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Acordo comercial entre EUA e Vietnã segue em negociação, mesmo após anúncio unilateral de Trump

Presidente dos EUA anunciou a imposição de tarifas de até 40%, mas governo vietnamita diz que termos ainda estão sendo definidos pelos dois países

Funcionários trabalham em uma fábrica de calçados para exportação em Hanói, Vietnã, 29 de dezembro de 2020 (Foto: REUTERS/Kham)
Luis Mauro Filho avatar
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247 - O acordo comercial entre Estados Unidos e Vietnã, anunciado unilateralmente pelo presidente norte-americano Donald Trump nesta quarta-feira (2), continua sem definição formal. 

Segundo informações da Bloomberg, o Ministério das Relações Exteriores do Vietnã informou nesta quinta-feira (3) que os negociadores ainda estão trabalhando junto aos representantes dos EUA para concluir os termos do pacto, especialmente no que diz respeito à aplicação concreta das tarifas comerciais divulgadas.

Trump declarou que o entendimento prevê a imposição de uma tarifa de 20% sobre as exportações vietnamitas aos Estados Unidos e uma sobretaxa de 40% sobre produtos considerados transbordados — ou seja, bens chineses redirecionados via Vietnã para evitar sanções. O presidente dos EUA também afirmou que o Vietnã teria aceitado eliminar todas as tarifas sobre produtos importados de origem americana. No entanto, até o momento, nenhuma das partes divulgou documentos técnicos que detalhem o funcionamento do acordo.

Falta de clareza preocupa indústria exportadora

Para o setor produtivo vietnamita, a ausência de informações oficiais tem gerado apreensão. “O anúncio de Trump nos deixou com muitas dúvidas”, afirmou Ngo Sy Hoai, vice-presidente e secretário-geral da Associação de Produtos de Madeira e Florestais do Vietnã. “Precisamos de mais clareza para compreender plenamente como essa tarifa de 20% será aplicada em diferentes produtos e setores”, alertou o dirigente.

Antes do anúncio, havia temor de que as taxas pudessem chegar a 46%. A fixação do teto em 20% foi inicialmente recebida como um alívio, mas a indefinição persiste sobre o alcance da medida, os setores afetados e as formas de fiscalização.

Pressões diplomáticas e dependência da China dificultam consenso

O Vietnã representa um caso delicado para a Casa Branca. Por um lado, é visto por conselheiros de Trump como parceiro estratégico na contenção da China na Ásia. Por outro, seus produtos já ocupam espaço significativo no mercado norte-americano, sendo parte do cotidiano de consumo nos Estados Unidos.

“Ainda com a tarifa de 20%, produzir no Vietnã continua sendo mais atrativo do que na China”, avaliou Trinh Nguyen, economista sênior do banco francês Natixis. Para ela, o país asiático continua sendo “um lugar de baixo custo e com foco em comércio”, o que reforça seu papel na cadeia global de produção.

Ainda assim, os EUA exigem contrapartidas: querem mais rigor do Vietnã no combate à fraude comercial e no controle de transbordos, além da remoção de barreiras não tarifárias. A dificuldade está em como implementar essas exigências. Cerca de 38% das importações do Vietnã em 2024 vieram da China, segundo dados alfandegários, o que torna o país altamente dependente de matéria-prima chinesa para sustentar sua indústria de exportação.

Reação da China e dúvidas do setor privado norte-americano

A China já indicou que pode retaliar, caso o acordo com o Vietnã afete seus interesses — um sinal claro de que as tensões comerciais com os Estados Unidos podem se intensificar à medida que Washington fecha novos pactos na Ásia.

Do lado norte-americano, as dúvidas também são numerosas. Adam Sitkoff, diretor-executivo da Câmara Americana de Comércio em Hanói, afirmou que ainda é impossível avaliar os reais impactos da medida. “É difícil saber o que essas tarifas significam sem mais detalhes”, disse. Ele questiona se os 20% se somam a taxas já existentes ou se esse será o valor total, e o que exatamente será enquadrado nos 40%. “As respostas a essas perguntas podem representar a diferença entre comemorar ou chorar”, concluiu.

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