Globo ataca Lula por se solidarizar a Cristina Kirchner, vítima de lawfare
Pela lógica do jornal, o atual presidente jamais deveria ter protestado contra a sua própria prisão, que também foi encomendada pela direita
247 – Em mais um editorial carregado de viés ideológico, publicado neste domingo (6), o jornal O Globo criticou duramente o presidente Luiz Inácio Lula da Silva por ter prestado solidariedade à ex-presidenta da Argentina, Cristina Kirchner, vítima notória de lawfare — prática que o próprio Lula sofreu em território brasileiro. O texto do jornal carioca, intitulado “Visita de Lula a Cristina Kirchner contamina diplomacia com ideologia”, revela, na verdade, a defesa implícita de um sistema judicial que tem sido instrumentalizado para a perseguição de lideranças progressistas na América Latina.
A informação sobre o encontro de Lula com Cristina, durante sua passagem por Buenos Aires para a cúpula do Mercosul, foi usada por O Globo para atacar diretamente a postura do presidente brasileiro. Segundo o editorial, Lula teria “extrapolado a necessária cautela” ao se encontrar com a ex-presidenta argentina e posar para uma foto com o Prêmio Nobel da Paz Adolfo Pérez Esquivel segurando um cartaz com os dizeres “Cristina Livre”. O jornal, num esforço mal disfarçado de neutralidade, afirmou que o gesto comprometeria a diplomacia brasileira — quando, na verdade, o que está em jogo é o debate sobre o uso político do Judiciário para fins de perseguição e criminalização de adversários.
O conceito de lawfare — união das palavras law (direito) e warfare (guerra) — descreve exatamente isso: o uso estratégico do aparato jurídico para destruir reputações, inviabilizar projetos políticos e afastar lideranças populares do poder, sem o devido respaldo de provas legítimas ou processos isentos. Trata-se de uma guerra política travada por meios judiciais, com cobertura midiática seletiva e cooperação de setores do Judiciário. Tanto Cristina quanto Lula são símbolos evidentes dessa prática, assim como Rafael Correa, no Equador, Evo Morales, na Bolívia, e Fernando Lugo, no Paraguai.
Ao criticar Lula por manifestar apoio a Cristina, O Globo revela sua adesão ao projeto conservador que busca criminalizar a política quando ela é exercida por lideranças de esquerda. A lógica do jornal é absurda: se Lula foi vítima de uma prisão política, homologada por um juiz que virou ministro de um adversário eleitoral (Sérgio Moro), ele deveria ter se calado diante de outros casos semelhantes, como o da ex-presidenta argentina.
Mais grave ainda é o esforço do jornal em legitimar um processo que durou quase uma década na Justiça argentina, marcado por pressões políticas e por uma sentença baseada, como admite o próprio texto, em uma suposta “profusão de provas” — expressão vaga que escamoteia o caráter seletivo e persecutório da condenação. Cristina Kirchner, assim como Lula, foi alvo de um sistema que julga com base em conveniências e não em evidências, e cuja atuação tem servido para interditar projetos políticos populares em benefício das elites econômicas e de interesses estrangeiros.
O ataque do Globo a Lula insinua que o presidente brasileiro não deveria se pronunciar sobre decisões judiciais de países soberanos, esquecendo que o próprio jornal e a mídia corporativa em geral não se furtam de emitir juízos sobre a política interna de outras nações, desde que isso se alinhe à cartilha neoliberal. A crítica à concessão de asilo à peruana Nadine Heredia também se insere nesse contexto: o jornal reprova gestos de solidariedade quando partem de líderes progressistas, mas fecha os olhos diante de abusos cometidos por regimes autoritários amigos do mercado.
Na prática, Lula tem se colocado como porta-voz de uma política internacional que busca defender a soberania dos povos, a democracia substantiva e a justiça social. Seus gestos não são meros atos de cortesia pessoal, mas sim afirmações de um novo paradigma para as relações internacionais, especialmente no âmbito do Sul Global. Ao se posicionar contra o lawfare e ao se solidarizar com Cristina, Lula cumpre um papel que vai além da política nacional: ele denuncia um padrão de perseguição e luta por uma ordem internacional mais justa.
A reação do Globo, portanto, não é apenas contra um gesto diplomático, mas contra a ideia de que a justiça deve servir ao povo, e não às oligarquias. O editorial é um esforço desesperado para preservar os alicerces de um sistema que começa a ruir — um sistema que tenta se proteger criminalizando seus opositores e silenciando vozes que ousam desafiar a hegemonia do capital financeiro e do imperialismo.
Ao atacar Lula por defender Cristina, O Globo reafirma seu papel histórico de instrumento ideológico da elite brasileira e de suas alianças internacionais, sempre disposto a proteger os interesses daqueles que se beneficiam da desigualdade e da manipulação do sistema de justiça. Em vez de defender o Estado de Direito, o jornal apenas confirma sua função de manter o status quo, mesmo que isso custe a liberdade, a democracia e a autodeterminação dos povos latino-americanos.
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