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Lula vai intensificar agenda nas periferias para defender tributar os ricos em resposta à crise política

Com foco na reeleição, presidente reforça discurso popular, mira base social e reage a pressões do Congresso e críticas sobre a condução fiscal

Lula com outras lideranças e moradores da Favela do moinho (Foto: Cláudio Kbene/ PR)
Redação Brasil 247 avatar
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247 – Em meio à maior crise política de seu terceiro mandato e com os olhos voltados para a disputa presidencial de 2026, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu adotar um tom mais combativo e concentrar esforços na retomada do vínculo direto com as camadas populares. A informação foi publicada nesta segunda-feira (30) pelo jornal O Globo, que relata os bastidores da guinada estratégica no discurso e na agenda pública do presidente.

A nova orientação do Planalto envolve a presença mais frequente de Lula em periferias urbanas, com foco em medidas que favoreçam a população de baixa renda. Em São Paulo, na Favela do Moinho, o presidente fez questão de alterar o local de um evento oficial para estar em contato direto com moradores. Sem palanque, caminhou por uma quadra esportiva e anunciou a aquisição de moradias para a comunidade, numa cena que ganhou destaque nas redes sociais do governo.

No dia seguinte, em viagem ao Tocantins, Lula afirmou que há setores da sociedade que não gostam dele justamente por causa da proposta de reformar o Imposto de Renda. “Tem gente que não gosta de mim porque eu quero que rico pague mais Imposto de Renda para pobre ser isento até R$ 5 mil”, disse. E completou: “Eu sou do lado do povo trabalhador, dos professores e da classe média baixa”.

Reação ao desgaste no Congresso

A intensificação das agendas populares ocorre após sucessivos desgastes com o Congresso Nacional, como a recente derrota imposta ao governo com a derrubada do decreto que elevava o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras). A queda da medida fragilizou a articulação política do governo e expôs a fragilidade da coalizão em torno do Palácio do Planalto.

Além disso, pressões por cortes de gastos voltam a se acumular, enquanto o Executivo evita medidas de contenção mais duras. O foco, até aqui, tem sido o aumento de arrecadação. Entre janeiro e maio, segundo o Banco Central, a arrecadação federal alcançou R$ 1,2 trilhão — um recorde histórico. Ainda assim, a crítica à ausência de um plano concreto de ajuste fiscal cresce entre analistas e membros da oposição.

“O governo terá que cortar gastos. As chances de o equilíbrio das contas ser alcançado pelo aumento da carga tributária são baixas, especialmente em um contexto em que a maioria legislativa do Executivo não é substantiva”, avalia o cientista político Carlos Pereira, da FGV. A economista Zeina Latif também soou o alarme: “Para o ano que vem, a situação é de colapso. Não tem bala de prata. O governo terá que fazer um contingenciamento forte, talvez até rever políticas como Pé-de-Meia e Vale-Gás”.

Estratégia eleitoral e marca política

Assessores próximos ao presidente admitem que o movimento tem clara motivação eleitoral. A frase “colocar o pobre no Orçamento e o rico no Imposto de Renda” voltou ao centro da retórica petista e, segundo pesquisas internas, encontra eco favorável entre a população. A expectativa é transformar essa proposta em um marco simbólico do terceiro mandato.

A nova fase da estratégia será intensificada nesta semana, com a presença de Lula em Salvador para participar da festa da Independência da Bahia — uma das mais importantes do calendário popular do estado. Outras agendas similares estão sendo programadas. Em contrapartida, as viagens internacionais devem ser reduzidas ao mínimo, restringindo-se a compromissos essenciais, como a Cúpula do Mercosul.

No Senado, a oposição vê o cenário com ceticismo. Carlos Portinho (PL-RJ), líder do PL, disse que a derrota no caso do IOF é consequência dos erros do governo: “Já advertimos isso. O governo só pensa em coletar impostos e atinge todo mundo, inclusive os pobres. E se recorrer ao STF, vai agravar ainda mais a sua relação com o Congresso”.

As dificuldades fiscais são evidentes. Instituições públicas como universidades federais, o INSS, agências reguladoras e até as Forças Armadas já sentem os efeitos dos bloqueios no Orçamento. Cerca de 90% dos recursos da União estão comprometidos com despesas obrigatórias, o que ameaça diretamente os investimentos públicos.

Relatórios do Banco Mundial e da Instituição Fiscal Independente (IFI) indicam que o ajuste necessário nas contas gira em torno de 3% do PIB. Ambos alertam para a insustentabilidade do atual ritmo de crescimento das despesas frente ao arcabouço fiscal.

Neste contexto, Lula aposta no resgate de sua imagem como líder popular para se contrapor à narrativa de crise e reafirmar seu projeto político. A estratégia pode tensionar ainda mais a relação com o Congresso, mas reforça o compromisso do presidente com as bandeiras sociais que marcaram sua trajetória.

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