“Acabou a coalizão de Lula; agora é guerra com mísseis e drones", diz Moisés Mendes
Colunista da TV 247 avalia que é hora de Lula ampliar suas alianças com o centro e reforçar a comunicação
247 – O jornalista e colunista Moisés Mendes avaliou, em entrevista ao programa Boa Noite 247, que a relação entre o governo Lula e o Congresso Nacional entrou em uma nova e conflituosa fase. “Numa guerra, não se briga mais com flecha; agora é com mísseis e drones”, afirmou. Para ele, houve uma ruptura irreversível na lógica de coalizão política que sustentou os governos petistas desde 2003.
A entrevista foi conduzida por Leonardo Sobreira e aconteceu logo após a derrubada, na Câmara dos Deputados, do decreto presidencial que elevava a alíquota do IOF sobre operações de crédito. Mendes entende que esse episódio marca uma inflexão no relacionamento entre os poderes. “O governo de coalizão não vai se desfazer formalmente, mas vai funcionar de forma precária até 2026. A convivência virou confronto permanente”, disse.
Haddad veste o uniforme do embate
O comentarista também destacou a mudança de postura do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, como sinal dessa nova fase. “Ele vai para o embate. A palavra está na fala dele. Não somos nós que estamos interpretando”, afirmou Mendes, referindo-se à declaração de Haddad em palestra na USP: “Não é hora de se recolher, agora é hora de vestir o uniforme do embate, do bom debate público, da disputa por ideias”.
Para Mendes, o enfrentamento se dá no momento em que o governo colhe bons indicadores econômicos, mas lida com a dificuldade de traduzir esses resultados em apoio popular. “O governo oferece inflação sob controle, crescimento do PIB, emprego... Mas as pessoas não percebem esses dados como percebiam antes. A segurança virou tema central e isso é um déficit das esquerdas”, pontuou.
A disputa pelo centro e o desafio da comunicação
Diante do esgarçamento da aliança governista, Moisés Mendes defende que Lula busque recompor forças mirando o centro político. Ele relembrou a estratégia da Frente Ampla no Uruguai, que recuperou o poder ampliando alianças com setores moderados. “Aqui não tem mais onde ampliar pela esquerda. Nós vamos ter que correr para o centro, chamar mais gente para dentro da frente”, avaliou.
Outro eixo do problema, segundo o jornalista, está na comunicação: “A imagem da balança dos ricos e dos pobres não alcança as pessoas. Ela é simbólica demais, genérica demais. Nós vamos ter que conversar com influenciadores que os mandatos não alcançam. As velhas caras do PT não falam mais com as pessoas como no século passado”.
A isenção do IR como batalha simbólica
A proposta de isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil mensais, carro-chefe da política econômica do governo para a classe média, também foi alvo da conversa. Para Mendes, a resistência do Congresso a essa medida “escancara a sabotagem dos interesses populares”. Ele ironizou: “Chegamos ao ponto de ter que puxar o Arthur Lira como relator para salvar uma proposta como essa. Isso era consenso há pouco tempo. Hoje, é motivo de embate”.
O colunista vê nessa resistência um sintoma claro de luta de classes. “É o velho confronto: os interesses dos pobres contra os interesses dos ricos. Mas como comunicar isso? Como fazer essa conversa chegar nas pessoas?”, questionou.
A hora de enfrentar
Moisés encerrou a entrevista com uma defesa do enfrentamento político, ainda que reconheça não haver respostas fáceis. “Nós, jornalistas, temos que seguir perseguindo perguntas que levem a algum consenso, se é que existe algum hoje. Eu não tenho respostas. Mas sei que não dá mais para seguir como antes”.
Segundo ele, é preciso combinar firmeza institucional, capacidade de articulação com o centro político e, sobretudo, uma nova linguagem que ressoe com o sentimento popular. “A realidade mudou, e a política precisa acompanhar”. Assista:
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