"Tarifas foram presente de Trump para Lula", diz ex-embaixador dos EUA
Thomas Shannon afirma que ameaça tarifária busca interferir em processo contra Bolsonaro, mas acaba favorecendo Lula ao fortalecer a soberania brasileira
247 – O ex-embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Thomas Shannon, avaliou em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo que a recente ameaça do presidente americano Donald Trump de impor tarifas de 50% sobre produtos brasileiros tem como principal objetivo interferir no processo judicial contra Jair Bolsonaro. Segundo Shannon, entretanto, o efeito prático da medida pode acabar favorecendo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao fortalecer a posição do Brasil como um país soberano que não aceita ingerências externas.
“O que o presidente Trump fez foi dar um grande presente ao presidente Lula”, afirmou Shannon à Folha. Para o diplomata, que é uma das maiores referências em assuntos latino-americanos nos Estados Unidos, a estratégia de Trump visa diretamente impedir que Bolsonaro seja julgado e mantido inelegível, mas não surtirá efeito. “O governo brasileiro não vai conseguir negociar sua integridade institucional”, ressaltou.
Pressão política com assinatura da família Bolsonaro
De acordo com Shannon, a pressão exercida por Trump tem forte influência do lobby da família Bolsonaro, em especial do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que mantém estreitos laços com o entorno de Trump e o movimento MAGA. “O presidente americano já deixou claro em suas falas e cartas que o objetivo é interferir no processo de Bolsonaro e garantir que ele possa disputar a eleição de 2026”, explicou.
O ex-embaixador também fez um paralelo com o que chamou de “momento Mark Carney”, em referência ao primeiro-ministro do Canadá, que se beneficiou politicamente após resistir a ameaças tarifárias dos Estados Unidos. Shannon sugeriu que a ofensiva americana pode gerar efeitos semelhantes no Brasil, reforçando a posição do governo Lula em defesa da democracia e da autonomia nacional.
Pressão tende a fracassar e prejudicar Trump, diz Shannon
O ex-embaixador acredita que a tentativa de pressão política dificilmente terá sucesso. “O Brasil é conhecido por respeitar a independência de suas instituições e não permitirá que uma potência estrangeira dite os rumos do seu processo democrático”, afirmou.
Shannon apontou que a própria economia americana poderá reagir negativamente à medida. “Indústrias importantes dos Estados Unidos, especialmente as que dependem de importações brasileiras, como café e suco de laranja, vão pressionar Trump para recuar”, disse. Ele também mencionou que o USTR, órgão responsável pelas negociações comerciais, teria sido surpreendido pelo anúncio, que partiu de uma decisão pessoal de Trump.
Tentativas de diálogo ignoradas pelo governo Trump
Ao comentar sobre a relação diplomática, Shannon observou que o governo Lula tentou abrir canais de comunicação com a Casa Branca, mas encontrou dificuldades. “O governo brasileiro buscou ativamente o diálogo, mas há poucas pessoas dispostas a conversar, porque estavam focadas em outras agendas”, relatou.
Sobre a justificativa para a tarifa de 50%, Shannon foi direto: “Não há lógica econômica. É um número pensado para chocar”. Ele também apontou que a ameaça não se sustenta juridicamente: “Nenhuma das bases legais para aplicação de tarifas nos Estados Unidos se encaixa neste caso. A legalidade certamente será questionada, mas alguém precisa fazer isso formalmente”.
A consequência pode ser a aproximação com China e Europa
Para Shannon, o episódio acabará empurrando o Brasil para uma aproximação ainda maior com outros parceiros internacionais. “Essa medida só reforça para o Brasil que precisa diversificar suas parcerias e manter uma distância prudente dos Estados Unidos. Isso pode fortalecer laços com China, União Europeia e outras potências”, afirmou.
O diplomata destacou que as ameaças tarifárias mostram a instabilidade das relações com Washington sob a liderança de Trump. “O que ele está fazendo é oferecer mais evidências para aqueles no Brasil que desconfiam da confiabilidade dos Estados Unidos como parceiro”, finalizou.
Quem é Thomas Shannon
Thomas Shannon, de 67 anos, foi embaixador dos Estados Unidos no Brasil entre 2009 e 2013. Ocupou posições de destaque no Departamento de Estado, como subsecretário para Assuntos Políticos e secretário assistente para o Hemisfério Ocidental. Com uma longa carreira diplomática, Shannon é considerado um dos mais experientes analistas políticos americanos sobre a América Latina.
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