Elias Jabbour: "o alvo final de Trump não é o Irã, mas sim a China"
Para o professor da UERJ, bombardeio ao Irã é parte da estratégia dos EUA para isolar Pequim e sabotar a Nova Rota da Seda. Assista à entrevista na TV 247
247 - Durante participação no programa Boa Noite 247, o professor da UERJ e especialista em geopolítica Elias Jabbour afirmou que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, utiliza a escalada de tensões com o Irã como parte de um plano mais amplo para atingir a China. “O alvo final é a China. Isso é muito claro”, declarou. Para ele, o conflito no Oriente Médio não pode ser compreendido de forma isolada, pois está conectado à tentativa norte-americana de desestabilizar as bases do projeto chinês de integração euroasiática, como a Nova Rota da Seda.
A declaração foi feita no contexto do recente anúncio de Trump sobre um suposto cessar-fogo entre Israel e Irã, que, segundo o norte-americano, teria sido negociado com a “bênção” dos Estados Unidos. Jabbour expressou ceticismo diante da informação: “Eu torço para que esse cessar-fogo seja verdadeiro, mas coloco as minhas interrogações. A vida me ensinou a colocar interrogação em tudo”.
Ao analisar os desdobramentos geopolíticos da ofensiva americana contra o Irã, Jabbour destacou que esse país é um elo essencial da política externa chinesa.
“O Irã é fundamental para a política internacional da China. A Nova Rota da Seda passa por ali. Um trem que liga a China ao Irã foi concluído recentemente. E há um acordo de 2021 prevendo o envio de petróleo iraniano por 20 anos para a China, em troca de investimentos da ordem de 400 bilhões de dólares”.
Para Jabbour, os Estados Unidos operam com o objetivo de cortar esse elo. “O bombardeio ao Irã tem que ser visto como parte de um todo que envolve a tentativa de implodir essa iniciativa. Tudo que os americanos fazem hoje busca o isolamento chinês”, afirmou. Ele mencionou ainda que cerca de 15% do petróleo consumido pela China provém do Irã, o que torna a estabilidade iraniana um ponto estratégico para Pequim.
O analista também ressaltou que o anúncio de cessar-fogo, feito por Trump via rede social, sem confirmação por parte de Teerã ou Tel Aviv, levanta ainda mais dúvidas. “Não existe cessar-fogo em que só um lado se manifesta. O Irã não vai se ajoelhar. O que se propõe a ele é abrir mão de seu programa nuclear e, assim, se colocar contra o próprio povo, que é profundamente nacionalista”.
Para Jabbour, Trump está pressionado internamente por promessas de campanha não cumpridas. “Ele foi eleito para acabar com guerras e agora está envolvido em mais uma. Há uma ansiedade dele em encerrar esse assunto, mesmo que isso seja só propaganda”.
O professor também explicou que a movimentação americana se insere num cenário maior de conflagração global.
“Vivemos um conflito mundial em diferentes níveis. Há guerras híbridas, uso do dólar como arma de coerção econômica e guerras convencionais como a da Ucrânia. Tudo isso indica um mundo em caos sistêmico. A política externa americana, desde Obama, está voltada para conter a China”.
Jabbour concluiu que o Brasil, diante desse cenário, não está preparado. “O país destruiu suas capacidades de reagir a crises internacionais. Pós-golpe de 2016, perdemos mecanismos de defesa econômica. Isso me preocupa profundamente”. Assista:
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