Waack prevê graves danos para a direita bolsonarista após a agressão de Trump
A direita brasileira identificada com o presidente dos EUA pode ser desmoralizada com o ataque inédito ao Brasil, avalia William Waack
247 – Em artigo publicado nesta quinta-feira 10 no Estado de S. Paulo, o jornalista William Waack analisou as graves consequências da ofensiva política do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, contra o Brasil. Segundo Waack, o ataque não tem precedentes históricos e deverá atingir em cheio a direita bolsonarista, que ainda se identifica com o líder norte-americano. “A direita brasileira identificada com Trump vai sofrer graves danos eleitorais”, escreveu.
Trump anunciou a elevação de tarifas de 50% para todos os produtos brasileiros exportados para os EUA. A decisão foi acompanhada de uma carta enviada ao presidente Lula, em que o mandatário americano se queixa de ações do Judiciário brasileiro contra Jair Bolsonaro e de medidas do Supremo Tribunal Federal (STF) contra redes sociais americanas tidas como abrigo de golpistas. Para Waack, trata-se de um gesto autoritário e ideológico. “Trump age com a prepotência de quem, de fato, escolheu dividir o mundo em esferas onde os fortões fazem o que querem, e os fracos — como o Brasil — que se virem”, afirmou.
O jornalista lembrou que a última vez em que um presidente americano agiu contra o Brasil por razões políticas foi durante o governo de Jimmy Carter, na década de 1970. Na ocasião, a pressão se deu por conta de denúncias de violações de direitos humanos pela ditadura militar e por causa do acordo nuclear entre Brasil e Alemanha. “As semelhanças são remotas dada a brutalidade — e a irracionalidade ideológica — exibida por Trump neste momento”, comparou.
Waack classifica a atitude de Trump como uma manifestação de ignorância e despreparo:
“Do ponto de vista exclusivamente comercial e geopolítico o tratamento que o presidente dos EUA dá ao Brasil é simplesmente burrice.”
Embora reconheça que os danos comerciais possam ser eventualmente negociados — como ocorreu com outros países — o jornalista considera que o problema mais profundo é de natureza política, com impactos também no cenário doméstico brasileiro. Ele cita exemplos de países como Canadá, Austrália, México e Alemanha, onde a ingerência de Trump fragilizou justamente os grupos políticos que ele dizia apoiar.
“Trump desmoralizou, enfraqueceu e tirou potencial eleitoral das forças políticas que quis ‘proteger’. No caso brasileiro, o clã Bolsonaro e todo agente político que aderiu ao fã clube de Trump”, escreveu.
William Waack também critica a falta de articulação diplomática do governo brasileiro com a atual administração americana. Segundo ele, diferentemente do que fez a presidente do México, o Brasil não soube estabelecer canais diretos com a Casa Branca, o que agrava a vulnerabilidade diante de retaliações.
“O Brasil é uma potência menor, com escassa capacidade de retaliação que não nos torne ainda mais vulneráveis, sobretudo em relação a insumos”, alertou.
Ao concluir sua análise, o jornalista aponta que, embora os “Trumps” possam passar, os laços entre Brasil e Estados Unidos permanecem. No entanto, ele adverte que o horizonte da racionalidade dificilmente será percebido no calor dos próximos dias, marcados por tensões e disputas ideológicas.
A análise de William Waack expõe não apenas os riscos imediatos da retaliação americana, mas também os danos colaterais a uma ala política brasileira que, ao se alinhar incondicionalmente a Trump, pode agora colher os frutos de um erro de cálculo estratégico.
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