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Pedro Sánchez acusa Israel de genocídio em Gaza e pede suspensão de acordo com a UE

Premiê espanhol cobra ação imediata da União Europeia enquanto ataques israelenses matam 65 pessoas e agravam crise humanitária

Primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, durante entrevista coletiva em Pequim -11/04/2025 (Foto: EUTERS/Tingshu Wang)
Luis Mauro Filho avatar
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247 - O primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, tornou-se nesta quinta-feira (26) o mais destacado líder europeu a caracterizar publicamente a situação em Gaza como um "genocídio". 

Em declaração feita às vésperas da cúpula da União Europeia em Bruxelas, o chefe do governo espanhol afirmou que o enclave palestino vive uma "situação catastrófica de genocídio" e cobrou a suspensão imediata do acordo de cooperação entre o bloco europeu e Israel.

As declarações de Sánchez ocorrem no mesmo dia em que equipes de resgate relataram a morte de 65 palestinos por forças israelenses em meio à devastação que se prolonga há mais de 20 meses. Segundo o Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas, o total de mortos desde o início da ofensiva israelense já ultrapassa 56 mil, a maioria civis. O número é reconhecido como confiável pela Organização das Nações Unidas.

A declaração do primeiro-ministro espanhol tem como base um relatório da própria União Europeia que aponta "indícios" de violações de direitos humanos por parte de Israel, o que contrariaria os termos do acordo de cooperação vigente e que fundamenta os laços comerciais entre as partes. O governo de Tel Aviv reagiu com fúria: a embaixada israelense em Madri acusou Sánchez de “demonizar” o país e declarou que a Espanha está “do lado errado da história”. A chancelaria espanhola considerou a resposta “inaceitável” e convocou o encarregado de negócios da embaixada para prestar esclarecimentos.

População faminta e sob ataque

A crise humanitária em Gaza é agravada por uma escassez de alimentos que atinge mais de dois milhões de pessoas, muitas delas vivendo em condições semelhantes à fome extrema. Após mais de dois meses de bloqueio total, Israel permitiu, no final de maio, o ingresso limitado de suprimentos. No entanto, a distribuição tem ocorrido em meio ao caos e à violência. Testemunhas relatam episódios quase diários de tiros disparados por soldados israelenses contra civis que aguardam a chegada de ajuda humanitária.

"Meus filhos não têm o que comer. Estou sem farinha há quase dois meses", disse Imad al-Attar, morador de Khan Yunis, ao relatar a dificuldade em obter uma simples sacola de farinha. Já Khaled Rashwan resumiu a angústia da população: "Queremos apenas comer. Estamos morrendo e ninguém olha para nós. A quem podemos recorrer?"

Segundo o Ministério da Saúde de Gaza, aproximadamente 550 pessoas foram mortas nas proximidades de centros de distribuição de ajuda desde o fim de maio. A ONU condenou o que chamou de “instrumentalização da fome” e criticou severamente a fundação humanitária financiada por Israel e Estados Unidos, que passou a operar no território substituindo entidades internacionais consolidadas.

Ajuda sob suspeita

A Gaza Humanitarian Foundation (GHF), entidade privada que iniciou suas atividades no território palestino em maio, tem sido alvo de denúncias quanto à falta de neutralidade e à ocorrência de mortes em torno de seus pontos de distribuição. Embora a GHF negue qualquer ligação com incidentes fatais, imagens e relatos contradizem sua versão. Ainda assim, o governo dos Estados Unidos anunciou, nesta quinta-feira, o aporte de US$ 30 milhões à fundação e incentivou outros países a contribuírem.

Já a Organização Mundial da Saúde conseguiu enviar seu primeiro carregamento médico desde 2 de março. Foram nove caminhões, descritos pelo órgão como "uma gota no oceano" diante das necessidades da população local.

O acesso restrito de jornalistas e a proibição imposta por Israel à presença de imprensa independente dificultam a verificação das informações. A agência AFP, por exemplo, informou não ter como confirmar de forma autônoma os números de mortos e feridos fornecidos por autoridades e socorristas palestinos.

Guerra continua após trégua com Irã

Após declarar vitória em uma ofensiva de 12 dias contra o Irã, encerrada com um cessar-fogo no último dia 24, Israel anunciou que voltará a concentrar seus esforços militares em Gaza. Segundo o governo israelense, a operação visa eliminar o Hamas e resgatar os reféns capturados durante o ataque de 7 de outubro de 2023, que matou 1.219 pessoas em Israel, a maioria civis, segundo dados oficiais compilados pela AFP.

Enquanto isso, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, declarou na quarta-feira que "grandes avanços estão sendo feitos em Gaza" e previu "boas notícias em breve" sobre o fim do conflito. Trump, que assumiu seu segundo mandato em janeiro de 2025, tem sido um defensor da atuação militar de Israel na região.

O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, por sua vez, enfrenta pressões crescentes de setores da oposição, familiares dos reféns e até membros de sua coalizão governista para pôr fim à guerra. O Catar, um dos principais mediadores nas negociações, anunciou que retomará esforços para obter um novo cessar-fogo. Segundo Israel, as tentativas de repatriação dos reféns continuam “no campo de batalha e por meio de negociações”.

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