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Antonio Pitanga: “Os negros não querem migalhas; queremos poder, igualdade e voz”

Ator defende protagonismo negro e diz que cotas devem ser transitórias: “Queremos direitos plenos, não concessões”

Antônio Pitanga (Foto: Reprodução Youtube)
Redação Brasil 247 avatar
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247 – Em entrevista ao programa Conversa com Hildegard Angel, da TV 247, o ator Antônio Pitanga emocionou ao rememorar sua trajetória e refletir sobre racismo, cultura, política e ancestralidade. Com 86 anos de vida e mais de seis décadas de carreira, ele afirmou que o povo negro não deve se contentar com “migalhas” e cobrou igualdade efetiva: “Queremos poder, igualdade e voz”.Pitanga recordou sua infância no Pelourinho, Salvador, a entrada tardia no teatro e a acolhida por Glauber Rocha, que o introduziu ao movimento do Cinema Novo. “Foi a cultura que me deu passaporte de cidadão. Era ela que nos dizia: você também pode”, declarou. Na juventude, foi linotipista, tipógrafo e entregador de telegramas antes de conquistar o papel que lhe daria nome artístico: o personagem Pitanga, do filme Bahia de Todos os Santos, de 1959.

Ao longo da conversa com Hildegard, o ator expôs a marginalização histórica da cultura e do artista negro no Brasil. Lembrou que, quando começou, ser ator era socialmente comparado a ser “prostituta” e que o preconceito racial no meio artístico se somava à discriminação de classe. “A classe artística já sofria preconceito. Nós, negros, sofriamos duas vezes.”

Em sua fala mais contundente, Pitanga defendeu as ações afirmativas, mas alertou que não podem ser vistas como solução permanente. “As cotas são necessárias, mas têm que ter tempo de validade. Num país democrático, os direitos têm que ser iguais. Eu não posso depender de leis para provar que existo”, disse. Ele também apontou: “O negro precisa entender que se não ocupar a política com o seu voto, continuará pedindo licença para existir”.

Casado com Benedita da Silva, ex-governadora e atual deputada federal, Pitanga também falou sobre a importância de legislações como a PEC das Domésticas e a lei de combate ao racismo, destacando o papel de figuras como Abdias do Nascimento, Edson Santos e Carlos Alberto Caó. Mas criticou a ausência de reconhecimento a essas lideranças: “O Brasil não reconhece que essas leis foram construídas por negros”.

A entrevista foi marcada por relatos pessoais potentes: da infância em uma pensão ao lado de uma casa-grande, passando pela convivência com Mãe Menininha do Gantois, pelas amizades com Fernanda Montenegro e Chico Buarque, até sua luta como vereador na criação do Centro de Música Popular Brasileira e a renomeação do túnel Zuzu Angel. Pitanga também lamentou a desumanização no mundo contemporâneo, especialmente diante da violência policial e dos genocídios em curso: “Antes, uma tragédia fazia a gente parar. Hoje, é só mais uma. Passa o sal”.

Mesmo com décadas de lutas e conquistas, o ator afirma que o grito por justiça ainda pulsa forte: “Eu quero mais. Quero igualdade plena. Não está no branco fazer a lei. Está em nós, negros, entender nosso valor e ocupar nosso lugar”. Assista: 

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