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Governo descarta Mercosul como via para responder a tarifa de Trump

Presidência brasileira do bloco sul-americano não será usada contra os EUA por resistência de Milei; Planalto vê carta de Trump como interferência política

(Foto: Ricardo Stuckert / PR)
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247 - Após o anúncio do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre a imposição de uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, o governo de Luiz Inácio Lula da Silva avalia possíveis formas de reação. De acordo com reportagem publicada pelo Valor Econômico, uma alternativa considerada seria recorrer ao Mercosul, presidido temporariamente pelo Brasil. 

No entanto, segundo interlocutores do Palácio do Planalto ouvidos pelo jornal, essa hipótese está descartada, devido à resistência esperada do presidente argentino, Javier Milei.

Integrantes do governo avaliam que Milei, conhecido por imitar publicamente a retórica e a agenda política de Trump, não aceitaria endossar um posicionamento conjunto do bloco contra os Estados Unidos. Durante sua campanha eleitoral, Milei manifestou repetidas vezes alinhamento com o líder norte-americano e, por isso, há a percepção de que qualquer tentativa de unidade no bloco sul-americano seria rapidamente bloqueada.

Diante desse obstáculo diplomático, o governo brasileiro estuda recorrer à Organização Mundial do Comércio (OMC). Ainda assim, fontes do Planalto admitem que a iniciativa teria mais valor simbólico do que prático, já que dificilmente o governo dos Estados Unidos acataria uma decisão desfavorável do órgão multilateral.

Reação urgente no Planalto

A decisão de Trump provocou reações imediatas em Brasília. O presidente Lula convocou, às pressas, uma reunião emergencial com os principais ministros da área econômica e internacional. Estiveram presentes o chanceler Mauro Vieira, o vice-presidente e titular do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Geraldo Alckmin, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, o chefe da Casa Civil, Rui Costa, e o assessor especial da Presidência para assuntos internacionais, Celso Amorim. Após o encontro, Haddad deixou o ministério sem dar declarações à imprensa.

Carta de Trump mira Justiça brasileira

O teor da carta enviada por Donald Trump ao presidente Lula ampliou a tensão entre os dois países. Publicado também no perfil do norte-americano na rede Truth Social, o documento atribui a elevação da tarifa ao processo judicial movido contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, que já foi declarado inelegível pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e responde a acusações de tentativa de golpe de Estado.

A justificativa de Trump rompe com os argumentos econômicos tradicionais utilizados pelos Estados Unidos em decisões tarifárias e foi interpretada pelo governo brasileiro como uma afronta às instituições nacionais. Avaliação feita por assessores palacianos é de que a ação de Trump pode “sair pela culatra”, uma vez que escancara o envolvimento direto de um chefe de Estado estrangeiro na política interna brasileira.

Segundo fontes próximas à cúpula do governo, há o entendimento de que esse gesto reforça o vínculo entre Bolsonaro e um agente internacional que atua, de forma explícita, contra a soberania do país e o funcionamento democrático de seus Poderes.

Ceticismo quanto ao diálogo direto

Em meio ao agravamento da tensão, especialistas ouvidos pelo Valor Econômico expressaram ceticismo sobre a possibilidade de uma negociação bilateral produtiva entre os dois países. “Acho bem difícil uma negociação entre Brasil e EUA”, resumiu o analista político Garman, refletindo o clima de desconfiança que tomou conta do Itamaraty e da equipe econômica.

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