Gleisi reconstrói pontes entre governo e Congresso em meio à crise do IOF
Governo mantém discurso firme e ministra das Relações Institucionais abre diálogo com Centrão para retomar apoio a Haddad e à agenda do governo
247 - Diante da crise deflagrada pela derrubada do decreto que aumentava a alíquota do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), a ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann (PT), iniciou uma ofensiva para reaproximar o Palácio do Planalto da base parlamentar. Enquanto o governo mantém o discurso da “justiça tributária” e marca posição diante do Congresso, Gleisi tem procurado líderes partidários em busca de pacificação, informa o jornal O Globo.
A iniciativa da ministra surge após uma derrota considerada histórica para o Executivo, com o Congresso anulando a tentativa de aumento de impostos sem consulta prévia. O clima de insatisfação entre os deputados foi agravado por uma percepção generalizada de que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), estaria se afastando das articulações políticas e dificultando o repasse de emendas parlamentares.
Líderes do Centrão falam em “virar a página” - Apesar da tensão recente, há sinais de distensionamento. O líder do União Brasil na Câmara, deputado Pedro Lucas Fernandes (MA), defendeu uma retomada do diálogo com o Planalto: “o governo tem que entender que nem sempre seremos convergentes. Essa narrativa de ir para o confronto não ajuda. Temos que virar a página e sentar com o governo. Quero conversar com a Gleisi nesta semana, estou pronto para negociar. Vamos olhar para frente”, afirmou.
Na mesma linha, o líder do MDB, Isnaldo Bulhões (AL), negou um rompimento com o Planalto: "o governo tem que discutir contrapartidas. Rever empresas estatais que não tem mais razão de existir, rediscutir o tamanho do Estado, com eficiência. Isso é algo que a classe média quer dialogar e setores do governo têm resistência a isso. Mas não houve quebra de diálogo. O que foi colocado é o sentimento do Congresso de que não há ambiente para aumento de impostos. Esse foi o recado político".
Gleisi tenta destravar proposta do IR com Lira - Com a meta de garantir avanços na agenda legislativa antes do recesso parlamentar, Gleisi e o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), estão articulando um encontro com o ex-presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL). O objetivo é discutir o projeto que eleva a faixa de isenção do Imposto de Renda para até R$ 5 mil — principal prioridade do governo em 2025.
Apesar de o relatório estar pronto, Lira decidiu adiar sua apresentação. Segundo aliados, ele avaliou que, diante do desgaste com o Planalto, “não havia clima” para apresentar o texto na data prevista, na última sexta-feira (27).
Haddad sob pressão e afastado das negociações - Enquanto Gleisi se aproxima do Congresso, Fernando Haddad se distancia. Deputados relatam que a relação com o ministro da Fazenda se deteriorou ao longo do ano, especialmente por conta da resistência em liberar emendas e da falta de diálogo sobre decisões relevantes — como o decreto do IOF, considerado unilateral.
Esse afastamento fortaleceu a percepção de que Haddad estaria impondo uma agenda sem consultar o Parlamento. O episódio do IOF foi considerado o ápice dessa postura, elevando a tensão entre Executivo e Legislativo.
Plano de apaziguamento: armistício em construção - Interlocutores da ministra e do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), têm defendido a criação de um “armistício” entre as partes. A ideia é baixar o tom da crise, com gestos mútuos de boa vontade. Ainda não houve conversa direta entre Gleisi e Motta desde a votação que derrubou o decreto.
Fontes próximas à ministra afirmam que não há interesse em prolongar o confronto. Para Gleisi, é fundamental ampliar o debate sobre a tributação de super-ricos, mas sem romper com os canais políticos. O entendimento no Planalto é de que, embora a reação à derrota tenha sido importante para reforçar a narrativa da justiça fiscal, é preciso sinalizar disposição para o diálogo.
A ministra deve intensificar o contato com lideranças do Congresso nos próximos dias, com o desafio de rearticular a base e evitar novos reveses legislativos. O governo busca, assim, um equilíbrio entre manter sua agenda fiscal e reconquistar apoio político em meio a um ambiente de crescente desgaste.
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