Brasil reage com firmeza à escalada protecionista de Trump que golpeia siderúrgicas, agroexportadores e laços comerciais
Tarifas unilaterais de Trump contra exportações brasileiras abalam trabalhadores e economia, reacendendo tensões diplomáticas e comerciais
As tarifas unilaterais impostas por Donald Trump contra as exportações brasileiras, com início previsto para 1º de agosto, impactam diretamente trabalhadores e a economia, reacendendo tensões diplomáticas e comerciais entre os dois países.
Na pausa da tarde desta quarta-feira, 9 de julho de 2025, Pedro Wilson, 42 anos, operário de uma siderúrgica em São Paulo, limpava o suor do rosto quando a notícia lhe veio como um soco. Sentado no refeitório, entre o cheiro de café e o barulho das máquinas ao fundo, ele ouviu no rádio: Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, anunciou tarifas de 50% sobre todas as exportações brasileiras, com vigência a partir de 1º de agosto. Pedro franziu a testa, o coração apertado. “Como assim? Isso vai acabar com meu emprego?”, perguntou a si mesmo, enquanto colegas murmuravam, incrédulos.
A milhares de quilômetros dali, em Mato Grosso, Sílvio Mendes, 38 anos, trabalhador na produção de soja para uma gigante do agronegócio, também parou. Durante o intervalo, checando o celular, viu a manchete pipocar nas redes. “50%? Isso é uma loucura!”, exclamou para um colega, o rosto marcado pela surpresa. A soja, pilar da economia brasileira, agora enfrenta um muro tarifário que ameaça escoar empregos e sonhos. Pedro e Sílvio, tão distantes, compartilham o mesmo receio: o que será do futuro se as exportações, motor do Brasil, forem estranguladas?
A carta que abalou nações - O anúncio de Trump não surgiu do nada. Uma carta endereçada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, publicada horas após a cúpula dos BRICS no Rio de Janeiro, revelou as intenções do líder americano. Nela, Trump acusa o Brasil de práticas comerciais “injustas” e critica o Supremo Tribunal Federal (STF) por ações contra Jair Bolsonaro, chamando-as de “caça às bruxas”. A tarifa de 50%, segundo ele, é uma resposta a supostos ataques à liberdade de expressão e à soberania comercial americana, além de uma punição à postura brasileira no cenário mundial.
A decisão é um terremoto. O Brasil, que já enfrenta um déficit comercial de US$ 1,67 bilhão com os EUA no primeiro semestre de 2025, agora vê suas exportações — de petróleo bruto (US$ 2,378 bilhões) a café (US$ 1,168 bilhão) — sob ameaça. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) alertou: não há justificativa econômica para a medida. Os EUA mantêm superávit comercial com o Brasil há 15 anos, com US$ 410 bilhões acumulados. “É uma retaliação política disfarçada de comércio”, sentencia a CNI.
O impacto nos campos e nas fábricas - Voltemos a Pedro, em São Paulo. A siderúrgica onde trabalha exporta ferro e aço semiacabado, que somaram US$ 1,951 bilhão no primeiro semestre. Com a tarifa, a competitividade despenca. “Se os pedidos caírem, as máquinas param, e nós, operários, somos os primeiros a sentir”, desabafa Pedro, enquanto aperta a marmita vazia. A Associação Brasileira da Indústria do Plástico ecoa o temor: produtos de alta complexidade, que geram empregos qualificados, serão duramente atingidos.
Em Mato Grosso, Sílvio calcula as perdas. A soja, que já enfrenta volatilidade de preços, pode perder mercado nos EUA, principal destino da exportação agrícola. A Frente Parlamentar da Agropecuária prevê aumento nos custos de insumos importados e impactos no câmbio. “Se o dólar disparar ainda mais, como vamos competir?”, pergunta Sílvio, olhando para os campos dourados que, agora, parecem carregar um peso extra.
