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Sul Global deve ter voz ativa na revolução tecnológica, afirma BRICS

Lideranças assinaram um documento sobre cooperação em Ciência, Tecnologia e Inovação

Ministra Luciana Santos (a quarta da esq. para a dir.) (Foto: Audiovisual / BRICS Brasil)
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247 - Os ministros dos onze países-membros do BRICS assinaram, nesta quarta-feira (25), a Declaração Ministerial sobre Cooperação em Ciência, Tecnologia e Inovação, durante reunião realizada no Palácio Itamaraty, em Brasília (DF). Durante o evento também foi assinada a expansão do Memorando, que inclui o novo país-membro do agrupamento, Indonésia, e outros parceiros, como Bielorrússia, Bolívia, Cuba, Cazaquistão, Malásia, Nigéria, Tailândia, Uganda, Uzbequistão e Vietnã.

O documento sobre a cooperação reforça a importância de ampliar o acesso e o domínio de tecnologias e inovações pelos países do Sul Global, tradicionalmente concentradas nas nações do Norte Global. A declaração também define a ampliação da cooperação entre os membros para criar linguagens tecnológicas mais acessíveis e infraestrutura que possibilite explorar novas ferramentas, como a Inteligência Artificial (IA).

De acordo com a ministra brasileira de Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, "todas as novas tecnologias podem ter um papel de aumentar cada vez mais as assimetrias entre os países porque são ferramentas tecnológicas muito poderosas, que transformam o modo de produção, que transformam as forças produtivas”. “A gente luta para que alguns países não concentrem a tecnologia e que possa ser partilhado. Então, nesse sentido, todos os nossos países buscam ter infraestrutura própria que garanta o desenvolvimento da inteligência artificial".

Sobre os chamados Modelos de Linguagem Grandes (LLMs, na sigla em inglês), a ministra Luciana Santos alertou para os riscos de viés cultural nesses modelos quando não adaptados à realidade local. Ela ressaltou a importância de o Brasil desenvolver suas próprias soluções tecnológicas, com identidade e contexto nacionais:

"Isso, por si só, já traz um viés cultural equivocado para as nações, que não corresponde ao contexto, à cultura, à história, ao jeito de ser de cada nação. Então, nós estamos procurando desenvolver [no Brasil] os nossos modelos de linguagem em português. Temos já em desenvolvimento alguns potentes, como o do Piauí, que tem a iniciativa ‘SoberanIA’, com 100 bilhões de parâmetros, revelando que a gente tem condições de estar no caminho certo", explicou a ministra.

Os LLMs são sistemas de IA que possibilitam o entendimento e a geração de linguagem natural, simulando a escrita e a fala. A quantidade de parâmetros é o que faz essa linguagem ser mais complexa e completa. Para exemplificar, os modelos do ChatGPT possuem cerca de 220 bilhões de parâmetros.

"A IA é o caminho a seguir. Não estamos no mesmo patamar que outros países, mas estamos dizendo que podemos fazer parcerias e crescer com as experiências que estão aqui para serem compartilhadas. Cada país estava na sessão apresentando seu status político para dizer o que eles têm em relação às políticas. Este é um momento onde discutimos como cada um pode se desenvolver e aprender uns com os outros para que possamos nos desenvolver mutuamente nesse sentido", resumiu Nomalungelo Gina, vice-ministra de Ciência e Tecnologia da África do Sul.

Inovação

A Declaração Ministerial de Ciência e Tecnologia também endossou o Plano de Ação de Inovação do BRICS 2025–2030, elaborado pelo Grupo de Trabalho de Ciência, Tecnologia, Inovação e Empreendedorismo (STIEP, na sigla em inglês), durante encontro realizado no Rio de Janeiro, nos dias 10 e 11 de junho deste ano. "A inovação é sempre a busca de que a produção científica se realize em produtos e serviços. Então, nesse esforço, há uma troca das ferramentas e instrumentos legais que os países têm”, comentou Luciana Santos.

A importância da inovação também foi enfatizada pela vice-ministra Nomalungelo Gina, que defendeu seu papel central no desenvolvimento das nações do Sul Global. “Temos compartilhado nossas experiências de como investimos no crescimento da inovação, tendo em mente que, quando se trata do crescimento econômico do nosso país, da estabilidade do nosso país, tudo se baseia na inovação", afirmou.

Ela acrescentou que durante os encontros do grupo foram discutidos temas como industrialização, educação e desenvolvimento de habilidades, além de maneiras de trocar informações e recursos para enfrentar desafios comuns, como as mudanças do clima. “A inovação pode contribuir para as questões energéticas e os desafios que enfrentamos. Analisar e abordar as questões energéticas nos permite atrair inovação para questões climáticas, como a do hidrogênio verde”, completou a representante da África do Sul, ao pontuar soluções para a redução das emissões de gases de efeito estufa.

Uma década de cooperação

Este ano marca os dez anos do Memorando de Entendimento sobre Cooperação em Ciência, Tecnologia e Inovação do BRICS, assinado pelos ministros das pastas correspondentes nos países-membros.

"Esse grupo de ciência, tecnologia e inovação do BRICS, que são dos ministros e os representantes que se fazem aqui presentes, têm tido um intenso trabalho. Já são 10 anos de cooperação com esse escopo e com essa construção por meio do BRICS. Nós temos 14 Grupos de Trabalho de Ciência, Tecnologia e Inovação. Vai desde chamadas públicas para cooperação e trocas de pesquisadores em rede até a possibilidade de compartilhamento de infraestrutura e a busca da transferência tecnológica, do compartilhamento, do diálogo, num espírito colaborativo, entendendo que todos nós precisamos aprender juntos", celebrou a ministra Luciana Santos.

