Consumidores denunciam cegueira após uso de sérum da "Wepink", marca da Virgínia
Cabeleireira afirma que ficou quatro dias sem enxergar após aplicar produto nos cílios
247 - Um sérum para cílios e sobrancelhas da marca Wepink, de propriedade da influenciadora e empresária Virginia Fonseca, está no centro de uma série de relatos de queimaduras oculares. Consumidoras dizem ter sofrido reações adversas graves após o uso do produto Wedrop. A informação foi publicada pelo g1 nesta quinta-feira (11), que ouviu especialistas e pacientes afetadas.
Entre os casos está o de Lidiane Herculano, cabeleireira de 45 anos. Ela afirma que ficou quatro dias sem conseguir abrir os olhos por causa da dor intensa. “Parecia gilete cortando os meus olhos. Eu precisava forçar os olhos para soltar a água acumulada, porque não conseguia abri-los”, relatou. “A maior sequela foi emocional, porque eu fiquei com medo de não voltar a enxergar.”
Lidiane diz que aplicou o sérum nos cílios em 13 de junho, antes de dormir, e que não encontrou informações no site do produto contra o uso noturno. Na madrugada, acordou com a visão embaçada e, ao acender a luz, via tudo “acinzentado”. Mesmo após lavar os olhos com água e soro fisiológico, os sintomas persistiram. No dia seguinte, recebeu o diagnóstico de queimadura na córnea.
Segundo a paciente, dois médicos confirmaram a lesão ocular e receitaram colírios, incluindo antibiótico e lubrificante. A situação se agravou e ela precisou de atendimento emergencial para que os olhos fossem anestesiados, permitindo que ela os abrisse.
Lidiane não foi a única. No site Reclame Aqui, ao menos dez relatos similares foram registrados desde 2023. Uma consumidora escreveu: "Assim que usei o Wedrop nos meus cílios, o produto me deu uma alergia que parecia que tinha um ferro dentro dos meus olhos." Outro relato, de 2024, afirma: "Usei o Wedrop, e isso ocasionou uma inflamação no meu olho direito."
Apesar das denúncias, a Wepink não respondeu às solicitações da reportagem até o fechamento da matéria. Lidiane afirmou que advogados da empresa entraram em contato, mas não explicaram o que poderia ter causado o problema.
O oftalmologista do Hospital Sírio-Libanês, Newton Kara José Junior, avaliou a composição do sérum e apontou riscos: “A Anvisa aprova o produto como cosmético para uso nos cílios. Como não é um medicamento, ele não passa por estudos rigorosos de eficácia e segurança. Não foi considerada a possibilidade de contato com os olhos nem foram realizados testes para esse tipo de exposição”.
Ele também destacou que, embora a embalagem mencione testes dermatológicos, não há menção a testes oftalmológicos — considerados essenciais para produtos que podem atingir os olhos.
O perito químico e professor do Senai, André Luiz Carneiro Simões, analisou os componentes do Wedrop. Ele explicou que alguns ingredientes podem provocar irritações, especialmente em pessoas sensíveis. “A gente tem componentes que têm algum risco alérgico, mas é preciso lembrar que as reações são muito individuais”, afirmou. Entre os compostos de atenção estão o Imidazolidinyl Urea, Triethanolamine e o PPG-5-Ceteth-20, que podem causar irritação ocular dependendo da concentração e da suscetibilidade da pessoa.
O oftalmologista Sergio Felberg, do Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo, reforçou os riscos: “Algumas reações podem ser suficientemente tóxicas para causar danos oculares permanentes e comprometimento irreversível da visão”. Já o diretor da Sociedade Brasileira de Oftalmologia, Cesar Motta, recomendou que nenhum produto seja usado na área dos olhos sem orientação médica. Ele lembra que queimaduras químicas na córnea provocam dor intensa, e o tempo de recuperação depende da gravidade da lesão.
O que fazer em caso de reação nos olhos?
Em caso de contato com produtos que causem ardência ou irritação, médicos orientam:
- Lavar os olhos imediatamente com água filtrada, mineral, soro fisiológico ou até mesmo água corrente.
- Procurar atendimento médico urgente, já que o tempo de exposição ao produto pode agravar as lesões e deixar sequelas permanentes.
A situação reacende o debate sobre a regulamentação de cosméticos voltados à região ocular e a necessidade de testes oftalmológicos rigorosos, especialmente em um setor impulsionado por influenciadores e redes sociais.
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