Um tabuleiro diplomático em chamas - A decisão de Trump não é apenas econômica; é um xeque-mate político. A carta cita o STF e as investigações contra Jair Bolsonaro, acusado de tentativa de golpe de Estado em 2022. Trump, alinhado ideologicamente ao ex-presidente, acusa o Brasil de “perseguição” e usa as tarifas como arma. A embaixada americana em Brasília reforçou o tom, chamando as ações do STF de “vergonhosas”. O Itamaraty reagiu, convocando o encarregado de negócios Gabriel Escobar para esclarecimentos.
Hussein Kaluth, ex-secretário de Assuntos Estratégicos, é categórico: “atacar o STF é atacar a Constituição, a democracia, o povo brasileiro. É inadmissível". A medida de Trump, segundo ele, foge aos padrões diplomáticos e sinaliza uma interferência direta na soberania nacional. Lula, em resposta, foi firme nas redes sociais: “o Brasil é soberano e não aceitará ser tutelado. Responderemos com a lei de reciprocidade econômica".
Mercados tremem, o mundo observa - A notícia caiu como uma tempestade nos mercados. O Ibovespa despencou 1,31%, fechando em 137.481 pontos, e o dólar subiu 1,06%, atingindo R$ 5,50. A Associação Brasileira das Exportadoras de Carne alertou para os impactos no abastecimento mundial, enquanto a Associação dos Exportadores de Suco lamentou a perda de competitividade. Até os americanos, consumidores de suco brasileiro há décadas, sentirão o golpe nos preços.
No cenário mundial, a decisão reverbera como um alerta. Líderes do BRICS, como o premiê da África do Sul e o chanceler russo, criticaram o protecionismo americano. Economistas advertem: tarifas tão altas podem fragmentar cadeias de valor e arriscar uma recessão global. Mesmo nos EUA, onde Nasdaq e S&P 500 seguem em alta, há cautela quanto ao impacto a longo prazo.
A sombra do protecionismo - Trump não é novo no jogo das tarifas. Em abril, impôs 10% sobre países “não problemáticos”, incluindo o Brasil. Agora, a taxa de 50% é a mais alta já aplicada — um salto que pegou o Brasil desprevenido.
Até domingo, o país não estava na mira. Tudo mudou após a cúpula dos BRICS, na qual Lula defendeu moedas locais e criticou o unilateralismo americano. Trump, então, escalou o conflito, usando Bolsonaro como pretexto.
A carta de Trump ameaça: se o Brasil retaliar, as tarifas americanas aumentarão. Lula, por sua vez, sinaliza reciprocidade econômica, o que pode levar a uma guerra comercial. É um ciclo perigoso, onde todos perdem. A CNI reforça: “a indústria brasileira é interligada à americana. Romper essa relação é cortar as próprias veias do comércio".
O que está em jogo - As exportações brasileiras aos EUA — de aeronaves (US$ 1,043 bilhão) a ferro-gusa (US$ 865,7 milhões) — sustentam milhões de empregos. Pedro, na siderúrgica, e Sílvio, nos campos de soja, são rostos de uma nação que trabalha de fio a pavio. “Quero que meus filhos tenham um futuro melhor”, diz Pedro. “Mas como, se o mercado fechar as portas?”. Sílvio completa: “Plantamos com suor, e agora isso. É injusto".
A decisão de Trump é um espelho do protecionismo que volta a assombrar o mundo. É uma dança perigosa, na qual cada passo retaliatório pode levar a uma rachadura econômica cada vez maior.
O Brasil, com déficit comercial frente aos EUA, não é o vilão que Trump pinta. Pelo contrário, é um parceiro que, há 15 anos, contribui para o superávit americano. E são dados dos próprios organismos econômicos oficiais dos Estados Unidos.
Um chamado à diplomacia - Nós, brasileiros, sabemos que o comércio é a ponte que une nações. Sabemos também que, desde fevereiro, autoridades brasileiras e americanas negociam para evitar esse cenário.
Mas o protecionismo, como um vento gelado, voltou a soprar forte. É hora de acelerar os esforços diplomáticos, de construir pontes, não muros. Devemos preservar o desenvolvimento do Brasil sem ferir a economia americana, que já prospera com nosso comércio. Que Pedro e Sílvio não sejam esquecidos. Que a soberania e o trabalho do povo brasileiro prevaleçam.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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