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“O Irã é um dos países mais seguros que já visitei”, diz historiador

Historiador Márcio Santos narra sua experiência de sete meses no país e contesta estereótipos propagados pelo Ocidente sobre a sociedade iraniana

(Foto: Divulgação | Reuters )
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247 - Em entrevista ao programa Boa Noite 247, o historiador e ativista Márcio Santos, da Marcha Global por Gaza, compartilhou suas impressões sobre o Irã, onde viveu por sete meses em duas estadias entre 2024 e 2025. Com trajetória marcada por estudos sobre a história colonial brasileira e a expansão dos povos árabes no Oriente Médio e norte da África, Santos se dedicou recentemente a um documentário sobre a realidade iraniana e afirmou que o país contradiz profundamente os estigmas frequentemente promovidos pela mídia ocidental.

“O Irã é um dos países mais seguros que já visitei”, disse. “Me senti mais seguro em cidades como Teerã, Esfahan e Shiraz do que em algumas capitais europeias. Essa percepção de que o Irã é perigoso, atrasado ou hostil ao estrangeiro é completamente distorcida.”

Santos ressaltou que o Irã é um país complexo, moderno e com elevado nível de infraestrutura. “Mesmo sob severas sanções econômicas impostas há décadas, especialmente após a saída de Donald Trump do acordo nuclear, o país mantém um sistema de saúde funcional — que eu mesmo utilizei —, boas redes de transporte e uma população informada e escolarizada.”

Ao abordar o cotidiano nas grandes cidades, o historiador relatou que há baixa presença de pobreza nas ruas. “É raro ver pessoas em situação de rua ou fome extrema. Isso se deve, em parte, à estrutura de apoio social presente na sociedade, algo que também tem relação com a prática religiosa islâmica, que incentiva a caridade e a assistência aos mais necessitados.”

Santos também tratou do contraste entre o governo e a sociedade. “É preciso separar o regime teocrático, com sua plataforma moralista e restrições sociais, da sociedade iraniana, que é urbana, curiosa e acolhedora. É uma população que anseia por conhecimento, valoriza a cultura e mantém um padrão elevado de vida nas áreas urbanas.”

A cultura, aliás, foi outro ponto destacado por ele. “O Irã é o país mais bonito que já visitei. É uma amálgama de história, arte, arquitetura e gastronomia, temperada por uma população extremamente gentil. Há um gosto refinado pela estética, uma tradição poética viva, uma culinária rica e um cotidiano que desafia a visão reducionista promovida pelo discurso islamofóbico.”

Sobre a arquitetura e o meio ambiente, o historiador apontou a diversidade geográfica do país. “O Irã é um dos países mais montanhosos do mundo, com desertos, florestas e o Mar Cáspio ao norte. É possível sair da última estação de metrô em Teerã e, em poucos minutos, estar no pé de uma montanha. É algo impensável em muitas metrópoles.”

Márcio Santos também comentou sobre o cinema iraniano e o contato com a arte. “Apesar da censura imposta pelo governo religioso, o Irã mantém um dos cinemas mais importantes do mundo, com obras significativas produzidas mesmo sob fortes restrições. E em toda parte, a arte está presente, das mesquitas aos jardins persas.”

A entrevista trouxe, ainda, reflexões sobre como o Irã foi isolado culturalmente. “A imagem do país como um lugar hostil foi fabricada ao longo de décadas pela mídia ocidental. Isso faz parte de um processo mais amplo de exclusão ideológica e islamofobia, analisado por Edward Said em seu livro Orientalismo, que é central para compreender essa narrativa.”

Segundo ele, conhecer o Irã é confrontar o preconceito: “O país foi transformado num símbolo de ameaça, quando na realidade é um espaço de resistência cultural e de grande riqueza histórica. O que vi lá foi uma sociedade viva, complexa e acolhedora — bem diferente da caricatura difundida internacionalmente.” Assista: 

 

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