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José Bustani: O mundo enfrenta duas guerras ao mesmo tempo e a ONU é incapaz de responder

O ex-diretor-geral da OPAQ afirma que a paralisia do Conselho de Segurança torna urgente a renegociação da Carta das Nações Unidas

José Mauricio Bustani (Foto: ITAMARATY)
Redação Brasil 247 avatar
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247 – Em entrevista ao programa Boa Noite 247, o diplomata José Mauricio Bustani, ex-diretor-geral da Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPAQ), avaliou que o sistema multilateral criado em 1945 já não responde aos conflitos em curso. “Nós estamos num momento de suspensão. No fundo, nós não temos uma paz, nós temos uma suspensão de hostilidades, mas nós estamos em guerra. Nós temos duas guerras acontecendo no mundo”, disse.

Bustani lembrou que a Carta da ONU foi redigida por apenas cinco potências vitoriosas da Segunda Guerra Mundial. “A Carta das Nações Unidas é discriminatória por sua própria natureza. Ela foi uma carta escrita por cinco potências vencedoras da guerra que leva em conta seus próprios interesses”, afirmou. Para ele, o mecanismo do veto individual impede qualquer reação efetiva do Conselho de Segurança diante das crises atuais.

O diplomata avaliou que a erosão das normas internacionais se acelerou após a invasão do Iraque em 2003, realizada sem mandato do Conselho. Desde então, segundo Bustani, governos norte-americanos de diferentes partidos priorizaram a defesa de sua hegemonia e multiplicaram ações militares unilaterais. “O mundo está em guerra e nós não devemos nos iludir com isso”, declarou.

Para superar o impasse, Bustani propôs que a comunidade internacional utilize o artigo 109 da Carta, que permite convocar uma conferência geral de revisão. “Enquanto você não reformar esse sistema de decisão […] as Nações Unidas não funcionam mais”, disse. Ele vê nos BRICS — que reúnem 40 % da população mundial, 37 % do PIB global e três potências nucleares — a massa crítica necessária para abrir as negociações. “Eu não vejo outro caminho a não ser o multilateral. Nós precisamos renegociar a Carta das Nações Unidas utilizando o artigo 109”, concluiu. Assista: 

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