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Ameaças de Trump sobre o Brics tiveram impacto limitado, diz Tatiana Rosito

Secretária de Assuntos Internacionais do Ministério da Fazenda avalia que bloco segue fortalecendo multilateralismo mesmo com pressão dos EUA

Donald Trump e BRICS (Foto: Reuters)
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247 - As ameaças feitas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, contra o bloco BRICS não tiveram um impacto significativo na atuação do grupo durante a presidência brasileira, avalia a secretária de Assuntos Internacionais do Ministério da Fazenda, Tatiana Rosito, responsável pelas negociações técnicas da área econômica do grupo.

Em entrevista concedida à Folha de S.Paulo, a embaixadora destacou que o bloco tem ampliado o diálogo em busca de convergências justamente em um período no qual o multilateralismo enfrenta ataques, mesmo que a expansão recente do grupo torne esse processo mais complexo.

O BRICS atualmente reúne Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Indonésia e Irã como membros plenos. A Arábia Saudita, que recebeu convite em 2023, ainda não formalizou sua entrada, mas tem enviado representantes às reuniões. A cúpula do bloco acontecerá nos dias 6 e 7 de julho no Rio de Janeiro.

Questionada sobre como o atual cenário de tensões globais afeta o trabalho do grupo, Rosito enfatizou que "a reunião do BRICS no Brasil cresce em importância". Segundo ela, "o Brics não se coloca como um grupo antagônico, pelo contrário, tem como uma das suas principais bandeiras o apoio ao multilateralismo, às Nações Unidas, e expressa muito vocalmente essa bandeira".

A secretária explicou que a estratégia brasileira busca "valorizar o BRICS, primeiro, como um grupo que atrai a atenção dos países em desenvolvimento, tendo como uma das prioridades o fortalecimento institucional". Para ela, "o BRICS, na mesma medida em que cresce, é um grupo que evolui".

A presidência brasileira pretende "revalorizar o papel do BRICS, não só em defesa do multilateralismo, mas também com reformas nas instituições financeiras internacionais, que deem mais voz e participação para esses países, além de incentivar também a ampliação das relações comerciais, econômicas e políticas entre os próprios países do Brics, incluindo os novos membros".

Sobre as declarações de Trump dirigidas ao bloco, Rosito foi categórica: "O impacto foi bastante limitado porque a agenda BRICS na área financeira já estava basicamente traçada". A diplomata esclareceu que essa agenda "inclui temas de facilitação de comércio por meio de inovações em sistemas de pagamento".

"O olhar do BRICS é para expandir o fluxo de comércio de investimentos intra-Brics, buscando entender melhor como reduzir custos e favorecer transações entre esses países", detalhou.

A secretária ressaltou ainda que se trata de "uma agenda de engajamento nas instituições financeiras tradicionais, buscando uma atuação mais estratégica dos representantes do BRICS para tratar dos temas das organizações, sem descuidar dos mecanismos financeiros criados pelo próprio grupo e que estão completando dez anos: o acordo contingente de reservas e o Novo Banco de Desenvolvimento".

Entre as novidades desta presidência brasileira, Rosito destacou que "pela primeira vez no BRICS estamos tratando de mecanismos inovadores para financiamento climático e um diálogo para a COP30". A conferência climática da ONU acontecerá em novembro em Belém.

"É prioridade da presidência discutir a reforma dos bancos multilaterais, dos fundos climáticos, mecanismos de financiamento, mobilização de capital privado, mercado de carbono, taxonomia, legislação prudencial", enumerou a diplomata.

Segundo ela, "toda a agenda da COP30 na área financeira também está sendo discutida com o BRICS. O BRICS não é um grupo negociador nessa área, mas nós estamos buscando construir convergência".

O bloco criou uma força-tarefa específica para parcerias público-privadas e está "tratando de impulsionar mecanismos de blended finance e de mitigação de risco cambial, a exemplo do Eco Invest". Para Rosito, "apostar em instrumentos que possam facilitar o fluxo de capital para os países em desenvolvimento e para a transição climática é hoje bastante central nas discussões".

Uma das principais propostas em discussão é "a possível criação de um mecanismo de garantias do BRICS, que vai ampliar o papel do banco e permitir viabilizar investimentos de mais longo prazo nas áreas de transição energética, economia circular, infraestrutura sustentável e outras".

Rosito explicou que "em geral, são mecanismos que reduzem o risco de um projeto ou de uma parte do projeto, fazendo com que ele possa, então, ter um custo de capital menor e atrair mais investidores". As garantias "podem cobrir várias questões, desde riscos políticos, riscos comerciais, riscos de construção".

Sobre os efeitos da ampliação do grupo nas discussões sobre reforma do sistema financeiro internacional, a secretária avaliou que "o BRICS tem uma agenda voltada para ampliação do peso dos países em desenvolvimento na agenda dos organismos financeiros" e que a expansão "pode reforçar" essa agenda.

"Um agrupamento maior passa a ter cooperação por essa reforma comum. Ela traz também diversidade para o grupo", observou.

Questionada se a posição do governo americano dificulta uma reforma para um sistema financeiro mais justo, Rosito reconheceu que "mudanças específicas no peso dos países nas instituições, no fundo, são mais delicadas nesse momento".

Contudo, ela apontou que "na hora que você tem um dos países unilateralmente tomando medidas, você também tem os outros países buscando dialogar e se unir sobre outras posições comuns. Mecanismos alternativos podem ganhar mais peso, diálogo entre os países, são temas que ganham relevo no momento em que você tem o multilateralismo enfraquecido e sob ataque".

A diplomata anunciou que "através de declarações na área de ministros das Finanças, o BRICS vai se pronunciar sobre a reforma da governança das instituições financeiras e sobre temas relativos à questão tributária. O BRICS vai ter instrumentos e documentos específicos na área de cooperação tributária internacional".

Sobre como conciliar o financiamento climático em um grupo que inclui países exportadores de petróleo, Rosito indicou que o foco será "manifestar posição relativa à necessidade de ampliação do capital dos bancos, de alavancagem de recursos privados, mostrar a insuficiência do acordo atual, como chegar a US$ 1,3 trilhão previsto no roadmap Baku a Belém".

Para definir uma presidência bem-sucedida na área financeira, a secretária estabeleceu que "nós gostaríamos de entregar um comunicado que mostra convergência do BRICS expandido, em torno de elementos cruciais para os países em desenvolvimento, não só de reforma das instituições financeiras internacionais, mas também de maiores recursos concessionais, instrumentos inovadores para a transição climática e contribuição das economias avançadas em termos de recursos concessionais".

O objetivo final, segundo Rosito, é apresentar "uma agenda que mostre consolidação, mesmo num BRICS ampliado, que vai continuar a trabalhar para o fortalecimento dos instrumentos intra-Brics, do Novo Banco de Desenvolvimento, do acordo contingente, de maior integração dos mercados de capitais, em áreas novas como resseguros".

"Mostrar, sobretudo, que diante de um mundo com maiores desafios, em que o multilateralismo é questionado, o BRICS continua aparecendo como uma força",disse.

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