Breno Altman: "A Terceira Guerra Mundial já começou, mas não no formato clássico"
Jornalista analisa ações dos Estados Unidos no Oriente Médio e alerta para o risco de escalada militar global liderada por Washington
247 – Em entrevista ao programa Bom Dia 247, o jornalista Breno Altman avaliou o atual cenário geopolítico e afirmou que, apesar de ainda não estarmos diante de uma guerra mundial nos moldes clássicos, o mundo já vive uma nova fase de conflitos simultâneos com potencial de expansão. Segundo ele, “a terceira guerra mundial já começou, mas ainda não é uma guerra entre potências”.
Para Altman, os Estados Unidos escolheram o caminho da guerra como estratégia para tentar conter a perda de sua hegemonia internacional. “Sempre existe espaço para praticar diplomacia. Agora, a diplomacia não é mais o veio principal. O principal, por decisão dos Estados Unidos, é a guerra. E quem fechar os olhos para isso estará enganando a si próprio e aos demais”, declarou.
O jornalista argumenta que a disputa de hegemonia no século XXI tende a repetir padrões históricos: “Nós nunca vivemos troca de hegemonia por caminhos pacíficos, porque quem perde a hegemonia vai defendê-la com faca nos dentes. É o que os Estados Unidos estão fazendo”.
Breno Altman destacou que os conflitos atuais são regionais, mas conectados por uma lógica comum de confrontação. “Temos a erupção de guerras regionais nos pontos de tensão onde a hegemonia norte-americana está sob cheque: Europa do Leste, Oriente Médio, Mar da China e América Latina”, enumerou.
Ele defende que ainda não há confronto direto entre as grandes potências, o que caracterizaria formalmente uma guerra mundial: “Não estamos numa guerra mundial porque as grandes potências não estão em confronto direto. O que caracteriza a guerra mundial é o embate direto entre as potências que centralizam as divergências do mundo. Isso ainda não aconteceu”.
Contudo, Altman aponta que os conflitos são travados de forma indireta, com países intermediários atuando como procuradores. “Os Estados Unidos não estão lutando contra a Rússia. Quem está lutando contra a Rússia é a Ucrânia. Mas a Ucrânia é abastecida, orientada, financiada e armada pelos Estados Unidos e pela OTAN. É uma guerra indireta. A mesma lógica se aplica ao Oriente Médio”, explicou.
Sobre a recente escalada no conflito entre Estados Unidos, Israel e Irã, Altman considera que a decisão do presidente Donald Trump de ordenar ataques sem aval do Congresso norte-americano representa “uma violação da Constituição dos Estados Unidos e da Carta das Nações Unidas”. Ele lembra que, segundo o direito internacional, o uso da força só é legítimo em casos de autodefesa ou por decisão do Conselho de Segurança da ONU — o que não se aplica aos bombardeios recentes.
“A autodeterminação dos povos é o princípio regulador do direito internacional. Se aceitarmos que Estados imperialistas como os Estados Unidos ou seus fantoches, como Israel, possam atacar outros países porque não gostam de seus regimes políticos, criamos uma situação desastrosa no cenário internacional”, afirmou.
Altman ainda observa que o fechamento do Estreito de Ormuz pelo Irã — já autorizado pelo parlamento iraniano — pode desencadear consequências econômicas globais. “Passam por ali 20% do comércio mundial de petróleo. Fechar o estreito é, na prática, provocar uma redução de 20% na oferta mundial. O barril pode chegar a 200 ou 300 dólares, provocando caos na economia global”, disse.
O jornalista também analisou as possíveis reações das potências asiáticas diante da ofensiva norte-americana: “A grande incógnita neste momento é o que farão Rússia e China diante da escalada contra o Irã. Esse será um bom teste”. Para ele, se essas potências não impuserem algum grau de defesa militar ao Irã, os Estados Unidos sairão vitoriosos em sua estratégia de contenção da decadência hegemônica.
Ele conclui afirmando que a situação atual é marcada por “guerras por procuração” que, embora ainda não configurem uma guerra mundial clássica, caminham para uma intensificação perigosa do conflito entre blocos de poder. “A hegemonia norte-americana somente será suplantada quando os países que hoje a contestam forem capazes de se defender militarmente”, resumiu. Assista:
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