“Vivemos um momento histórico, que une a questão social, a questão nacional e a questão democrática”, diz Genoino

247 – Em entrevista concedida ao programa Bom Dia 247, o ex-presidente nacional do PT, José Genoino, afirmou que o Brasil atravessa uma oportunidade histórica singular em sua conjuntura política, ao reunir simultaneamente três dimensões essenciais: a questão social, a questão nacional e a questão democrática. A análise foi feita em meio à ofensiva tarifária dos Estados Unidos, sob comando do presidente Donald Trump, contra o Brasil e outros países, e ao crescente desgaste da extrema-direita bolsonarista.

“Estamos vivendo um momento especial da conjuntura política. Três questões se fundem numa só: a questão social da justiça tributária, a questão nacional com a luta anti-imperialista, que estava meio esquecida da agenda, e a questão democrática, que é o julgamento dos golpistas”, disse Genoino.

Na avaliação do dirigente histórico do PT, os recentes acontecimentos — incluindo o ato político na Avenida Paulista e a resposta do governo à escalada de hostilidade norte-americana — representam uma possibilidade concreta de romper com o ciclo de submissão ao imperialismo. “Nós estamos diante de uma oportunidade histórica para avançar o processo de transformação e de enfrentamento do projeto neoliberal entreguista, vassalo, vinculado ao trumpismo”, afirmou.

Genoino expressou apoio ao conteúdo das declarações do presidente Lula em reação ao tarifário de Trump, destacando a firmeza da posição brasileira. No entanto, fez críticas à forma adotada pelo governo ao comunicar a resposta, sugerindo um caminho com mais peso simbólico: “Definitivamente, o melhor caminho para um presidente da República se pronunciar é convocando cadeia de rádio e televisão. Pelo peso, pela estatura da nação. Não pode ser só entrevista em um veículo”.

Para ele, o Brasil precisa ocupar as ruas com mobilizações políticas e construir uma aliança nacional contra a escalada do imperialismo. “Essa manifestação foi significativa por ser o início. Nós temos que fazer agora uma manifestação mais articulada. Vou lutar para que o PT assuma mais firmemente a participação dessas manifestações, leve bandeiras para a rua”, defendeu.

Ao abordar o papel da extrema direita, Genoino alertou para o perigo do discurso autoritário e da desinformação. “A extrema direita fascista tá na defensiva, tentando buscar uma narrativa. Eles foram tão ousados do ponto de vista da vassalagem que estão desgastados. Mas não podemos ter ilusão: eles têm base na sociedade. A classe dominante brasileira tem uma história de dependência estrutural”, advertiu.

Na visão de Genoino, a crise global está obrigando o governo Lula a adotar uma postura mais combativa. “A crise está forçando o PT a sair do comodismo e da defensiva. A situação exige que a gente qualifique e defina melhor quais são os rumos. Nós seremos um país soberano ou dominado? Democrático ou entregue a essa cambada de fascista?”, questionou.

Sobre a reação internacional ao tarifaço de Trump, Genoino destacou que o governo precisa agir com firmeza, mas também com habilidade para ampliar alianças. “É necessário que essa reação ocupe as ruas e as instâncias do governo. O presidente Lula tem história de enfrentamento. Ele não é uma liderança de morte morrida. Ele vai até o fim pela sua identidade política”, afirmou.

Concluindo sua análise, Genoino ressaltou que o Brasil vive um ponto de inflexão, e que cabe à esquerda ser protagonista da alternativa. “A crise é muito profunda. Ela afeta todos os setores. Nós temos que buscar um caminho para enfrentar essas questões do ponto de vista do aprofundamento da democracia, da justiça fiscal e tributária, e da luta nacional anti-imperialista”, disse. E arrematou: “A luta continua. Não adianta só dialogar. Tem que ter lado”. Assista: