Na favela do Moinho, Lula e ministros criticam Tarcísio e a truculência da PM; governo federal garante moradia aos mais pobres

247 - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), nesta quinta-feira (26), durante evento em que foi anunciada uma solução habitacional para as cerca de 900 famílias da Favela do Moinho, região central da capital paulista.

No evento, Lula e ministros demonstraram insatisfação com a atuação da Polícia Militar na comunidade, apontou uma reportagem do Valor Econômico. Nascida nos anos 1990, a favela é a única que resiste no centro de São Paulo, onde, nas últimas décadas, outras comunidades e ocupações da população mais pobre foram varridas da cidade. A Favela do Moinho ocupa uma área de mais de 35 mil metros quadrados (m²) na região central do município. Uma fábrica que processava farinha funcionava no local.

Em seu discurso, Lula disse esperar que o governo do Estado cumpra o acordo feito com a gestão federal e não “enxote” os moradores da favela. O presidente não mencionou o nome de Tarcísio, mas afirmou que o governador foi convidado para o evento. "Se ele não veio... parece que ele tem compromisso em São Bernardo do Campo. Todo lugar que eu vou convido governador", disse.

No evento, Lula criticou a política de segurança do governo paulista e, de forma indireta, denunciou a violência policial contra negros e pobres principalmente. Nessa ocasião, o presidente comentava sobre a implantação do Parque do Moinho.

"Ninguém será removido à força da Favela do Moinho. É importante que as pessoas que querem visitar esse parque e brincar e passar domingo nesse parque, não venham pisotear sangue de pobres que aqui foram agredidos. [Nós] vamos fazer com decência e com muita dignidade. Por mais que seja bonito um parque, ele não pode ser feito às custas do sofrimento de um ser humano", disse.

Projeto

A solução pactuada prevê a aquisição direta de imóveis pelas famílias moradoras por meio da modalidade de Compra Assistida do Minha Casa, Minha Vida. Essa mesma modalidade foi empregada com sucesso em 2024 para atender famílias que perderam as casas em função das fortes chuvas no Rio Grande do Sul.

Cada núcleo familiar terá direito a um subsídio de até R$ 250 mil para a aquisição de imóveis prontos ou em fase final de construção. Desse montante, R$ 180 mil serão provenientes do Governo Federal e R$ 70 mil do governo estadual. Não há necessidade de financiamento ou contrapartida financeira por parte das famílias. As famílias receberão um auxílio aluguel de R$ 1.200 mensais durante o período de transição para a nova moradia.

A proposta contempla famílias com renda até a Faixa 2 do Minha Casa, Minha Vida, que corresponde a uma renda familiar de até R$ 4,7 mil mensais, incluindo beneficiários do Bolsa Família e do Benefício de Prestação Continuada (BPC).

Violência policial

As mortes cometidas por policiais militares do estado de São Paulo aumentaram 98% nos dois primeiros anos do governo Tarcísio. Foram 355 ocorrências entre janeiro e novembro de 2022, último ano da gestão anterior. O número subiu para 702 no mesmo período de 2024, segundo ano da atual administração.

As estatísticas são do Grupo de Atuação Especial da Segurança Pública e Controle Externo da Atividade Policial do Ministério Público (Gaesp-MPSP) e incluem as mortes cometidas por policiais militares em serviço e de folga.

Os dados também apontaram que, em todo o ano de 2024 (e não apenas nos 11 meses deste ano), a PM-SP acumulou 737 assassinatos, alta de 60% no comparativo com 2023 e de 86% em relação a 2022.

Tarcísio

Ex-ministro de Jair Bolsonaro, Tarcísio de Freitas é um dos principais nomes da direita em nível nacional. O nome dele é especulado como um dos possíveis presidenciáveis em 2026.

Por enquanto, as informações de bastidores dão conta de que o governador tentará um novo mandato no estado de São Paulo. Mas esta ideia ainda é uma incógnita até que a situação de Jair Bolsonaro (PL), principalmente, se resolva - possivelmente atrás das grades, já que ele é réu no inquérito da trama golpista.

Embora Tarcísio não tenha um discurso tão repudiado por ativistas e pelos mais pobres como tem Jair Bolsonaro, o fato de o governador estar no maior colégio eleitoral do Brasil representa um ponto estratégico na disputa de narrativas entre os dois campos políticos em nível nacional.