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Às vésperas do fim de trégua no tarifaço, investidores apostam em novo recuo de Trump

Mesmo sem acordos concretos, mercado mantém alta, impulsionada por otimismo com a economia e baixa volatilidade

Presidente dos EUA, Donald Trump, ao lado do secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, enquanto Trump faz anúncio sobre tarifas na Casa Branca, em Washington, D.C., Estados Unidos - 2/04/2025 (Foto: Secretário de Comércio dos EUA diz que produtos eletrônicos isentos serão submetidos a tarifas separadas)
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247 - Com o prazo para o fim da pausa tarifária do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, se aproximando — marcado para 9 de julho —, as negociações comerciais com parceiros estratégicos continuam travadas e sem acordos definitivos. 

Ainda assim, os mercados acionários parecem pouco preocupados. Segundo reportagem da Bloomberg, os índices acionários seguem próximos de suas máximas históricas e a volatilidade praticamente desapareceu.

Uma das razões para essa calmaria está no padrão já conhecido de atuação do presidente, apelidado por analistas como “TACO” — sigla para “Trump Always Chickens Out”, ou “Trump sempre recua”. A expectativa é que, como já fez antes, o republicano recue mais uma vez e prorrogue a suspensão das tarifas. Mas há outros fatores em jogo: a economia norte-americana permanece robusta, e as empresas parecem absorver os efeitos das políticas comerciais sem grandes danos — ao menos por enquanto.

“Há ainda atenção sobre o dia 9 de julho, mas muitos outros fatores estão sendo observados atualmente”, disse Michael Kantrowitz, estrategista-chefe da Piper Sandler & Co. “Mais uma vez, os investidores estão menos preocupados. Na ausência de um salto nos juros, na inflação ou no desemprego, as ações devem continuar subindo.”

Rali liderado por tecnologia atrai investidores institucionais

O S&P 500 encerrou seu melhor trimestre desde dezembro de 2023, superando brevemente a marca de 6.200 pontos. O Nasdaq 100, fortemente concentrado em tecnologia, teve desempenho ainda melhor — seu melhor trimestre desde março do ano passado. Ambos vinham de perdas no primeiro trimestre.

Investidores institucionais, que se mantiveram cautelosos durante a disparada de 25% desde abril, estão gradualmente voltando ao mercado. Segundo a Bloomberg, até mesmo as estratégias sistemáticas — que seguem algoritmos — aumentaram sua exposição a ações na última semana, embora ainda operem abaixo da média histórica.

Steven Chiavarone, gestor da Federated Hermes, avaliou em entrevista que os ganhos recentes deixaram de ser apenas um “rali de alívio” e começaram a se tornar algo mais consistente. “É isso que atrai esses investidores — lenta e relutantemente”, afirmou.

Riscos seguem no horizonte, mas mercado aposta no adiamento

Mesmo com os avanços, ainda há riscos consideráveis. Se Trump não estender o prazo da pausa tarifária, países que não tiverem acordo bilateral assinado até 9 de julho enfrentarão tarifas anunciadas em abril, bem superiores à atual taxa-base de 10% — conhecida como “taxa recíproca”.

O Reino Unido conseguiu reduzir algumas tarifas propostas, mas manteve essa taxa recíproca e deixou pendente o impasse sobre o aço, que segue com tarifa de 25%. Já Estados Unidos e China firmaram um entendimento preliminar, conforme declarou o secretário de Comércio, Howard Lutnick, mas o acordo está longe de ser abrangente. Enquanto isso, Trump ameaça impor tarifas mais agressivas ao Japão.

“Não temos nenhum grande acordo comercial. Temos alguns memorandos de entendimento e compromissos para avançar, mas nada concreto”, avaliou Kate Moore, diretora de investimentos da unidade de riqueza do Citigroup. “Para ser muito honesta, estou surpresa com o fato de o mercado não se importar com isso. É por isso que essa alta não parece ser movida por fundamentos, apesar da força de setores como tecnologia e inteligência artificial.”

Perspectiva de continuidade: economia forte e apetite por risco

Para Andrew Tyler, chefe de inteligência de mercado global do JPMorgan, o ambiente atual é “positivamente favorável”. O banco projeta uma sequência de novos recordes nas bolsas, à medida que os lucros das empresas continuam a surpreender positivamente. Tyler observa com atenção o relatório de empregos não agrícolas, que será divulgado na quinta-feira. Se os números superarem 100 mil vagas, o mercado deverá manter o ritmo de alta. A previsão mediana dos economistas consultados pela Bloomberg é de 110 mil.

Fatores como a desregulamentação bancária, os investimentos das gigantes de tecnologia em IA e o pacote fiscal de US$ 3,3 trilhões aprovado no Senado (em votação apertada de 51 a 50, com voto de minerva do vice-presidente J.D. Vance) são citados por analistas como estímulos adicionais ao crescimento econômico. A proposta, no entanto, ainda precisa ser aprovada na Câmara.

Mesmo com o otimismo generalizado, alguns estrategistas mantêm cautela. “Ainda vamos acabar com tarifas elevadas e absorver esse custo em algum momento”, alertou Altmann, do Barclays. “É um mercado em que é difícil projetar além das próximas quatro semanas. E é ainda mais difícil formar uma opinião sólida sobre eventos que podem — ou não — ocorrer em seis meses.”

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