Encontro entre Wang Yi e Marco Rubio sinaliza retomada pragmática do diálogo China-EUA

247 - O ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, e o secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio, se encontraram nesta sexta-feira (11), em Kuala Lumpur, durante os encontros paralelos à reunião de ministros das Relações Exteriores da ASEAN. 

O encontro marca a primeira reunião presencial entre os dois diplomatas desde a volta de Donald Trump à presidência dos EUA, em janeiro. As informações são do Global Times.

Segundo o Ministério das Relações Exteriores da China, o diálogo foi classificado como "positivo, pragmático e construtivo". Ambos os lados concordaram em intensificar os canais de comunicação em diversos níveis e áreas, priorizando o papel das pastas de relações exteriores na gestão de divergências e na busca de cooperação ampliada.

Diplomacia de alto nível em momento de tensão global

O encontro acontece em um cenário internacional pressionado por novas tarifas comerciais impostas pelos EUA e pelas crises em curso na Ucrânia e no Oriente Médio. Desde o início do ano, o presidente chinês Xi Jinping e o presidente norte-americano Donald Trump mantiveram dois telefonemas — nos dias 17 de janeiro e 5 de junho — cujas diretrizes diplomáticas vêm moldando os esforços de reaproximação entre as duas potências.

A reunião entre Wang Yi e Marco Rubio dá continuidade a esse esforço. Wang afirmou esperar que os EUA passem a enxergar a China com uma postura "objetiva, racional e pragmática", propondo uma convivência baseada em "respeito mútuo, igualdade e benefícios recíprocos". Segundo a nota oficial, os dois governos se comprometeram a transformar os consensos firmados pelos chefes de Estado em ações concretas.

Do lado americano, o Departamento de Estado também caracterizou o encontro como construtivo. Rubio ressaltou a necessidade de manter os canais de comunicação abertos e se mostrou otimista com a possibilidade de uma nova cúpula entre Trump e Xi: "As chances são altas", disse o secretário a jornalistas após a conversa com Wang.

ASEAN busca estabilidade frente à escalada tarifária

Antes do encontro bilateral, tanto Wang quanto Rubio participaram de reuniões com seus pares da ASEAN. A declaração conjunta dos ministros da associação condenou o uso de tarifas unilaterais, apontando que tais medidas podem aprofundar a fragmentação econômica global — crítica indireta às políticas de Washington.

O premiê da Malásia, Anwar Ibrahim, foi enfático ao alertar que o mundo vive uma era em que "o poder subverte princípios", citando que ferramentas que antes serviam para gerar crescimento hoje são utilizadas como instrumentos de coerção e contenção. Ele pediu união dos países do Sudeste Asiático contra as ameaças comerciais.

Em agosto, entram em vigor novas tarifas dos EUA contra seis países da ASEAN, incluindo uma taxa de 25% sobre produtos da Malásia e taxas ainda maiores para Mianmar, Laos, Camboja, Tailândia e Indonésia, segundo informações do Straits Times. Diante disso, a ASEAN pretende fortalecer o comércio regional, avançar em parcerias e ampliar o uso do acordo RCEP.

O ex-premiê malaio Tun Dr Mahathir Mohamad também manifestou sua visão, afirmando que a China é um vizinho com o qual a região mantém relações por quase 2 mil anos, sugerindo que os países do Sudeste Asiático devem estreitar laços com Pequim ao invés de se submeterem a pressões econômicas dos EUA.

Riscos e esperanças para o Indo-Pacífico

Durante sua primeira visita oficial à Ásia como secretário de Estado, Rubio reafirmou o compromisso de Washington com a criação de uma região "livre, aberta e segura". Mas segundo o professor Li Haidong, da Universidade de Relações Exteriores da China, o uso recorrente desses termos pelos EUA vem perdendo ressonância e apoio na região.

"Se os EUA insistirem em fomentar divisão e instabilidade no Indo-Pacífico, certamente enfrentarão resistência não apenas da China, mas da maioria dos países da ASEAN", alertou Li.

Por outro lado, o analista Diao Daming, da Universidade Renmin, destacou que o encontro Wang-Rubio reforça a confiança e previsibilidade na relação bilateral e no cenário regional. Segundo ele, as interações de alto nível são essenciais para lidar com crises globais e fortalecer a estabilidade econômica e geopolítica.