Paulo Nogueira Batista Jr. critica atuação de Galípolo no Banco Central: "Emparedado por concessões"
Economista afirma que o novo presidente do BC reproduz política de juros altos e alerta para captura da instituição por interesses do sistema financeiro
247 - Em entrevista concedida ao jornalista Leonardo Attuch, editor da TV 247, o economista Paulo Nogueira Batista Júnior fez duras críticas ao presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, e à condução da política monetária no Brasil. Segundo ele, Galípolo encontra-se “emparedado” por compromissos assumidos para chegar ao cargo e pela estrutura de poder do próprio Banco Central, dominada por interesses do mercado financeiro.
“O Galípolo é um sujeito inteligente, muito qualificado, mas para assumir o BC ele teve que fazer várias concessões — de discurso, de posicionamento, de compromissos. E agora está preso nisso. Fácil de entrar, difícil de sair”, afirmou Nogueira Batista, ex-diretor-executivo do FMI e ex-vice-presidente do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB).
Juros altos e submissão ao mercado
O economista avalia que a política de juros está excessivamente restritiva e que as decisões recentes do Comitê de Política Monetária (Copom) apontam para uma continuidade do receituário anterior. “Os juros estão altos demais. Já deveriam ter começado a cair, ou pelo menos ter sido mantidos na última reunião. Caso contrário, o risco é prejudicar gravemente o nível de atividade e o emprego”, alertou.
Ele chamou atenção para o papel do Banco Central na formação das expectativas do mercado, algo que — segundo ele — não é neutro: “O Banco Central não pode ser passivo. Ele também molda expectativas, não apenas reage a elas. Para isso, é preciso coragem e liderança”.
Banco Central capturado
Durante a entrevista, Nogueira Batista apontou o que considera um problema estrutural: a presença de dirigentes do Banco Central com laços diretos com o sistema financeiro. “Se você tem gente no comando do BC que entrou lá pensando em voltar ao mercado e fazer carreira, então você já tem uma situação comprometida”, afirmou.
Ele defendeu a adoção de uma quarentena mais longa e rigorosa para ex-diretores e presidentes do BC, impedindo sua rápida reinserção no setor financeiro. “Hoje a quarentena é ridiculamente baixa: seis meses. Deveria ser de pelo menos dois anos. Só assim iriam para o Banco Central pessoas com espírito público”, disse. Como exemplo do problema, lembrou que o ex-presidente Roberto Campos Neto tornou-se presidente do Nubank poucos meses após deixar o cargo.
Isolamento técnico e fragilidade política
Paulo também criticou o isolamento institucional do Banco Central e a fragilidade de sua direção no enfrentamento do cenário macroeconômico. “Para mudar a política monetária, é preciso ter uma diretoria forte e coesa. E hoje, há ainda dois bolsonaristas na diretoria e uma cultura institucional resistente à mudança.”
Em sua análise, Galípolo — embora bem preparado — enfrenta um ambiente hostil para qualquer tentativa de guinada: “A expectativa que se formou é de que nada mudaria. Isso o amarra. Ele está emparedado pelas concessões que fez e pelas realidades do próprio Banco Central”.
A entrevista completa pode ser assistida no canal da TV 247 no YouTube:
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