Israel convoca 54 mil ultraortodoxos para o Exército e põe coalizão de Netanyahu sob tensão

247 - As Forças de Defesa de Israel (FDI) anunciaram neste domingo (7) o início da convocação de 54 mil judeus ultraortodoxos para o serviço militar obrigatório, um movimento que pode desestabilizar a frágil coalizão governista liderada por Benjamin Netanyahu. 

“O Exército começará nesta semana a emitir convocações para completar o processo de alistamento de homens ultraortodoxos cuja condição de estudantes de yeshivá (seminário religioso) não é mais válida após a expiração do antigo arranjo legal”, informaram as FDI em comunicado, de acordo com a Deutsche Welle. A nota também destacou que “os avisos de alistamento serão enviados em ondas ao longo do mês de julho, totalizando 54 mil convocações”.

A medida cumpre determinação da Suprema Corte israelense, que, em junho de 2024, decidiu pelo fim da isenção ao grupo, diante do vencimento de uma norma temporária que permitia a dispensa do serviço militar a quem estivesse exclusivamente dedicado aos estudos religiosos. Desde então, as Forças de Defesa vinham realizando convocações pontuais, enquanto o governo buscava aprovar no Parlamento uma nova legislação que restabelecesse o benefício. No entanto, diante da pressão do Judiciário e da ausência de acordo político, o Exército foi obrigado a seguir com a ampliação do alistamento.

Desde a fundação de Israel em 1948, judeus ultraortodoxos (os chamados Haredim) são dispensados do serviço militar obrigatório — que, para os demais israelenses judeus, tem duração entre 24 e 32 meses a partir dos 18 anos. Em contrapartida, os religiosos deveriam se dedicar integralmente aos estudos da Torá.

Esse privilégio, no entanto, é alvo de contestação pela Suprema Corte desde o início dos anos 2000, o que forçou sucessivos governos a adotar soluções provisórias. Com o agravamento de múltiplos conflitos militares — em Gaza, Líbano, Iêmen e com o Irã — a pressão social para a incorporação dos ultraortodoxos às FDI aumentou significativamente.

Hoje, estima-se que 66 mil homens ultraortodoxos em idade militar ainda estejam isentos. O grupo representa cerca de 14% da população judaica israelense, o equivalente a 1,3 milhão de pessoas.

O cumprimento da decisão judicial gerou reações imediatas de partidos ultraortodoxos, que integram a base da coalizão de Netanyahu desde dezembro de 2022. A aliança é composta pelo partido de direita Likud, do primeiro-ministro, e por legendas ultraconservadoras que vêm pressionando para preservar a isenção dos religiosos. Em junho, esses partidos ameaçaram votar contra Netanyahu em uma moção de desconfiança. Um acordo emergencial evitou a derrota do premiê, que sobreviveu à votação por 61 a 53.

O ponto central do impasse está na demora para aprovação, pelo Parlamento, de uma nova legislação que restabeleça a isenção aos que estudam em tempo integral nas yeshivás. Os líderes religiosos afirmam que o serviço militar comprometeria a identidade dos Haredim ao obrigá-los a servir ao lado de israelenses seculares.

Apesar disso, as FDI reafirmaram o compromisso de implementar a ordem judicial respeitando a cultura religiosa do grupo. “O Exército continuará seus esforços para aumentar o alistamento entre os ultraortodoxos, ao mesmo tempo em que busca garantir as melhores condições possíveis que respeitem seu modo de vida único”, afirmaram os militares.