Brasil tenta mediar impasse no BRICS após Irã pedir condenação a EUA e Israel
Proposta iraniana inclui menção direta aos bombardeios de junho, mas Itamaraty busca consenso com texto mais genérico
247 - Trechos do rascunho da Declaração de Líderes do BRICS, obtidos pelo jornal O Estado de S. Paulo, revelam divergências nas discussões entre os países do bloco sobre o teor do documento final que será divulgado após os encontros no Rio de Janeiro. A tensão se concentra em uma proposta apresentada pela delegação iraniana, que pressiona por uma condenação explícita aos Estados Unidos e a Israel pelos bombardeios iniciados em 13 de junho contra o território do Irã.
A iniciativa iraniana propõe uma linguagem direta e enfática, apontando os ataques como violações do direito internacional e da Carta da ONU. “Condenamos veementemente os ataques militares realizados por Israel e pelos Estados Unidos contra a República Islâmica do Irã desde 13 de junho de 2025, que constituem uma violação do direito internacional e da Carta das Nações Unidas [...]”, diz um dos trechos apresentados por Teerã.
Esse posicionamento,nde acordo com a reportagem, esbarra na resistência de países que mantêm relações diplomáticas com Washington e Tel Aviv. O Brasil, anfitrião da reunião e responsável por conduzir as negociações, propôs um texto mais neutro, sem a inclusão do advérbio “veementemente” e sem menção direta aos autores dos bombardeios.
A diplomacia brasileira atua como mediadora e propõe um texto intermediário, que suaviza o tom crítico em relação aos Estados Unidos e a Israel, buscando preservar a unidade do bloco. Segundo os registros, o texto sugerido por Brasília mantém a condenação aos ataques a alvos civis, mas de forma mais ampla, permitindo a interpretação de que a crítica se estende tanto ao Irã quanto aos seus adversários.
Essa abordagem também visa evitar um confronto direto com o presidente dos EUA, Donald Trump, que celebrou publicamente o ataque à infraestrutura nuclear iraniana. A versão anterior da declaração do BRICS, divulgada após os ataques de 21 de junho, também evitou citar os autores da ação, apesar dos danos causados às instalações de Fordow, Natanz e Isfahan.
Outro ponto sensível do rascunho é o parágrafo dedicado à reforma do Conselho de Segurança da ONU. Em 2024, o Brasil sofreu uma derrota diplomática ao ver retiradas do texto as menções nominais ao seu pleito por uma vaga permanente, bem como ao da Índia e da África do Sul. O motivo foi a objeção de novos membros, como Egito e Etiópia, que reivindicam que a escolha dos representantes africanos obedeça ao Consenso de Ezulwini e à Declaração de Sirte, documentos da União Africana de 2005 que defendem uma posição comum do continente.
Agora, o Itamaraty tenta reverter a perda e restaurar ao menos a menção direta a Brasil e Índia no documento. Um novo rascunho propõe reafirmar os termos acordados na cúpula de 2023 em Joanesburgo. “Incluindo Brasil e Índia”, como países que devem “desempenhar um papel mais relevante nos assuntos internacionais, em particular nas Nações Unidas, incluindo seu Conselho de Segurança”, destaca um trecho do documento, conforme a reportagem .
Durante as reuniões preparatórias conduzidas pelos embaixadores Paula Barboza e Mauricio Lyrio, diplomatas egípcios e etíopes voltaram a se manifestar contra a proposta. Em abril, chanceleres desses dois países já haviam registrado objeção por escrito com notas de rodapé no encontro de ministros do bloco, realizado em Brasília.
Além das disputas geopolíticas, o texto da declaração também deve incorporar temas prioritários para o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, como combate à fome, pobreza e desigualdade, além de abordar mudanças climáticas. Os líderes do BRICS devem se posicionar contra a tentativa de associar segurança internacional à crise ambiental. “Expressamos oposição veemente a vincular artificialmente segurança e mudança climática””, ressalta o esboço.
No que se refere à questão palestina, o grupo debate substituir a “solução de dois Estados” pela expressão “apoio ao Estado Palestino”, em resposta à escalada do conflito na Faixa de Gaza após novos ataques israelenses. As decisões finais sobre a linguagem do documento devem ser tomadas nos próximos dias, antes da cúpula oficial dos chefes de Estado.
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