Acordo comercial entre EUA e Vietnã segue em negociação, mesmo após anúncio unilateral de Trump
Presidente dos EUA anunciou a imposição de tarifas de até 40%, mas governo vietnamita diz que termos ainda estão sendo definidos pelos dois países
247 - O acordo comercial entre Estados Unidos e Vietnã, anunciado unilateralmente pelo presidente norte-americano Donald Trump nesta quarta-feira (2), continua sem definição formal.
Segundo informações da Bloomberg, o Ministério das Relações Exteriores do Vietnã informou nesta quinta-feira (3) que os negociadores ainda estão trabalhando junto aos representantes dos EUA para concluir os termos do pacto, especialmente no que diz respeito à aplicação concreta das tarifas comerciais divulgadas.
Trump declarou que o entendimento prevê a imposição de uma tarifa de 20% sobre as exportações vietnamitas aos Estados Unidos e uma sobretaxa de 40% sobre produtos considerados transbordados — ou seja, bens chineses redirecionados via Vietnã para evitar sanções. O presidente dos EUA também afirmou que o Vietnã teria aceitado eliminar todas as tarifas sobre produtos importados de origem americana. No entanto, até o momento, nenhuma das partes divulgou documentos técnicos que detalhem o funcionamento do acordo.
Falta de clareza preocupa indústria exportadora
Para o setor produtivo vietnamita, a ausência de informações oficiais tem gerado apreensão. “O anúncio de Trump nos deixou com muitas dúvidas”, afirmou Ngo Sy Hoai, vice-presidente e secretário-geral da Associação de Produtos de Madeira e Florestais do Vietnã. “Precisamos de mais clareza para compreender plenamente como essa tarifa de 20% será aplicada em diferentes produtos e setores”, alertou o dirigente.
Antes do anúncio, havia temor de que as taxas pudessem chegar a 46%. A fixação do teto em 20% foi inicialmente recebida como um alívio, mas a indefinição persiste sobre o alcance da medida, os setores afetados e as formas de fiscalização.
Pressões diplomáticas e dependência da China dificultam consenso
O Vietnã representa um caso delicado para a Casa Branca. Por um lado, é visto por conselheiros de Trump como parceiro estratégico na contenção da China na Ásia. Por outro, seus produtos já ocupam espaço significativo no mercado norte-americano, sendo parte do cotidiano de consumo nos Estados Unidos.
“Ainda com a tarifa de 20%, produzir no Vietnã continua sendo mais atrativo do que na China”, avaliou Trinh Nguyen, economista sênior do banco francês Natixis. Para ela, o país asiático continua sendo “um lugar de baixo custo e com foco em comércio”, o que reforça seu papel na cadeia global de produção.
Ainda assim, os EUA exigem contrapartidas: querem mais rigor do Vietnã no combate à fraude comercial e no controle de transbordos, além da remoção de barreiras não tarifárias. A dificuldade está em como implementar essas exigências. Cerca de 38% das importações do Vietnã em 2024 vieram da China, segundo dados alfandegários, o que torna o país altamente dependente de matéria-prima chinesa para sustentar sua indústria de exportação.
Reação da China e dúvidas do setor privado norte-americano
A China já indicou que pode retaliar, caso o acordo com o Vietnã afete seus interesses — um sinal claro de que as tensões comerciais com os Estados Unidos podem se intensificar à medida que Washington fecha novos pactos na Ásia.
Do lado norte-americano, as dúvidas também são numerosas. Adam Sitkoff, diretor-executivo da Câmara Americana de Comércio em Hanói, afirmou que ainda é impossível avaliar os reais impactos da medida. “É difícil saber o que essas tarifas significam sem mais detalhes”, disse. Ele questiona se os 20% se somam a taxas já existentes ou se esse será o valor total, e o que exatamente será enquadrado nos 40%. “As respostas a essas perguntas podem representar a diferença entre comemorar ou chorar”, concluiu.
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