BRICS aposta em sistemas nacionais de pagamento e descarta moeda comum
Estratégia reflete a preferência majoritária por utilizar plataformas já consolidadas e promover uma interligação entre elas
247 - Sob a liderança do Brasil, o BRICS decidiu mapear os sistemas de pagamentos já existentes entre seus membros, como etapa inicial de um esforço para ampliar a integração financeira e fomentar o comércio e os investimentos no bloco. A proposta consiste na elaboração de um inventário dos mecanismos de transações adotados por cada país, o que permitirá identificar caminhos viáveis para aprofundar a cooperação e reduzir custos operacionais, sem necessariamente criar uma nova estrutura ou moeda comum. A estratégia,de acordo com interlocutores ouvidos pela Folha de S. Paulo, reflete a preferência majoritária por utilizar plataformas já consolidadas e promover uma interligação entre elas.
Apesar das pressões da Rússia e da ex-presidente Dilma Rousseff, que atualmente preside o Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), a cúpula do BRICS — marcada para os dias 6 e 7 de julho no Rio de Janeiro — não incluirá compromissos formais com sistemas alternativos ao dólar. A resistência à ideia ganhou força após declarações do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que chegou a ameaçar impor tarifas aos países do Brics caso o grupo adotasse uma moeda própria.
O posicionamento brasileiro já havia sido sinalizado em fevereiro, quando o embaixador e sherpa do BRICS, Maurício Lyrio, afirmou que a criação de uma moeda comum estava fora de cogitação. Ele destacou que o foco da presidência brasileira está em facilitar transações por meio de moedas locais e aumentar a cooperação técnica entre os bancos centrais e os ministérios da Fazenda.
Em entrevista à Folha, a secretária de Assuntos Internacionais do Ministério da Fazenda, Tatiana Rosito, já havia minimizado o impacto das ameaças do presidente norte-americano sobre os debates internos do bloco ao afirmar que “as ameaças de Trump tiveram um impacto bastante limitado sobre a atuação do grupo”.
Durante as reuniões técnicas realizadas em fevereiro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) também evitou confrontar diretamente Trump. Em vez disso, defendeu o avanço de alternativas que possibilitem operações em moedas locais, com o objetivo de reduzir "vulnerabilidades e custos" associados ao uso exclusivo do dólar no comércio internacional.
A hegemonia da moeda estadunidense no sistema global de pagamentos é há muito criticada pelos países do Brics. Segundo as avaliações internas, a dependência do dólar expõe os membros a sanções unilaterais e limita sua autonomia econômica. Essa preocupação está no centro da chamada "trilha financeira" do BRICS, conduzida pelo Banco Central em parceria com o Ministério da Fazenda.
Entre os sistemas com potencial para integração internacional está o Pix, criado pelo Banco Central do Brasil. A ferramenta, embora eficiente, ainda enfrenta barreiras regulatórias, como diferenças entre as normas de tributação e combate à lavagem de dinheiro adotadas pelos países.
O debate também se estende às inovações tecnológicas. No Brasil, o BC desenvolve o Drex — versão digital do real — com foco em transações complexas e maior eficiência. Os testes com a moeda digital brasileira estão em andamento, mas questões relacionadas à privacidade ainda precisam ser resolvidas.
Experiências semelhantes têm sido analisadas pelo Banco de Compensações Internacionais (BIS), que coordena estudos sobre a integração de moedas digitais em projetos como o mBridge. A iniciativa, que envolvia os bancos centrais da China e dos Emirados Árabes Unidos — ambos membros do BRICS —, buscava viabilizar pagamentos instantâneos entre diferentes moedas. O projeto, no entanto, foi descontinuado em 2024. Segundo representantes do BIS, a decisão não teve motivação política.
Atualmente, integram formalmente o BRICS: Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Indonésia e Irã. A Arábia Saudita, embora convidada em 2023, ainda não formalizou sua adesão, mas vem participando das reuniões como observadora.
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