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Governo Lula e Centrão se unem contra tarifaço de Trump e isolam Bolsonaro e seus cúmplices

Alinhamento emergencial contra sanções dos EUA expõe desgaste do bolsonarismo e reacende discurso patriótico no Congresso

Lula, Haddad, notas de dólares e plenário da Câmara dos Deputados (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil | Pablo Valadares/Câmara dos Deputados | REUTERS/Sukree Sukplang)
José Reinaldo avatar
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247 - Após semanas de tensão política em torno da crise provocada pela taxação do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), o governo Lula e o Centrão encontraram terreno comum para reagir ao tarifaço anunciado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. A ameaça de retaliações comerciais a partir de 1º de agosto realinhou posições no Congresso e provocou o isolamento de parlamentares ligados ao ex-presidente Jair Bolsonaro, que insistem em vincular a retirada das sanções à aprovação de uma anistia para os envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023.

O movimento de aproximação entre o Palácio do Planalto e lideranças do Congresso ocorre após meses de atritos. Diante do impacto do tarifaço americano e da reação nacional, o embate deu lugar a um discurso de defesa da soberania nacional, informa O Globo.

“Acho que já ampliou o leque de apoio ao governo, aproxima setores econômicos refratários, desgasta, como nunca, o bolsonarismo e refaz a relação harmoniosa entre Poderes”, afirmou o senador Renan Calheiros (MDB-AL).

A leitura predominante no Congresso é que a ofensiva de Trump enfraquece o discurso dos aliados de Bolsonaro e empurra o centro político para um campo de unidade nacional. Ainda assim, líderes do PP, MDB, União Brasil e PSDB avaliam que esse alinhamento é circunstancial e tende a se desmanchar com o arrefecimento da crise.

Mesmo entre os pragmáticos do Centrão, o discurso bolsonarista tem gerado desconforto. O líder do PSD no Senado, Otto Alencar (BA), foi direto:

“O que me chama atenção é essa capacidade de entreguismo do bolsonarismo. Eles colocam o boné [do Trump] e, ao mesmo tempo, se enrolam na bandeira do Brasil. É a definição de oportunismo. Houve esse alinhamento do governo com o centro, sim. Houve um sentimento de unidade. Quem tem sentimento de patriotismo tem que se unir. Eu acho que isso vai reacender essa unidade em defesa do Brasil.”

Agenda em disputa e nova rodada de votações

O realinhamento político ocorre em meio a uma semana legislativa agitada. Nesta segunda-feira, a Câmara vota a revisão nas regras de licenciamento ambiental. O projeto, que flexibiliza critérios ambientais, é visto como derrota para a ministra Marina Silva e para a ala ambientalista do governo. Em contrapartida, ministérios como o da Casa Civil, Transportes, Agricultura e Minas e Energia defendem o texto, alegando que ele permitirá acelerar obras de infraestrutura.

O governo ainda não definiu posição oficial sobre o projeto. O líder do governo na Câmara, deputado José Guimarães (PT-CE), segue em negociação com as bancadas. Mesmo se for aprovado, o texto ainda depende de sanção presidencial. Lula poderá vetar total ou parcialmente o projeto, mas o Congresso pode reverter sua decisão.

A proposta já havia sido aprovada pelo Senado em maio, com atuação direta de Alcolumbre, que incluiu uma emenda criando a “Licença Ambiental Especial (LAE)”. O dispositivo permite autorizações simplificadas para obras consideradas “estratégicas”, mesmo que gerem significativa degradação ambiental. Organizações ambientais acusam o modelo de abrir margem para decisões políticas sobre projetos sem viabilidade ecológica.

Além disso, duas iniciativas importantes serão analisadas nas comissões nesta semana: a PEC da Segurança Pública, defendida pelo ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, e o projeto que amplia a faixa de isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil, relatado por Arthur Lira (PP-AL).

A proposta de isenção deve ter um impacto fiscal de R$ 27 bilhões anuais. Lira ainda busca formas de compensar essa perda de receita, mas o governo vê na medida uma oportunidade para ampliar sua popularidade entre os trabalhadores formais.

Apesar das incertezas, líderes políticos avaliam que a crise com os EUA pode marcar o início de um esvaziamento do capital político de Bolsonaro e seus aliados, com efeitos sobre a corrida presidencial de 2026. Como observou um dirigente do União Brasil, “a política muda rápido, mas ninguém vence defendendo outro país contra o seu”.

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