Maioria de mexicanos e canadenses vê os Estados Unidos como ameaça
Pesquisa do Pew Research Center revela percepção negativa crescente sobre Washington, inclusive entre os principais parceiros comerciais da Casa Branca
247 – Uma pesquisa do instituto norte-americano Pew Research Center revelou um dado surpreendente: a maioria dos cidadãos do México e do Canadá — dois dos principais aliados comerciais dos Estados Unidos — considera Washington a maior ameaça à segurança nacional de seus respectivos países. Os dados chamam atenção em um momento em que o mundo discute a formação de novas alianças estratégicas, como as impulsionadas pelos Brics e seus parceiros globais.
No caso do México, 68% dos entrevistados afirmaram que veem os Estados Unidos como a principal ameaça, um aumento significativo em relação aos 56% registrados em 2019. Apenas 37% ainda consideram os EUA o maior aliado de seu país. No Canadá, a percepção é um pouco mais equilibrada, mas ainda inquietante: 59% dos canadenses dizem que os EUA representam a maior ameaça
Ruídos no quintal de casa
México e Canadá não são apenas vizinhos geográficos dos Estados Unidos. Junto com Washington, formam o Acordo Estados Unidos–México–Canadá (USMCA), sucessor do Nafta, que estabelece as regras do maior bloco comercial do continente americano. Apesar disso, a opinião pública nos dois países parece cada vez mais crítica ao papel hegemônico exercido pelos Estados Unidos.
A deterioração da imagem de Washington entre seus próprios aliados levanta questionamentos sobre a natureza das relações no hemisfério. Nos últimos anos, medidas unilaterais, imposições comerciais, pressão diplomática e políticas migratórias agressivas — especialmente durante os governos de Donald Trump — contribuíram para o desgaste dessas relações. Mesmo com Trump novamente na presidência, o discurso belicoso contra parceiros comerciais persiste, como ficou evidente nos ataques verbais recentes ao Brics e aos países do Sul Global.
Percepção global da ameaça americana
O estudo do Pew Research Center também traçou um panorama internacional mais amplo. Em países de outras regiões, a percepção negativa dos Estados Unidos segue significativa: na Indonésia, 40% consideram Washington uma grande ameaça; na África do Sul, 35%; na Espanha, 31%; na Turquia, 30%; e no Brasil, 29%.
Esses números revelam um cansaço global com o unilateralismo norte-americano e uma crescente busca por alternativas à hegemonia do Ocidente. Como destacou recente análise da Sputnik Brasil sobre a cúpula do Brics no Rio de Janeiro, realizada dias antes da divulgação da pesquisa, "Brasil e aliados reafirmaram soberania perante os EUA". A aliança Brics, ampliada e fortalecida, surge justamente como resposta à percepção de que o sistema global liderado pelos Estados Unidos está esgotado e em declínio.
Um mundo em transição
O dado mais simbólico desta pesquisa é que os dois países mais integrados economicamente aos Estados Unidos veem seu maior parceiro como uma ameaça. Essa contradição escancara o colapso do chamado "consenso americano" e abre espaço para um mundo multipolar.
A percepção crescente de ameaça pode ter consequências práticas. No México, por exemplo, já há discussões políticas sobre diversificação de parcerias comerciais. No Canadá, embora a elite política ainda mantenha alinhamento com Washington, parte significativa da sociedade civil e dos setores produtivos busca uma diplomacia mais autônoma, inclusive com foco em Europa e Ásia.
O declínio da imagem dos Estados Unidos entre seus próprios aliados é mais um indicativo de que o mundo do século XXI está se reorganizando. O futuro parece apontar para uma ordem internacional baseada na cooperação multilateral, na autodeterminação dos povos e na superação da lógica de dominação unipolar.
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