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Remessas aéreas da Ásia aos EUA despencam após fim de isenção para pacotes da China

Volume de carga aérea entre Ásia e América do Norte caiu 10,7% em maio, após mudança na política tarifária dos EUA

Guindastes de pórtico perto de contêineres de transporte enquanto um navio porta-contêineres da Evergreen Marine Corp, o Ever Ace, está atracado no Porto de Yangshan, nos arredores de Xangai, China, em 17 de junho de 2025 (Foto: REUTERS/Go Nakamura)
Luis Mauro Filho avatar
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SHANGHAI/SEUL, 4 de julho (Reuters) – O volume de remessas aéreas da Ásia caiu de forma acentuada desde que os Estados Unidos cancelaram, no início de maio, a isenção de impostos para pacotes de baixo valor vindos da China, segundo grupos comerciais e analistas do setor.

A demanda por carga aérea da Ásia para a América do Norte recuou 10,7% em maio na comparação com o mesmo mês do ano anterior, de acordo com dados da Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA). Para o diretor-geral da entidade, Willie Walsh, os números ilustram “o efeito de enfraquecimento das mudanças nas políticas comerciais dos EUA”, conforme afirmou em relatório publicado na segunda-feira.

Pacotes avaliados em menos de US$ 800 — geralmente enviados por via aérea a clientes norte-americanos de plataformas de e-commerce de baixo custo como a Shein e a Temu, da PDD — estavam isentos de impostos sob a chamada regra de minimis, que dispensa a taxação por serem considerados de valor irrelevante.

Desde 2 de maio, no entanto, esses pacotes enviados da China e de Hong Kong passaram a ser tributados com alíquotas que chegaram inicialmente a 145%. Após uma trégua comercial entre os EUA e a China em meados de maio, as tarifas foram reduzidas para até 30%.

Os dois países continuam negociando questões comerciais. Nesta semana, os Estados Unidos afrouxaram restrições à exportação de software, etano e produtos aeroespaciais para a China, antes da data prevista de 9 de julho, quando devem voltar a impor uma série de tarifas elevadas a diversos países.

A IATA divulgou dados do mercado global de carga aérea para maio de 2025, mostrando uma queda de 10,7% na rota comercial entre Ásia e América do Norte.

Especialistas do setor apontaram que o volume de remessas de e-commerce de baixo valor da China para os Estados Unidos teve uma queda particularmente acentuada. Estimativas da consultoria aérea Aevean indicam que essas remessas caíram 43% em maio em relação ao mês anterior. Em contraste, houve aumento nas exportações para outros mercados principais, como Europa e Sudeste Asiático.

O diretor-gerente da Aevean, Marco Bloemen, afirmou que ainda não está claro se esse declínio se manterá, considerando que as empresas já esperavam o fim da regra de minimis e que a tarifa foi reduzida ao longo do mês. “Será que essas empresas de e-commerce voltarão ao mercado norte-americano agora que estão pagando 30% de imposto em vez de zero?”, questionou. Segundo ele, o redirecionamento para outros mercados em razão da incerteza sobre a política comercial dos EUA também pesa sobre o volume de remessas.

“Essa é uma tendência que esperamos continuar — mais e-commerce com destino à Europa é esperado em junho, incluindo mercados como a América Latina.”

Plataformas redirecionam foco

A consultoria aérea Rotate informou que plataformas de e-commerce vêm concentrando seus esforços em mercados alternativos para compensar a demanda perdida nos Estados Unidos, com aumento expressivo das exportações para a União Europeia e para a região Ásia-Pacífico.

Shein e PDD não responderam de imediato aos pedidos de comentário da Reuters.

Cortes no transporte de carga

O e-commerce de baixo valor vindo da Ásia vem ocupando uma parcela crescente do mercado global de frete aéreo, impulsionando os negócios das companhias aéreas. De acordo com dados da Aevean, essas remessas — que totalizaram 1,2 milhão de toneladas em 2024 — representaram 55% dos produtos enviados da China aos EUA por via aérea, ante apenas 5% em 2018.

Com a queda da demanda da Ásia para os Estados Unidos em maio, empresas aéreas retiraram aviões cargueiros das rotas transpacíficas e os realocaram em outras regiões, segundo especialistas do setor. Parte dessa demanda já retornou com a trégua tarifária entre os EUA e alguns países, mas a frequência dos voos foi reduzida.

“Alguns dos maiores operadores, que fretavam três voos semanais, reduziram para dois”, afirmou a consultoria de e-commerce Cirrus Global Advisors.

Dados da Rotate mostram que a capacidade direta de cargueiros entre China e EUA em junho foi 11% menor do que em março, anulando o crescimento registrado no último ano nessas rotas.

A empresa de logística Dimerco Express (5609.TWO) estimou que suas reservas de e-commerce caíram 50% em maio e junho. Como resultado, voos cargueiros programados continuam sendo cancelados, segundo relatório da empresa.

A regra de minimis, vigente desde 1938, vinha sendo alvo de críticas de parlamentares norte-americanos, por permitir que produtos chineses escapassem das tarifas dos EUA e por facilitar a entrada de drogas ilegais e precursores para a produção do opioide fentanil sem fiscalização.

Com reportagem de Casey Hall e Lisa Barrington; edição de Christopher Cushing

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