Estudo da Embrapa e Federal do Ceará aponta árvores mais resilientes para restaurar florestas na Amazônia
Pesquisa destaca o angelim-vermelho e outras espécies nativas com alto potencial para recuperar áreas degradadas e fortalecer a bioeconomia da região
247 - Uma pesquisa publicada na revista científica internacional Forests revelou quais espécies de árvores nativas da Amazônia têm maior capacidade de restaurar áreas degradadas, oferecendo soluções sustentáveis frente à crise climática e ao desmatamento. O trabalho é resultado de uma colaboração entre a Embrapa Amazônia Oriental (PA), a Universidade Federal do Ceará (UFC) e outras instituições, sob a liderança da pesquisadora Lucieta Martorano, da Embrapa.
O estudo se apoia no chamado zoneamento topoclimático, metodologia desenvolvida por Martorano, que combina dados climáticos, topográficos e geográficos para identificar áreas com maior adequação ao plantio e manejo de determinadas espécies. Ao todo, foram analisadas 12 espécies de alto valor ecológico e econômico, entre elas o angelim-vermelho, ipê-amarelo, copaíba, mogno-brasileiro e marupá.
Zoneamento topoclimático como base para políticas públicas - A metodologia reúne mais de 7,6 mil registros georreferenciados de árvores nativas e os cruza com dados coletados entre 1961 e 2022. O resultado são mapas que indicam o nível de aptidão (alta, média ou baixa) de áreas da Amazônia para o cultivo dessas espécies. Segundo Martorano, a ferramenta pode transformar a forma como o país planeja a restauração de áreas degradadas. “É uma metodologia de planejamento com enorme potencial para embasar políticas públicas voltadas à restauração florestal, bioeconomia e adaptação climática. É ciência aplicada ao território”, destacou.
Um dos achados mais promissores envolve o angelim-vermelho (Dinizia excelsa), que demonstrou até 81% de alta aptidão topoclimática em áreas antropizadas — ou seja, degradadas ou alteradas pela ação humana. Já o marupá (Simarouba amara), por sua alta plasticidade ambiental, surge como alternativa viável para regiões com menor adequação climática, desde que acompanhado por um manejo adaptativo.
Potencial econômico e ambiental integrado - O estudo também reforça a conexão entre restauração ecológica e desenvolvimento sustentável, em sintonia com políticas públicas como a Lei de Pagamento por Serviços Ambientais (PSA). A aplicação do zoneamento topoclimático pode impulsionar a silvicultura de espécies nativas como atividade geradora de renda, ao mesmo tempo em que fortalece a biodiversidade e a resiliência dos ecossistemas amazônicos frente aos desastres naturais.
Essa abordagem, segundo os autores, é uma aliada no cumprimento das metas climáticas assumidas pelo Brasil no Acordo de Paris, especialmente no que diz respeito ao reflorestamento e à redução da perda de biodiversidade. Além disso, ao indicar com precisão onde e como reflorestar, o país passa a oferecer condições mais atrativas para investimentos internacionais em iniciativas como o mercado de crédito de carbono.
Serviços ambientais e investimentos climáticos - Silvio Brienza Junior, pesquisador da Embrapa Florestas (PR) e coautor do artigo, destaca o papel das espécies nativas no fornecimento de serviços ambientais essenciais. “Quando o país identifica com precisão onde e como reflorestar, cria melhores condições para atrair investimentos climáticos internacionais”, afirma. Segundo ele, árvores bem adaptadas ao ambiente local maximizam benefícios como o sequestro de carbono, a regulação hídrica e térmica e a preservação da fauna e flora.
O zoneamento topoclimático, por fim, pode ser aplicado a qualquer bioma brasileiro, tornando-se uma ferramenta estratégica para orientar programas de recuperação ecológica, bioeconomia e enfrentamento das mudanças climáticas em todo o território nacional.
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