Brasil e mais sete países concentram metade das 18 milhões de crianças que nunca foram vacinadas
Brasil figura ao lado de Congo, Etiópia, Índia, Indonésia, Nigéria, Somália e Sudão
247 - Num cenário em que 18 milhões de crianças nunca receberam sequer a primeira picada de uma seringa, um grupo de apenas oito nações responde por mais da metade desse contingente. A conclusão faz parte de um artigo publicado na revista The Lancet na terça-feira (24), informa a Folha de S. Paulo. A pesquisa indica que Brasil, Congo, Etiópia, Índia, Indonésia, Nigéria, Somália e Sudão concentram o problema que a Organização Mundial da Saúde (OMS) tenta reduzir à metade até 2030.
Os autores avaliaram dados do Estudo sobre a Carga Global de Doenças, Lesões e Fatores de Risco (GBD 2023) e constataram que a estagnação da cobertura vacinal vem desde 2010, afetando países ricos e pobres. Em 1980, havia quase 60 milhões de crianças sem qualquer imunização; quatro décadas mais tarde, o número caiu para 15 milhões antes da pandemia, mas o avanço parou aí.
O indicador-chave analisado foi a aplicação das três doses contra difteria, tétano e coqueluche (DTP). Nos 36 países de alta renda, 21 registraram queda na cobertura para DTP, sarampo, poliomielite e tuberculose. O estudo utilizou modelagem estatística para corrigir vieses e mensurar o impacto da Covid-19, que desviou profissionais e recursos de outras frentes da saúde pública.
No Brasil, a queda se acentua desde 2015, apesar de o Programa Nacional de Imunizações ser considerado referência mundial. O Anuário VacinaBR 2025, elaborado pelo Instituto Questão de Ciência com apoio da SBIm e do Unicef, mostra que 8 em cada 10 brasileiros vivem em municípios abaixo da meta de cobertura e que a taxa de abandono de esquemas vacinais ultrapassa 50 % em alguns estados.
A população brasileira, historicamente, tem grande aceitação das vacinas, lembra a pesquisadora Carolina Lins, da UFMG. Ela aponta desinformação, fake news e desigualdades como motores do recuo, além dos desafios logísticos de um país continental.
Outro ponto crítico é o racismo estrutural. Estudo nacional com 37 mil crianças revelou que mães negras e pardas enfrentam quase o dobro de obstáculos para cumprir o calendário vacinal, que vão da distância até o posto de saúde à falta de transporte ou de autorização do empregador para ausentar-se.
A neurologista pediátrica Joyce Carvalho Martins reforça que os imunizantes disponíveis são amplamente estudados e seguros. Ela faz questão de dissipar boatos: “é importante lembrar que não existe nenhuma associação significativa entre as vacinas e os casos de autismo”. E conclui, enfática: “vacinar é salvar vidas”.
Sem uma guinada rápida, alertam os autores de The Lancet, o mundo não alcançará a imunização universal contra coqueluche, difteria, tétano, meningite e sarampo prevista pela OMS — meta que já parece distante a cinco anos do prazo.
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