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Centros de detenção de imigrantes nos EUA geram preocupação por condições extremas: “imundo e desumano”

Superlotação, maus-tratos e mortes revelam crise humanitária crescente em meio à política migratória do governo Trump

Bandeira dos Estados Unidos hasteada na Base Naval dos EUA na Baía de Guantánamo, Cuba. Sob Trump, EUA planejam enviar voos diários com imigrantes irregulares para o local, conhecido por aplicar punições severas, inclusive violando dos direitos humanos (Foto: Lucas Jackson/Reuters)
Otávio Rosso avatar
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247 - Longe dos holofotes, uma crise humanitária se aprofunda nos centros de detenção de imigrantes dos Estados Unidos, reflexo direto da intensificação da repressão migratória durante o governo de Donald Trump. A situação alarmante inclui superlotação, negligência médica e violações dos direitos humanos. As informações são do jornal O Globo.

Em junho de 2025, o número de imigrantes sob custódia federal ultrapassou 56 mil — muito acima da capacidade estimada de 41 mil vagas. Esse aumento coincide com a meta imposta pela Casa Branca  de realizar até 3 mil prisões por dia. Para dar conta da demanda, o governo ampliou contratos com empresas privadas de presídios e solicitou um orçamento de US$ 45 bilhões — mais de dez vezes o valor anteriormente destinado ao setor.

As consequências dessa política estão longe de ser apenas numéricas. Em meio ao colapso do sistema, ao menos dez imigrantes morreram sob custódia do Serviço de Imigração e Controle de Alfândegas (ICE) desde janeiro — dois deles no centro de Krome, em Miami, onde detidos formaram a sigla “SOS” com os próprios corpos no pátio, em apelo desesperado por socorro.

Paul Chavez, diretor de Litígios e Defesa Institucional da organização Americans for Immigrant Justice (AIJ), com sede na Flórida, afirma nunca ter visto situação semelhante. “Estas são as piores condições que presenciei em meus 20 anos de carreira. As condições nunca foram boas, mas isso é horrível”, disse.

Os relatos são consistentes. Marcelo Gomes, jovem brasileiro de 18 anos detido a caminho de um treino de vôlei em Massachusetts, conta que passou seis dias sem banho ou troca de roupa, em uma sala com um único vaso sanitário para 40 homens. “A comida era ruim e muito pouca. Eu precisava beber água para conseguir engolir”, relatou.

Outros centros enfrentam situações similares. No Centro de Detenção do Noroeste, em Tacoma (Washington), gerido pela GEO Group, organizações denunciam confinamento solitário, vigilância antissuicídio após denúncias de maus-tratos, e atraso na entrega de alimentos e produtos básicos.

No Alasca, a advogada Cindy Woods, da União Americana pelas Liberdades Civis (ACLU), relatou o uso de spray de pimenta e confinamentos recorrentes em penitenciárias estaduais.“Estamos muito preocupados com a saúde mental e o bem-estar dessas pessoas”, disse ela, em audiência no Legislativo estadual.

A deputada democrata Judy Chu, após visitar o centro de Adelanto, na Califórnia, declarou nas redes sociais: “Eles não puderam trocar de roupa íntima por dez dias”.

A versão oficial, no entanto, nega as acusações. Tricia McLaughlin, porta-voz do Departamento de Segurança Interna (DHS), declarou que os detidos recebem “alimentação adequada, atendimento médico e têm a oportunidade de se comunicar com familiares e advogados”. Ela atribuiu o problema ao alto número de liminares judiciais, que atrasam as deportações.  “O DHS está trabalhando de forma acelerada para remover esses estrangeiros dos centros de detenção e levá-los ao seu destino final: casa”, afirmou.

No entanto, a distância entre o discurso institucional e a realidade nas unidades de detenção é evidente. Em Nova York e Los Angeles, há registros de imigrantes mantidos por dias em salas de triagem sem acesso a advogados ou informações sobre o paradeiro. Em Chicago, Cynthia Myers relatou que seu marido, preso enquanto aguardava o processo de asilo, foi pressionado a aceitar a deportação sem julgamento justo.

A advogada Nera Shefer, no Arizona, revelou um método ainda mais controverso. “Estão escolhendo pessoas aleatoriamente e dizendo: ‘Quer ir embora? Te pagamos. Precisamos da sua cama’”.

A resposta do GEO Group, principal operadora privada dos centros, contradiz as denúncias. Em nota, afirmou que “nossos centros nunca estão superlotados” e que oferecem “cuidados médicos 24 horas, alimentação adequada e serviços de visita”.

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