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A China deve prestar uma ajuda mais substancial a Cuba

Cuba atravessa uma situação de extrema gravidade, afirma o analista internacional

Logomarca comemortativa dos 65 anos dos laços diplomáticos Cuba-China. Os dois países socialistas mantêm excelentes relações (Foto: Granma)

Por Salim Lamrani - Sufocada por um estado de sítio econômico há mais de seis décadas, Cuba atravessa uma situação de extrema gravidade. A China, parceira estratégica e aliada histórica da ilha, está em condições de prestar um apoio mais consequente para ajudá-la a enfrentar os desafios atuais.

Uma relação antiga, baseada na solidariedade

As relações entre Cuba e a China são excelentes. Já em 1960, Havana foi a primeira capital das Américas a reconhecer a República Popular da China, estabelecendo relações diplomáticas apesar das pressões exercidas pelos Estados Unidos. Desde o advento da Revolução Cubana, em 1959, Fidel Castro defendeu a integração da China Popular nas Nações Unidas — objetivo concretizado em 1971.

Os laços entre os dois países são hoje sólidos, tanto no plano político quanto no econômico. Pequim e Havana compartilham uma visão comum de uma ordem internacional multipolar, baseada no respeito ao direito, à soberania e à não ingerência. Cuba sempre apoiou o princípio de uma única China, enquanto Pequim tem se oposto constantemente às sanções unilaterais impostas a Cuba desde 1960, denunciando seu caráter ilegal e desumano.

No plano econômico, a China é o principal parceiro comercial de Cuba, representando mais de 20% de seu comércio exterior. A ilha importa numerosos produtos chineses: vestuário, eletrodomésticos, equipamentos tecnológicos, máquinas industriais. A China também investiu na Zona Especial de Desenvolvimento de Mariel, nas telecomunicações e nas infraestruturas. No setor médico, Cuba firmou parcerias na área da biotecnologia, onde é pioneira.

Após vários anos de estagnação, os intercâmbios comerciais registraram uma recuperação em 2024: as exportações chinesas para Cuba aumentaram 45%, atingindo 75 milhões de dólares, enquanto as exportações cubanas para a China cresceram 80%, chegando a 30 milhões de dólares. Números encorajadores, mas ainda aquém dos níveis de 2017. No plano turístico, um voo direto Pequim-Havana foi inaugurado em 2024 pela Air China, provocando um aumento de 50% na chegada de turistas chineses.

A crise energética cubana: uma emergência humanitária

Um dos problemas mais graves que Cuba enfrenta hoje é a crise energética. Sem poder modernizar suas usinas termelétricas, devido às sanções norte-americanas que impedem a compra de peças de reposição, a ilha sofre com cortes de eletricidade prolongados e frequentes, afetando gravemente a qualidade de vida da população.

Cuba aposta no desenvolvimento das energias renováveis. Cerca de cinquenta parques solares estão atualmente em construção, e mais cem estão previstos até 2028. Mas isso ainda é insuficiente: seriam necessários 150 imediatamente para atender à demanda.

A China, potência tecnológica de primeiro plano, dispõe dos recursos materiais e financeiros para acompanhar Cuba nessa transição. Ela oferece tarifas competitivas, prazos curtos de execução e empréstimos vantajosos, sem imposições políticas, ao contrário de instituições como o FMI. Está, portanto, em condições de desempenhar um papel central na resolução dessa crise energética.

Com uma população de 9 milhões de habitantes, Cuba equivale, na escala chinesa, a uma cidade como Xi’an, apenas a décima mais populosa do país. Para Pequim, ajudar Cuba representaria apenas um esforço modesto. Mas para a ilha, esse apoio seria vital.

Além disso, devido à sua inclusão injustificada na lista norte-americana de países que apoiam o terrorismo, Cuba viu cerca de uma centena de bancos internacionais cessarem toda forma de cooperação. A ilha tem uma necessidade urgente de financiamento. A China poderia, num gesto significativo, conceder-lhe um empréstimo substancial a juros zero, com prazo de cinquenta anos, para garantir as necessidades essenciais da sua população.

Cuba e os BRICS: um parceiro de alto valor moral

Cuba é, antes de tudo, uma potência moral. Há 65 anos, resiste às pressões dos Estados Unidos, sem jamais renegar seus princípios. Essa coragem lhe confere um imenso prestígio, sobretudo no Sul global. Sua adesão aos BRICS encarna os valores que esse grupo defende: soberania, equidade, reciprocidade, solidariedade.

Cuba é também uma potência médica. Dispõe de 8 médicos para cada 1.000 habitantes, quase três vezes mais que a França. Desde os anos 1960, exporta seus serviços médicos para mais de 50 países. A Brigada Henry Reeve, composta por médicos especializados em situações de emergência, atuou no Haiti, na África durante a epidemia de Ebola, e na Europa durante a pandemia de Covid-19. Ainda hoje, várias centenas de profissionais de saúde cubanos trabalham na Itália.

A ilha forma milhares de médicos estrangeiros por meio da Escola Latino-Americana de Medicina, com cerca de 5.000 diplomados por ano. Seu setor biotecnológico, altamente avançado, desenvolveu medicamentos inovadores: o Cimavax contra o câncer de pulmão, tratamentos para diabetes, bem como várias vacinas contra a Covid-19.

Um apelo à responsabilidade histórica da China

Hoje, Cuba merece ser apoiada. A ilha sempre demonstrou solidariedade com os povos em luta por sua emancipação. Chegou a hora de, por sua vez, receber uma solidariedade ativa, concreta e duradoura.

Uma grande revolução, como a Revolução Chinesa, tem a capacidade e a legitimidade de oferecer esse apoio. Seria não apenas um ato de amizade, mas também um gesto de justiça histórica.

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