 cadeiras e podem perder apenas três votos, considerando o voto de minerva do vice-presidente JD Vance —, cada movimentação conta. A ofensiva democrata busca expor contradições e ampliar o desgaste da proposta, enquanto o governo Trump aposta na mobilização para garantir a aprovação antes do feriado nacional.
A tensão nos bastidores mostra que, embora o projeto represente um marco para a agenda econômica da atual presidência, ele também carrega o potencial de implodir a já frágil unidade republicana no Senado.
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