Até o momento, a área de C,T&I do BRICS já realizou nove edições do Fórum de Jovens Cientistas, sete edições do Prêmio de Jovens Inovadores, além de seis chamadas conjuntas de cooperação em pesquisa, reunindo centenas de cientistas e representantes governamentais.

Investimentos previstos

O governo federal relançou em 2023 o Programa de Aceleração do Crescimento. O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) participa do ‘Novo PAC Desenvolvimento e Sustentabilidade’ com investimentos de quase R$ 8 bilhões em seis programas estratégicos para o Brasil. Serão aplicados R$ 7,89 bilhões para impulsionar a ciência e beneficiar toda a população brasileira entre 2023 e 2026.

Os programas vão desde a recuperação e expansão da infraestrutura de pesquisa científica e tecnológica em universidades e Institutos de Ciência e Tecnologia, passando pelo aumento da conectividade para educação e pesquisa, por novos equipamentos para o Cemaden até alcançar projetos de ponta, como o primeiro complexo laboratorial de máxima contenção biológica do mundo conectado a uma fonte de luz sincrotron, a segunda fase do Sirius e a implantação do Reator Multipropósito Brasileiro (RMB), que dará autonomia ao país na produção de fármacos para tratamento do câncer.

De acordo com a pasta da Ciência e Tecnologia, “saúde, educação, monitoramento e alertas de desastres naturais, desenvolvimento industrial com mais tecnologia e com o trabalho dos pesquisadores brasileiros”. “Esse é o foco do MCTI para promover a volta da ciência e o aprimoramento da tecnologia, sempre buscando a inovação para favorecer os brasileiros”.

 NB4 – O Brasil será o primeiro país da América Latina a ter um laboratório de máxima contenção biológica, conhecido como NB4, e o primeiro do mundo conectado a uma fonte de luz síncrotron. Com isso, passará a dispor de condições para lidar com patógenos que podem causar doenças graves. O novo laboratório de biossegurança será implantado no Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), organização vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação que desenvolveu e opera uma das três fontes de luz síncrotron de quarta geração do mundo, o Sirius. Incluído no Novo PAC, o complexo laboratorial de 20 mil metros quadrados receberá R$ 1 bilhão até 2026.

Sirius – Também incluído no Novo PAC, o Sirius, maior e mais complexa infraestrutura científica do país, receberá R$ 800 milhões até 2026. O Sirius utiliza aceleradores de elétrons para produzir um tipo especial de luz, chamada de luz síncrotron. Essa luz é utilizada para investigar a composição e a estrutura da matéria em suas mais variadas formas, com aplicações em praticamente todas as áreas do conhecimento. O Sirius foi projetado para receber até 38 linhas de luz, dedicadas a diferentes técnicas e aplicações. Dessas, três estações de pesquisa serão conectadas ao complexo laboratorial Orion – uma empreitada inédita no mundo. Com os novos investimentos, o Sirius entrará em uma segunda fase, o que inclui o projeto e a construção de dez novas estações de pesquisa.

RMB – Outro projeto do MCTI incluído no Novo PAC é o Reator Multipropósito Brasileiro (RMB). Com investimentos previstos no valor de R$ 1 bilhão até 2026, o RMB será o mais importante centro de pesquisa brasileiro para aplicações da tecnologia nuclear em benefício da sociedade nas áreas de medicina e da indústria; de energia, envolvendo materiais e combustíveis nucleares para reatores de potência; agricultura e meio ambiente. Na saúde, o RMB vai viabilizar a autonomia brasileira na produção de radioisótopos, que são usados na fabricação de fármacos para tratamento do câncer.

Pró-Infra – Trata-se de um programa de recuperação e expansão da infraestrutura de pesquisa científica e tecnológica para criar as condições para que o Brasil desenvolva projetos de ponta. O foco é apoiar programas estratégicos nacionais e o desenvolvimento industrial em áreas prioritárias. Além disso, esses investimentos também visam promover maior integração entre os estados, reduzir as assimetrias no Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação e reter pesquisadores no Sistema. O investimento estimado é de R$ 4,4 bilhões em recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT) entre 2023 e 2026.

Infovias – Este programa busca ampliar a abrangência, a qualidade e a segurança da conectividade para educação e pesquisa no país. A meta é interiorizar o Sistema RNP e interligar todas as unidades da federação. Outro objetivo é desenvolver as infovias estaduais, infraestrutura óptica de rede de comunicação que atende às organizações usuárias do Sistema RNP, como rede de educação e pesquisa, e também é compartilhada com o Estado para seu uso próprio, como rede governamental. Por fim, um último propósito desse programa é fortalecer a rede de e-ciência, uma rede segura de alto desempenho que se assemelha a uma autobahn segura para e-ciência.

Cemaden – Equipamentos mais modernos para ajudar no monitoramento e alertas emitidos pelo Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), unidade vinculada ao MCTI, também foram incluídos no Novo PAC. A intenção é usar o que há de melhor na ciência para benefício da população. Desde 2011, o Cemaden monitora, emite alertas e pesquisas na área geo-hidrometeorológicas, como ocorrências de deslizamento de encostas, enxurradas, inundações e secas, em mais de 1,8 mil municípios brasileiros.

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