Crime se infiltra no mercado financeiro, enquanto a CVM dorme no ponto
Investidor Renato Giraldi aponta que foco excessivo das autarquias na agenda ESG abriu espaço para o PCC, contaminando a higidez da Faria Lima
247 – O investidor Renato Giraldi publicou um alerta importante para reguladores e agentes financeiros ao denunciar, em postagem na rede X (antigo Twitter), que o Primeiro Comando da Capital (PCC) já circula pelo coração do sistema financeiro — não mais como força paralela, mas como participante “com contrato, CNPJ, parecer jurídico e acesso a concessões públicas” – sem qualquer reação da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). A mensagem, publicada em sua conta oficial, repercutiu entre operadores da Faria Lima e especialistas em prevenção à lavagem de dinheiro, que identificaram no alerta uma crítica contundente às prioridades institucionais dos últimos anos.
“Todos esses anos com CVM, Banco Central, Febraban e outras autarquias concentradas em ESG, diversidade e sinalizações reputacionais — e ninguém percebeu o PCC abrindo fintech, disputando licitação, investindo em fundos?”, questiona Giraldi na postagem. Para ele, o crime se sofisticou enquanto autoridades direcionavam “o foco institucional a narrativas, não a estruturas”, abrindo brechas para que capitais ilícitos se infiltrassem aos fluxos formais.
O advogado sustenta que o problema não está na falta de regras, mas na escolha “deliberada de onde mirar e de onde desviar o olhar”. Segundo seu diagnóstico, o aparato normativo já seria suficiente para bloquear operações suspeitas se houvesse “de fato, interesse em agir”. A resposta, entretanto, tende a repetir receitas já conhecidas: “mais compliance, mais regulação, mais filtros”, sem enfrentar a raiz da captura criminosa das cadeias de intermediação financeira.
Giraldi também ironiza a surpresa recente manifestada por executivos do principal centro financeiro do País, a Faria Lima, com o “risco PCC nos negócios", como foi noticiado pela Folha de S. Paulo. “Agora, subitamente, a Faria Lima se diz surpresa: o crime se sofisticou, passou a operar dentro das regras, contaminando as cadeias do mercado financeiro e ameaçando margens do próprio centro financeiro que o ignorou por tanto tempo”, escreve. O recado atinge sobretudo os formadores de opinião que, nos últimos anos, exaltaram políticas de reputação corporativa sem exigir a mesma energia para rastrear fluxos de dinheiro e estruturas societárias opacas.
A crítica ecoa advertências históricas de delegados federais e especialistas em lavagem de dinheiro, que apontam o estado de São Paulo — maior centro de consumo e circulação de capital do País — como terreno fértil para grupos criminosos profissionalizarem seus negócios. Desde a década passada, relatórios de inteligência já indicavam que facções abandonaram a ostentação e passaram a investir em fundos, empresas de fachada e licitações, adotando governança suficiente para escapar de filtros tradicionais.
Nos bastidores, executivos admitem que a expansão da agenda ESG — relevante para a sustentabilidade dos negócios — acabou virando distração quando adotada como fim em si mesma, e não como complemento à due diligence financeira. Economistas lembram que as primeiras denúncias sobre fintechs associadas ao PCC surgiram em 2023, mas foram tratadas como “casos isolados” por falta de provas robustas ou de cooperação interinstitucional imediata.
Giraldi conclui seu alerta com um lembrete incômodo: “O capital marginal não confronta mais o sistema — apenas se adaptou o suficiente para participar dele”. A frase, que ecoa a velha máxima de que o dinheiro ilícito busca sempre o caminho de menor resistência, fica como provocação para reguladores que, na era da reputação, talvez tenham subestimado o poder de camuflagem do crime organizado.
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