União Europeia ameaça retaliação se Trump mantiver tarifa de 10% sobre exportações do bloco
Bloco europeu considera sobretaxar produtos norte-americanos, como aviões da Boeing, caso tarifa-base não seja retirada até 9 de julho
247 - Reportagem publicada originalmente pela Bloomberg News revela que a União Europeia (UE) está se preparando para reagir com tarifas retaliatórias sobre produtos dos Estados Unidos — incluindo aeronaves da Boeing — caso o presidente norte-americano Donald Trump mantenha uma tarifa-base de 10% sobre as exportações do bloco mesmo após as negociações comerciais em curso.
O prazo-limite para evitar essa escalada é 9 de julho, quando entrará em vigor uma elevação de tarifas que pode atingir até 50% do valor de quase todas as exportações europeias.
Segundo fontes da Comissão Europeia ouvidas sob anonimato, o entendimento interno é de que Washington insistirá em manter parte das tarifas atualmente vigentes, mesmo diante de um eventual acordo. O comissário europeu da Indústria, Stephane Sejourne, declarou à Bloomberg que “será necessário retaliar e reequilibrar alguns setores-chave se os EUA insistirem em um acordo assimétrico”, especialmente se “o resultado das negociações for a manutenção da tarifa de 10%”.
Desequilíbrio tarifário e pressão política norte-americana
Trump tem atacado publicamente o excedente comercial europeu e as barreiras enfrentadas por produtos norte-americanos na Europa. Em sua retórica habitual, chegou a afirmar que a União Europeia foi “criada para prejudicar os Estados Unidos”. De acordo com estimativas do bloco, as tarifas impostas por Washington atualmente atingem cerca de €380 bilhões (aproximadamente US$ 439 bilhões), o que representa 70% de todas as exportações europeias para os EUA.
Entre as exigências norte-americanas que a UE considera inaceitáveis estão cotas de exportação de pescado — que, segundo autoridades europeias, contrariam as normas da Organização Mundial do Comércio (OMC) —, medidas tarifárias unilaterais e condições ligadas à chamada “segurança econômica” que foram classificadas por funcionários do bloco como “descabidas”.
A pressão de Washington se estende a outros setores. A administração Trump já impôs tarifas sobre carros europeus, aço, alumínio e agora ameaça atingir os segmentos farmacêutico, de semicondutores e de aviação comercial.
A aviação como campo de batalha tarifária
O setor de aviação civil está entre os mais vulneráveis. A Airbus, com sede em Toulouse, na França, enfrenta o risco de se tornar alvo de concorrência desleal diante das vantagens tarifárias da norte-americana Boeing. “A Airbus não pode estar sujeita a uma concorrência injusta da Boeing”, alertou Sejourne, destacando que o fabricante europeu já sofre com o acréscimo de 10% nas tarifas.
O comissário reforçou que “sem um reequilíbrio, estaríamos deixando setores estratégicos desprotegidos” e que “há um interesse econômico direto em agir dessa forma”.
UE acelera negociações mas prepara resposta contundente
Diante do impasse, a Comissão Europeia intensificou os esforços para alcançar um acordo que evite a escalada. Um alto funcionário afirmou à Bloomberg que o bloco está fazendo “todo o possível para chegar a uma solução que beneficie os dois lados”. Ainda assim, o entendimento predominante em Bruxelas é de que, mesmo com avanços, o melhor cenário seria um acordo de princípio que prorrogue a atual trégua para além do prazo de julho.
A UE já aprovou tarifas sobre €21 bilhões em produtos dos EUA como resposta a medidas anteriores de Trump sobre aço e alumínio. Esses encargos atingem estados politicamente sensíveis dos EUA e incluem itens como soja da Louisiana (reduto do presidente da Câmara, Mike Johnson), além de frango, motocicletas e outros produtos agrícolas.
Outro pacote de tarifas, envolvendo €95 bilhões em mercadorias norte-americanas, também está em preparação. Essa lista ainda pode sofrer alterações a depender das demandas dos Estados-membros e da pressão de setores industriais.
Recado europeu: reequilibrar é proteger trabalhadores
O comissário europeu de Comércio, Maros Sefcovic, deixou claro, em declaração feita em Berlim, que o bloco trabalha com a hipótese de que a tarifa de 10% venha a se tornar permanente. “Entendemos que os EUA estão operando com essa tarifa como base”, disse. “Também estamos preparando medidas de reequilíbrio para proteger empresas e trabalhadores europeus caso não consigamos uma solução justa e negociada”.
As retaliações europeias, portanto, são vistas não apenas como reação simbólica, mas como mecanismo de defesa diante de um cenário de agressiva política comercial norte-americana. Trump, por sua vez, demonstrou desprezo pelas críticas. Durante seu retorno da cúpula do G7 no Canadá, declarou: “Eles vão fazer um bom acordo ou vão pagar o que dissermos que devem pagar”.
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